A viagem demora 60 minutos, mas atravessa séculos de história. Começa nos mitos da fundação da cidade por Ulisses, vai à boleia das caravelas que partiram do Tejo para o mundo, culmina no terramoto de 1755, renasce nos planos do Marquês de Pombal para a Baixa destruída, passa pelo Terreiro do Paço renovado, para acabar numa Lisboa interactiva. Desde ontem, as memórias da capital estão concentradas no Terreiro do Paço, onde foi inaugurado o centro de interpretação Lisboa Story Centre.
Instalado no piso térreo da ala nascente da praça, este espaço será a "âncora" para atrair turistas àquela zona. Esse é, pelo menos, o desejo do presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, que se congratulou por ter realizado "um sonho de gerações", devolvendo à cidade o espaço até então reservado aos ministérios.
Além de funcionar como um pólo turístico "estruturante", o equipamento destina-se sobretudo às crianças em idade escolar. "Será um contributo decisivo para a formação, funcionando como um importante centro educativo", sublinhou o autarca.
O projecto, apresentado como inédito no país, representa um investimento de três milhões de euros, dos quais 975 mil euros foram financiados pelo Turismo de Portugal e o restante pela Associação de Turismo de Lisboa (ATL), que vai explorar o espaço, aberto todos os dias das 10h às 20h. São esperados 300 mil visitantes por ano.
Os visitantes pagam um bilhete de nove euros - ao contrário do que acontece, por exemplo, no Castelo de S. Jorge, os lisboetas têm de pagar, mas há descontos para crianças, seniores e grupos - e recebem um audioguia disponível em dez línguas e numa versão infantil, que funciona como um mapa da viagem. Em dois pisos distribuídos por 2200 metros quadrados, sucedem-se salas com ambientes, decorações e até cheiros diferentes, a marcar a passagem de um capítulo para o outro.
Ao discurso informal dos narradores juntam-se elementos visuais que transportam os visitantes para cada um dos períodos retratados. No primeiro piso, os ambientes foram desenhados a pensar em todos os sentidos, até no olfacto e no tacto.
Na sala forrada a madeira e sacos de serapilheira, o cheiro a especiarias lembra os Descobrimentos. Mais à frente, está a réplica de uma caravela e da passarola de Bartolomeu de Gusmão. O terramoto de 1755 é revivido numa sala escura, com bancos de madeira e um candelabro no tecto, que estremecem no momento do abalo recriado também em vídeo.
O Marquês de Pombal surge logo depois num holograma, carregado de mapas com os quais planeou a reconstrução da Baixa. E o Terreiro do Paço aparece depois renovado.
No segundo piso, funciona a exposição Lisboa Virtual. Em vários ecrãs interactivos é possível seleccionar acontecimentos marcantes da cidade, como a revolução do 25 de Abril ou a implantação da República, e conhecê-los melhor através de imagens, desenhos ou fotografias, e até de uma maqueta da cidade pré-pombalina.
O conceito do projecto e a execução estiveram a cargo de um consórcio que envolveu várias empresas, entre elas a YDreams, responsável pelas aplicações interactivas, e o olissipógrafo José Sarmento de Matos, consultor histórico que definiu e garantiu o rigor dos conteúdos.
O centro abriu ontem mas ainda há arestas para limar. "Precisa de umas afinações", admitiu o presidente da ATL, Vítor Costa, durante a visita guiada ao lado do presidente da câmara. Este confirmou falhas na sincronização da narração com as imagens. Mesmo assim, não desarma: "É um equipamento muito importante, porque conta a nossa história. É isso que nos diferencia das outras cidades", disse António Costa à saída.
Intervenção na praça quase concluída
A requalificação da sala de visitas de Lisboa está perto do fim. Segundo o presidente da câmara falta apenas concluir a restauração da estátua equestre de D. José, já em curso, e instalar o elevador que dará acesso ao terraço do Arco da Rua Augusta.
"Para isso, a câmara está a finalizar um acordo com o Governo", disse o autarca. Segundo António Costa, a revitalização da praça permitiu criar 380 postos de trabalho. Com a reconversão das alas poente e nascente, onde os serviços dos ministérios deram lugar, nos pisos térreos, a restaurantes, bares, lojas e WC públicos (pagos), a Associação do Turismo de Lisboa (ATL), concessionária do espaço, recebe anualmente 1,8 milhões de euros em rendas.
Por sua vez, a autarquia poupa cinco milhões de euros. "Durante anos subsidiámos a ATL, agora estamos a substituir os subsídios pela entrega à associação de equipamentos que ela pode explorar. Em vez de sete milhões de euros por ano, pagamos dois milhões", disse o autarca.