Fugas - dicas dos leitores

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Carta da Coreia do Norte

O hotel onde ficámos era simplesmente um dos melhores de Pyongyang — duas torres enormes (mais de 50 andares, dando a ideia de estar grande parte desocupada), quartos enormes (até hall de entrada tinham) com decoração dos anos 1980 e vários restaurantes, entre eles o restaurante giratório no topo, onde jantámos — sempre nos levaram a restaurantes para os padrões coreanos muito bons, mas foi o único lugar onde se pode dizer que a comida estava boa.

A pobreza e isolamento do país vêem-se também assim — mesmo tentando dar o melhor aos turistas, havia coisas, como a carne, que se via que não eram de grande qualidade. Depois de jantar ainda fomos a um dos bares da moda, meio vazio, e onde vivenciámos outra carência — não estávamos lá ainda há meia hora e faltou a luz. O dia não terminou sem que fizéssemos uma partidinha de pingue-pongue no hotel, desporto muito famoso.

No dia seguinte acordámos com um nevão tão grande e prolongado como não me lembro de ter visto.

Fomos novamente ao memorial, para agora o vermos com luz do dia. Havia filas enormes de pessoas que estavam à espera para prestar homenagem, algo que pelos vistos acontece com frequência e mais ainda nos dias especiais — fazia quatro anos que Kim Jong-un acedeu à cadeira da liderança. A primeira foto que vos envio é exactamente deste momento.

Seguiu-se um passeio a pé que nos levou do memorial à praça principal. Depois apanhámos o transporte para irmos visitar e subir à torre Juche, com os seus 170 metros de altura (a ideologia juche é marxismo-leninismo-kimilsunismo). Pode-se ver também a estátua com os três elementos importantes do partido Comunista da Coreia do Norte — o martelo, a foice e, agora a inovação, a pena para escrever.

A vista não estava particularmente agradável, por causa do forte nevão. Contudo, há outra história para partilhar. À entrada da torre foram colocadas várias placas, oferecidas por grupos, normalmente um de cada país — quem haveria de ter quatro placas? Portugal. E mais, fiquei a saber que existe pelo menos um Comité Português de Estudo do Kimilsunismo (e com quatro grupos — Queluz, Lisboa, Amadora e Estoril)!

À tarde começámos no novo museu militar, uma das principais obras mandadas construir pelo novo líder. Numa parte do museu estão exibidas as armas capturadas de 1950 a 1953 aos americanos (tanques, helicópteros, aviões abatidos…). Mas a jóia da coroa é posterior, de 1968, quando foi preso um barco supostamente espião, e toda a tripulação americana — o USS Pueblo —, até vídeo sobre isso fomos obrigados a assistir (a tripulação esteve quase um ano presa e só foi libertada após carta oficial do Governo americano, a pedir desculpa). Outra coisa caricata do museu é ver o rosto do actual líder em muitos quadros, como se ele na década de 1950 já fosse vivo.

Um dos últimos lugares que visitámos foi a suposta casa onde nasceu o “Grande Líder”, Kim Il-sung, avô do líder actual — fica num parque bonito, mas dá a ideia de ser uma grande invenção. Já no final do dia, a nosso pedido, fomos ao circo. O espectáculo foi bonito.

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