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«A natureza é para ser vivida», proclamou-se no Gerês

Por Samuel Silva

Protesto contra a cobrança de taxa de 152 euros pela autorização de caminhadas nas áreas protegidas juntou mais de uma centena de pessoas no Parque Nacional da Peneda-Gerês. Mais a sul, protestou-se no Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros.

Vinham equipados para uma caminhada longa, mas a chuva trocou-lhes as voltas. De impermeáveis coloridos e botas de montanha, reuniram-se junto à colunata da vila de Caldas do Gerês para o protesto contra a cobrança de 152 euros pelo Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB) pela autorização de actividades nas áreas protegidas.

Nas últimas semanas, a contestação a esta taxa mobilizou a comunidade de pedestrianistas nas redes sociais e na blogosfera. Mas o protesto, afinal, em vez de entrar na área do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG), fez um curto percurso até Vidoeiro.

A responsabilidade foi das condições meteorológicas. Numa manhã de frio e chuva intensa, ninguém quis arriscar chegar até a Pedra Bela, como tinha sido combinado.

A marcha de protesto teve uma extensão de apenas dois quilómetros, terminando no Centro de Educação Ambiental do Vidoeiro. Mas isso até serviu para dar mais força aos argumentos que os caminhantes usam.

"O parecer tem que ser pedido com 40 dias de antecedência. Com essa antencedência, ninguém pode prever que tempo vai encontrar", explica Ana Ribeiro, habitual praticante de caminhadas no PNPG.

Esta é uma taxa "sem sentido", considera Rui Barbosa, autor da convocatória para o protesto e que ontem assumiu a liderança da marcha no Gerês. Debaixo da colunata, enumerou os argumentos dos amantes da natureza, que são favoráveis à maioria das regras estabelecidas no Plano de Ordenamento do PNPG, mas não concordam com a interpretação feita da portaria que permite ao ICNB cobrar os 152 euros. "A natureza é para ser vivida", resume.

À sua frente, algumas pessoas empunhavam cartazes escritos em folhas A4 sublinhando a mesma ideia: "Regras sim, taxas não."

Presente no protesto, o presidente da Câmara de Terras de Bouro, Joaquim Carcel, reconheceu a "justiça" da luta dos caminhantes e criticou a actuação da direcção do PNPG pelas exigências feitas à população que vive no interior da área protegida e pelas multas que aplica a locais e visitantes. "São montantes elevadíssimos", afirma, bastando um "carro mal estacionado para tirar uma fotografia".

Mais a sul, no Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros, cerca de 30 pessoas juntaram-se no centro de Porto de Mós, com o mesmo intuito: contestar a taxa cobrada pelo ICNB. O organismo público está "a extorquir dinheiro" aos amantes da natureza e a associações sem fins lucrativos, acusou Marco Veríssimo, um dos participantes, citado Lusa.

"Ninguém sabe para que serve a taxa, porque não se vê nada feito em benefício dos locais nos quais se realizam os percursos pedestres", critica António Veríssimo, que foi de Leiria a Porto de Mós para participar no protesto.

O Ministério do Ambiente e o ICNB têm mostrado pouca abertura para rever a norma contestada pelos praticantes de caminhadas. Os organizadores do protesto de ontem esperam, porém, que a mobilização dos últimos dias, com partidos políticos e Quercus a juntarem-se à contestação, possa levar a algumas alterações no quadro legal.

"A ideia geral é de que devemos aguardar algumas semanas para perceber se há alguma iniciativa para alterar a portaria", explica Rui Barbosa. Embora "muito céptico", o organizador do protesto no PNPG vai seguir a posição adoptada pela maioria dos caminhantes que se associaram ao movimento. Mas promete não baixar os braços na luta contra as verbas cobradas pelo ICNB. "Haverá novos protestos, caso as coisas não mudem", promete.

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