É um fim de tarde quente e dourado neste Algarve afastado na medida certa da praia: não são mais do que seis, sete quilómetros e esta é uma distância que nos dá conforto. Queremos sol e mar? Menos de dez minutos por uma estrada tranquila e aqui estamos nós: Altura, Manta Rota, é escolher o que mais nos convém. Se, por outro lado, o que nos apetece mesmo é uma piscina só para nós, rodeada de relvados cuidados e embalada pelo canto dos pássaros, então nem sequer saímos de casa.
Estamos no Monte Rei Golf & Country Club, nas Sesmarias, Vila Nova de Cacela. Somos só dois, mas a “nossa” casa dá para uma família inteira: três quartos, sala avantajada, cozinha equipada com tudo e mais alguma coisa, lavandaria, terraço, varanda. Apetece não sair daqui e é por isso que saímos: optamos por um jantar caseiro, mas precisamos de um supermercado. E eis-nos, então, neste fim de tarde quente e dourado, a atravessar a localidade de Pocinho de janelas abertas e o carro a fazer um barulho esquisito. São 19h30 e, sim, há um pneu furado.
Quis o acaso que parássemos em frente à casa de Jorge, um sexagenário que se passeia entre gatos, galinhas e galos. Empoleira-se no muro baixo, cumprimenta-nos e depois sai-se com esta: “Está furado? Então tem que se trocar.” Há coisas que não precisam de ser ditas e Jorge percebe logo que a nossa aptidão para a mecânica é nula. De repente já está à volta do carro, macaco na mão, chave de rodas a postos. Só que Jorge está impecavelmente vestido neste fim de tarde quente e dourado: camisa xadrez de manga curta e calças cinzentas bem engomadas. Volta a entrar em casa e traz um tapete — “Se a minha mulher sabe, mata-me, andou a lavá-lo.” Estende-o na estrada, deita-se por cima dele e põe mãos à obra.
Desaperta as porcas com destreza e conta que há uns meses a raposa lhe “matou várias galinhas”, lembra o tempo em que “tinha rebanhos de ovelhas” e explica por que é que o cão preto que está ali deitado a um canto “tem que estar preso”. E nisto o pneu já está no sítio e já estamos nós a cobiçar umas ameixas grandes e vermelhas que se insinuam na árvore. “Leve à vontade, mas olhe que se calhar ainda estão verdes.” Apanhamos uma mão cheia delas e despedimo-nos do nosso anjo da guarda. “Sorte e saúde. Se voltarem a passar por cá, venham dizer olá.” Certamente, Jorge.
É neste Algarve simples e sereno, longe do bulício de praias carregadas, que se situa o Monte Rei, que está a comemorar uma década. Este ano, por haver festa redonda, marca uma nova fase de crescimento na vida do resort (ver caixa) que em Maio viu o seu campo de 18 buracos ser eleito por praticantes da modalidade como o Melhor Clube de Golfe de Portugal em 2017. Para esta distinção muito contribuiu o desenho do green, da responsabilidade de Jack Nicklaus, uma das referências máximas na arquitectura de golfe.
Não somos de grandes tacadas, pelo que, enquanto guiamos até à nossa villa (Miradouro Village, n.º 6), nos limitamos a apreciar as paisagens verdes e onduladas que se espalham pelo Monte Rei. O resort está implantado ao longo de 400 hectares, onde neste momento há 28 moradias (oito com piscina privativa e quatro quartos e 20 com piscina comum, com um número de quartos que varia entre um e três) em exploração turística, mas numa estada de dois dias praticamente não nos cruzámos com outros hóspedes. É certo que era Junho, mas quis-nos parecer que era tudo nosso. Não era, naturalmente, mas usamos esta imagem para reforçar a tranquilidade do Monte Rei — não será à toa que é considerado um dos mais exclusivos clubes de golfe da Europa.