Fugas - dicas dos leitores

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Sal, no stress fora de portas

Cruzamos a planície árida com o Monte Leão ao nosso lado. Os cabo-verdianos deram este nome ao monte porque viam nele a figura de um leão sentado. Depois de várias idas e voltas entre Santa Maria e a capital, é impossível acabar com esta associação. Um leão. Não poderia ser outra coisa.

Já em Espargos, o ritmo é diferente. Pessoas que regressam do trabalho e se demoram nos passeios em frente aos cafés a saborear a cerveja nacional ou, invariavelmente, uma mini de marca portuguesa. Aqui os turistas raramente chegam sozinhos. Em grupos, são largados nos mercados de artesanato e terminam o giro no miradouro. Mas, se houver tempo, que o há de sobra, é preciso regressar e demorar-se. Mesmo que aparentemente tudo indique que Espargos não passa de uma cidade-dormitório. Só assim se pode sentir o pulso à morabeza deste povo. Um sentimento tão difícil de explicar como a nossa saudade.

É sentar na praça principal e ficar a ver as mulheres que carregam pesados cestos de bananas à cabeça, as donas de casa que compram o peixe da manhã em cada esquina, os velhos que jogam cartas a escudos, as crianças que chegam da escola no seu uniforme de azul bebé, os bares onde mais tarde se pode ouvir música ao vivo.

Alguém chama por nós e nos lembra que é tempo de partir, ainda que a vontade seja de ficar. “Santa Maria?” Na carrinha de pouco mais de dez lugares, somos apenas duas. Duas turistas. Mas num giro de cinco voltas pela cidade, umas quantas paragens, buzinadelas, gritos em português e crioulo “Santa Maria? Santa Maria?”, rapidamente chegamos à quinzena.

Nessa noite os bares da cidade mais turística de Sal estão, como é habitual, cheios de surfistas, que conversam alegremente com locais. Mas a música não se ouve no exterior como nos dias anteriores. Alguém conta que o país está de luto. Morreu um homem muito importante para Cabo Verde. Pergunto como se chama. Nelson Mandela. Certo. Estamos em África, ainda que em todo o tempo me tenha sentido em casa.

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