A excursão mais exigente e também mais compensadora encaminha para a esquerda, primeiro no sentido do antigo mosteiro e actual centro de interpretação e depois para cima, até ao Monte Faro, a 179 metros de altitude. São sete quilómetros, que levam cerca de duas hora e meia a percorrer e se torna especialmente cansativo no último troço, todo aos ziguezagues até à esplanada do Farol. O prémio são as vistas panorâmicas que se alcançam lá de cima, que em dias de céu limpo alcançam a norte as Rias de Arousa e de Pontevedra, à direita a Ria de Vigo e atrás a Ilha Sul e o Cabo Silleiro. Pelo caminho podem, ou devem, fazer-se desvios, nomeadamente até ao Alto da Campana, rocha caprichosamente esculpida pelos ventos carregados de salitre, e ao Farol da Porta, sobranceiro às ruínas de um castro da Idade do Ferro, já a dois passos da Ilha Sul.
Ver o mesmo de outra perspectiva é de algum modo o que oferece o caminho da direita, que corre paralelo à Praia dos Alemães, antes de alcançar o principal cruzeiro da ilha. Aí bifurca-se e quem optar pelo trilho ascendente atinge o Alto do Príncipe, outro espectacular balcão natural assente em formações rochosas de formas sugestivas como a muito justamente designada Cadeira da Rainha. Para além das vistas panorâmicas sobre as rias, é o sítio ideal para contemplar de perto a geografia mais acidentada da parte norte da ilha, de falésias muitas vezes abruptas e verticais, atingindo os 193 metros de altitude em Monteagudo, o ponto mais alto da ilha. Não se escala o Monteagudo, mas pode-se chegar mais perto pelo trilho costeiro que conduz ao Farol do Peito, onde se descobrem furnas pronunciadas, escavadas pela fúria do mar.
Os pássaros
As praias são óptimas, mas estas excursões são excelentes, a verdadeira experiência das Cíes. Ou melhor, parte dessa experiência, porque para apreciar as ilhas realmente é preciso dormir lá. O único sítio em que se pode passar a noite é o parque de campismo, que se recomenda sobretudo pelo enquadramento: fica no meio de um pinhal, a apenas 50 metros da praia. Não há paredes, nem sequer redes a separá-lo da envolvente. À noite, o mais provável é encontrar-se gente a tocar guitarra, a jogar cartas e por aí adiante no bar-restaurante e vizinhanças iluminadas. Mas a conjugação do marulhar das ondas e do vento a agitar o arvoredo chega e sobra para silenciar todos os ruídos.
Dada a conjugação pacificadora de elementos estranha-se forçosamente, quando, de manhã, se acorda com o banzé provocado por um verdadeiro coro de pássaros. Basta correr o fecho da tenda para se concluir que estão ali mesmo ao lado, ou por outra, que nós e o camping inteiro acabamos de ser invadido por dezenas, ver mesmo centenas de aves, sobretudo gaivotas. O que se passa é que os bichos já sabem a que horas o pessoal começa a debandar do campismo, mais frequentemente deixando atrás de si os víveres que não consumiu.
É uma visão espantosa e mais surpreendente ainda é seguir os bichos até aos seus poisos habituais. Uma das razões pelas quais as Cíes são um dos santuários naturais mais protegidos de Espanha reside precisamente na sua extraordinária população de aves marinhas. Aqui reside a maior colónia do mundo de gaivotas pata-amarela, a maior espanhola de corvos-marinhos e de gaivotas prateadas, registando-se ainda a presença de espécies tão ameaçadas quanto os airos, essas aves singulares que mais parecem pinguins. A maior parte destes pássaros nidifica nos ilhéus desabitados em redor e nas falésias mais inacessíveis da costa norte, mas perto deles foram montadas cabanas de madeira com troneiras, dissimuladas de forma a garantir a sua tranquilidade. Na ilha do Norte há dois destes observatórios de aves, um perto de Faro do Peito, outro ao lado do Alto da Campana.