Os números impressionantes continuam a surgir à medida que se vai reunindo informação sobre o edifício: na totalidade dos pisos, esta "cidade vertical" tem 160.000m2 de área e pesa qualquer coisa como 230.000 toneladas.
O peso, numa cidade assente em areias e lamas e sem rocha, foi aliás um dos problemas com que se teve de lidar. Assim, as fundações das torres mergulham 22 metros sob a superfície. E, mesmo assim, devido à diferença de pesos entre as torres, foi necessário mover os pilares a meio da obra até toda a estrutura estabilizar, uma vez que uma das composições parecia querer afundar-se. O mecanismo que permitiu este joguete é visível naquele que será o átrio de entrada de acesso aos escritórios, já depois de se ter passado pela área de lazer e restauração, no piso térreo, e pelos cinco pisos de estacionamento que se seguem — e que, num futuro próximo, integrarão um centro de fitness.
Com os escritórios a invadirem os andares sobre o hotel e a torre central, e que irão receber toda a estrutura governamental, falta um dos propósitos que foi guardado para a última torre. Nesta, os andares são compostos por residências para venda e aluguer. Devidamente resguardada (e guardada), a torre será apenas acessível a quem comprar ou alugar uma penthouse ou apartamento, cujas dimensões vão dos 60m2 aos 250m2 (com varanda). Disponíveis, uma série de serviços que basicamente garantem que tudo o que os proprietários / arrendatários precisarem seja providenciado — desde a manutenção até à limpeza, não esquecendo a segurança.
Assim que todo o edifício estiver ocupado, então perceber-se-á a primordial intenção do OMA — criar uma microcidade, "onde se vive, trabalha e se diverte, em que a qualquer momento do dia ou da noite há sempre algo a acontecer".
Reconstruir, reconstruir
Após apenas dois dias na cidade, penso que este poderia ser um lema que distinguisse os roterdamenses. O nosso guia, um jovem arquitecto da Rotterdam ArchiGuides, durante um circuito pela arquitectura da cidade, confirma as suspeitas quando, peremptoriamente, afirma: "quando um edifício entra em desmoda simplesmente vem abaixo e constrói-se outro no mesmo sítio, mais moderno". É o caso do prédio alto para o qual ele aponta enquanto explica que a arquitectura dos anos de 1960/1970 é, basicamente, considerada hoje como muito feia e por essa razão o destino daquele mesmo edifício está traçado: ser demolido.
O pouco apego afectivo às construções não é a despropósito. Roterdão, sobretudo a sua parte mais antiga, constituída por muitas casas datadas do período medieval, foi arrasado durante a II Guerra Mundial. A 14 de Maio de 1940, um ataque aéreo das forças germânicas atingiu o coração da cidade: perto de mil mortos e 80 mil desalojados são números que não passam de estimativas. Estima-se ainda que mais de 25 mil fogos desapareceram e que 24 igrejas e 62 escolas foram destruídas. Primeiro pelas bombas, depois pelas chamas que rapidamente se alastraram, beneficiando do caos, das ruas muito estreitas, das edificações velhas. Só no dia seguinte o incêndio seria contido.