PRAIA DE DUNAS
Porto Santo, a linha do horizonte
Porto Santo, a praia: quase nove quilómetros de areia fina e amarela, água límpida, temperaturas amenas, a da água e a do ar. Mar calmo excepto em dias de calema. Dizem-na única pela composição da areia, com propriedades terapêuticas. Que convida a fazer? Mergulhar, nadar, andar de barco, conhecer a escarpada costa norte, dar longos passeios na beira-mar, repousar. A vida urbana não tem interesse. A nocturna resume-se praticamente aos restaurantes. Os guias turísticos dizem o resto. É aconselhável mesmo fora do Verão pelo clima ameno. Menos atraente, pela muita população, na primeira metade de Agosto, excepto se o viajante quiser cumprimentar na praia Alberto João Jardim. A ilha ainda não foi "formatada" pelo turismo de massas. As melhores zonas da praia têm uma razoável densidade de crianças - os pais não têm medo de as perder de vista ou, se perdem, é fácil reencontrá-las. O maior prazer é contemplar a infinita e límpida linha do horizonte. {Jorge Almeida Fernandes}
PRAIAS SELVAGENS
Lagoa do Fogo, uma aventura na lagoa
Não há conversa sobre os Açores em que não me lembre daquele dia na Lagoa do Fogo. Recordo perfeitamente a sensação de espanto - quando a olhamos de cima, antes de começar a descer a encosta, parece saída de um livro de aventuras juvenil, com direito a bruma e tudo. Foi nessa primeira ida à lagoa que perdi quase toda a minha fé nos placards de informações do Turismo dos Açores (já lá vão anos, devem tê-lo alterado entretanto). O que li naquela altura dizia que o percurso que contornava a lagoa, classificado como "fácil", era de 12 quilómetros, demorava quatro horas a fazer e, eventualmente, poderia exigir aos caminhantes que entrassem na lagoa para cumprir parte do trilho, mas sem que a água passasse do joelho. O que posso dizer passado todo este tempo é que eu e os meus amigos - todos habituados a andar a pé na natureza - demorámos mais de sete horas a concluir o percurso e para transpor algumas das "etapas" tivemos de nadar e de fazer escalada livre. Pelo meio soltámos uma cria de garajau e escrevemos mentalmente várias cartas ao turismo das ilhas. No fim do dia, a grande língua de areia da lagoa parecia-nos muito pouco uma praia, mas diz quem mora em São Miguel que é boa. {Lucinda Canelas}
PRAIAS DE USO DESPORTIVO
Guincho, Vulcão e deserto
Em certos dias de fúria, a praia morde. A areia ergue-se no ar com a ventania e ataca a pele nua dos turistas até fazer sangue. Isto não é lenda. Quem frequenta a Praia do Guincho com regularidade já presenciou alguma vez esta cena de pesadelo: raparigas de biquíni correndo aos gritos pelo areal, ou estrada acima com as pernas vermelhas de agulhadas. Sangue. Quem não acredita não conhece o Guincho. Não é uma praia para descansar. Pode ficar desmaiada num lençol de tons púrpura, quase silenciosa, estralejando como lava a conspirar nas profundezas. A rebentação das ondas é sempre distante, as vagas longas, de alto-mar. Mas a qualquer momento uma brisa nasce ao nível dos pés, num zunido de remoinhos que em minutos se transforma em tempestade de areia. Há algo de vulcão e de deserto neste areal rodeado de falésias tingidas de névoa rósea e chamejante apontando o Cabo da Roca, entre Cascais e a serra de Sintra. Do Guincho quem se atreve a dizer: é a minha praia? {Paulo Moura}