O mesmo aconteceria no bar-restaurante que na primeira noite pareceu demasiado despido ao ponto de se tornar desconfortável. Os faustosos pequenos-almoços, servidos nesse mesmo espaço ou a festa frenética do dia seguinte acabariam por lhe imprimir a vida que não reconhecera aquando a primeira visita.
Nos quartos, porém, não é difícil sentir conforto logo à chegada. Primeiro, pelas vistas: seja virado para o nascer ou para o pôr-do-sol. Depois, pela cama, cujo colchão foi garantia de duas noites repousadas e de acordar fácil pela manhã. Mas sobretudo pelo aspecto limpo quer da disposição do espaço, quer da escolha da decoração e mobiliário. Com um vidro a dividir a espaçosa casa de banho da zona de dormir, o espaço onde ficamos é prova de que Ellen van Loon conseguiu o objectivo de tornar os quartos deste hotel "simples" tal como planeara.
Mas, descobrimos em conversas de corredor, nem tudo foi fácil: a arquitectura pretendia usar um vidro liso na separação dos espaços para que tudo fosse translúcido e a casa de banho pudesse beneficiar de toda a luz natural e vista; a administração dos NH Hoteles insistiu no resguardo da intimidade. Acabaram por concordar com um vidro liso, a deixar passar a luz, mas cuja translucidez é quebrada pela existência de inúmeros pontinhos foscos — uma escolha que, de cada vez que se entra na casa de banho, faz sentido. Outro ponto de discórdia seria o funesto, mas bastante útil sobretudo para quem viaja em negócios, aparelho de televisão. Pelo atelier este seria anulado, mas a NH Hoteles não o poderia admitir. Assim, a tv faz parte das funcionalidades do quarto, assim como um minibar, uma máquina de café expresso ou uma chaleira eléctrica, mas está completamente oculto atrás de um enorme espelho. À vista funciona, embora persistam dificuldades em operar o comando devido à grossura do espelho.
Mas nem tudo foram discórdias: o cadeirão aveludado que habita os vários quartos foi uma escolha da NH prontamente aceite pelos arquitectos, enquanto a ideia de deixar entrar o ar nos quartos, algo incomum num hotel de cidade com esta altura, foi claramente abraçada pela administração do grupo. Assim, é possível logo pela manhã sentir a maresia abrindo uma pequena fresta incorporada nos janelões que vão do chão ao tecto e deixar o ar fresco invadir o quarto.
Uma cidade, um edifício
Quatro anos foi o tempo suficiente para que a moldura arquitectónica de Roterdão mudasse. Tudo por causa do De Rotterdam que tem como vizinhança uma torre com a assinatura do português Siza Vieira. Mas é a visão do De Rotterdam, ao atravessar a ponte Erasmus, que mais respeito impõe.
Nem que seja pelo tamanho: o edifício assenta numa base com uma dimensão aproximada a um campo de futebol, assumindo-se primeiro como um bloco único para posteriormente dividir-se em três torres em aço e betão, forradas a vidro (foram necessários 50.000m2 de vidro), que tão depressa parecem distantes como a seguir aparentam se tocar. Subitamente, mais parece que se está a entrar em Manhattan em vez de se estar a chegar à zona de Roterdão onde até há poucos anos se amontoavam os armazéns abandonados do porto — alguns ainda resistem, mas quase todos têm os destinos definidos, o que contribuirá "para mudar o rosto do lado sul e pobre da cidade", dizem-nos.