Nalguns desfiladeiros e altos penhascos, apenas alguns musgos e líquenes, algumas manchas verdes, rasteiras, muito junto ao chão, algumas flores minúsculas, efémeras. Apenas em Julho e Agosto, graças à fertilização natural dos milhares de pássaros que por aqui nidificam nos meses de Verão, para desaparecerem e voarem para Sul (Norte da Noruega) nos meses de Inverno. Estes ninhos e respectivos ovos são o paraíso das furtivas raposas do Árctico, nestas paisagens mais assustadoramente infernais do que paradisíacas. Sobreviver neste arquipélago é uma arte que está muito para além do aparecimento do homem na Terra.
Estas montanhas existem há milhões de anos e raros foram os homens que as viram e muito menos os que as pisaram. A natureza no seu estado puro e selvagem. O tempo geológico quase incompreensível para o ser humano, tão frágil e tão efémero, apesar da sua arrogância.
Há milhões de anos a terra de Svalbard ergueu-se e formou as suas montanhas. Por esse motivo, em 2016, encontramos fósseis marinhos no cimo dessas montanhas, pegadas de dinossauros e muitas minas de carvão no interior dessas espantosas, inóspitas e estéreis montanhas. São os vestígios de enormes florestas que desapareceram há milhões de anos.
O homem descobriu Svalbard em 1596 (a presença dos vikings, no século XI, não está comprovada), quando o navegador holandês Willem Barentsz tentava descobrir uma passagem para o Oriente navegando pelo Norte (ao contrário dos portugueses, que navegavam pelo Sul). Nos quatrocentos anos seguintes, no Verão, as águas de Svalbard foram frequentadas essencialmente por caçadores de baleias e de morsas.
Ao longo do século XX, suecos, noruegueses e russos interessaram-se pela exploração do carvão existente no interior das montanhas. Foram construídas pequenas localidades mineiras que extraíam o carvão das entranhas da Terra. As condições de trabalho eram duríssimas. Os mineiros chegaram a ser milhares.
Em 2016, quase todas as minas fecharam. Longyearbyen procura reinventar-se para o turismo e para a ciência, exploração espacial, climatérica, geológica. A universidade recebe cerca de duas centenas de estudantes oriundos de vários países (incluindo Portugal), os museus polares são apelativos e já receberam prémios, a estação de observação do universo possui imponentes telescópios, os cientistas polares permanecem na zona. Turismo e ciência poderão ser o futuro da cidade.
Viajar até Svalbard é uma viagem ao passado longínquo do planeta mas também ao futuro próximo do mesmo planeta. As alterações climáticas, o degelo dos glaciares, o aquecimento climatérico deixam marcas muito visíveis em Svalbard. Arquipélago paradoxalmente inóspito e assustador, mas igualmente frágil e vulnerável aos desvarios da inconsciência e da ignorância humana.
Tantas histórias para contar acerca de Svalbard…