Começando pela ilha de São Miguel, vale a pena passar pela Caldeira Velha, Monumento Natural e Regional, que se situa na Ribeira Grande e se apresenta como uma reserva da biosfera de grande importância para a botânica e faunas típicas das florestas da laurisilva, dada a grande diversidade de espécies e a elevada abundância de fetos arbóreos que povoam este monumento natural, principalmente devido ao clima muito próprio que estimulou o aparecimento de vegetação natural e de espécies exóticas. A água quente convida a uns banhos revigorantes.
Subindo um pouco, espera-nos a imponente lagoa do Fogo. Situada no maciço central da serra de Água de Pau, a segunda maior lagoa da ilha e a que permanece ainda em estado selvagem. Com as suas vertentes repletas de vegetação endémica, este lugar está classificado como Zona Especial de Conservação e integra a Rede Natura 2000 e é uma das sete maravilhas na categoria de praias selvagens. Descendo por um caminho estreito e sinuoso, a recompensa ao chegar lá baixo é fabulosa. O silêncio quase absoluto, só interrompido pelas gaivotas que se sentem invadidas no seu espaço. Se existe paraíso, este é decerto um dos seus recantos.
No lado sul da ilha, não podemos deixar de visitar o ilhéu de Vila Franca do Campo: um pequeno ilhéu de origem vulcânica e que dista cerca de 500 metros da costa de Vila Franca e 1200 metros do cais do Tagarete, no centro da vila. Deste porto existem ligações regulares com o ilhéu durante a época balnear. Não esqueço o dia quando aí nadava e entrou na pequena praia um cardume de peixes, talvez perseguido por algum golfinho. A cena surpreendeu todos os banhistas. Por momentos, o mar ficou prateado. Fabuloso!
Dando um salto à ilha das Flores, o ponto mais ocidental do arquipélago dos Açores e do continente europeu e que se situa a cerca de 27,8 km (15 milhas náuticas) do Corvo, apercebemo-nos que a natureza foi generosa com esta ilha. A vegetação luxuriante e as quedas de água em direcção ao mar impressionam.
Apanhado o barco, em poucos minutos chegamos ao Corvo. A ilha ocupa uma superfície total de 17,13 km², com 6,5km de comprimento por 4km de largura. É formada por uma única montanha vulcânica extinta — o Monte Gordo, coroado com uma ampla cratera de abatimento chamada localmente de Caldeirão, com 3,7km de perímetro e 300 metros de profundidade e onde se aloja a lagoa do Caldeirão. Nela podemos observar várias lagoas, turfeiras e pequenas “ilhotas” ladeadas por hortênsias. Aí, as vacas, pastam calmamente num cenário idílico.
Não poderá faltar uma passagem, ainda que breve, pela ilha do Pico. Já passaram dez anos desde que as suas vinhas se tornaram Património da Humanidade pela UNESCO. Quando, em 1962, Raul Brandão passou por estas ilhas e escreveu As Ilhas Desconhecidas ficou impressionado com a montanha do Pico e não se esqueceu das vinhas: “No instante em que o Pico se revela erguido até ao céu e as manchas violetas das ilhas têm a cor passada da nuvem que vai desfazer-se, uma nuvem branca e esguia cortou o Pico pelo meio e o cone sai da nuvem suspenso no ar por milagre. A vinha tem fama no mundo, o vinho branco do Pico, feito de verdelho e criado na lava, é um líquido com um pique amargo, cor de âmbar e que parece fogo. Levantam uma pedra, atiram um punhado de terra para o buraco e a videira deita raízes como pode, abrigada no curral pelos muros e estendida no chão sobre calhaus. Só lhe levantam um pouco as varas quando o cacho está perto de amadurecer.”
O Pico já deu milhares de pipas de vinho, que exportava quase na totalidade para a Rússia — segundo reza a história, a czarina não prescindia desse néctar.
” O Pico é a mais bela, a mais extraordinária ilha dos Açores, duma beleza que só a ele lhe pertence, duma cor admirável e com um estranho poder de atracção. É mais do que uma ilha — é uma estátua erguida até ao céu e amolgada pelo fogo —, é outro Adamastor como o do Cabo das Tormentas.” (Brandão, Raul. As ilhas desconhecidas.)
As ilhas que não referi merecem todas elas uma visita, quer pela sua singularidade, quer pela sua beleza.