Portugal - onde foi criada a primeira Reserva Dark Sky do mundo -, há países como a Argentina, Chile, Espanha, Nova Zelândia ou Brasil que têm desenvolvido projectos que interligam o turismo, as paisagens e a observação dos fenómenos dos céus. Mas, como diz à Fugas Apolónia Rodrigues, uma das fundadoras das novíssima Astrotourism Society, não estão ainda bem organizados para se tornarem, de facto, destinos de astroturismo. É para trabalhar no sentido de uma maior organização e divulgação deste nicho que interliga lazer e ciência que nasce este colectivo, apresentado esta semana em Évora.
Com sede em Portugal mas de âmbito internacional, The Astrotourism Society tem a assinatura não só de Apolónia Rodrigues - presidente da Genuineland, rede europeia de turismo de aldeia - mas também de Eduardo Fayos-Solà, antigo secretário-executivo na Organização Mundial do Turismo das Nações Unidas e presidente da Ulysses Foundation, dedicada a projectos que usam o turismo como instrumento de desenvolvimento. O objectivo dos dois especialistas é unir forças para levar a ciência a mais público, criando destinos em que o céu é a atracção principal. Numa experiência que se quer "envolvente" e "emocional", este astroturismo quer conquistar os entusiastas, os curiosos e os apaixonados pelas estrelas.
O plano passa, inclusive, pela organização de conferências anuais que funcionarão como acções de envolvimento do público em geral e onde se pretende discutir com os destinos, empresas locais e comunidades científicas, directa ou indirectamente ligados ao astroturismo, os passos a tomar para criar um destino ideal para o turismo dos céus. O objectivo, refere Apolónia Rodrigues, é "contribuir para o enriquecimento e aprofundamento da ligação turismo e ciência". A primeira conferência está já a ser preparada e decorrerá em Espanha.
E quais são as condições para ser um destino de astroturismo? Ter um céu de "qualidade, com transparência para que se possa ver os astros" e ter uma oferta de "qualidade adaptada ao tipo de turista e ao tipo de mercado".
Tanto as conferências como outras acções pretendem dotar os destinos - sendo que a sociedade está já a criar parcerias com alguns - de ferramentas para que possam valorizar este tipo de turismo e criar uma ligação entre observatórios, hotelaria, transportes e condições para o astroturista, que tem necessidades diferentes dos turistas porque a sua actividade é à noite. Condições essenciais, como refere Apolónia Rodrigues, para levar a astronomia a um grupo mais alargado que, para além dos turistas, deve incluir as população locais.
Para "abrir a ciência a um grupo mais alargado", "o produto deve ser adaptado ao tipo de clientes e deve ser entendível por todos", refere, dando como exemplo ser necessário criar visitas e observações menos técnicas aos observatórios. É que, para além da parte cientifica, existe uma "componente emocional muito forte" nisto de querer ver os astros.
O facto de a sociedade ter nascido no Alentejo não é um acaso: não só a rede internacional da Genuineland tem sede em Juromenha (no Alandroal), como a região já tem experiência na tentativa de desenvolver o astroturismo, já que é ela que alberga a Reserva Dark Sky, uma espécie de portal apetrechado para acolher os turistas que querem apreciar os impolutos céus da zona do Alqueva. Um projecto que tanto Fayos-Solà como Rodrigues acompanharam intrinsecamente e ao qual também estão ligados outros especialistas convocados para dar o seu contributo à Astrotourism Society. O grupo inclui mentores de várias áreas científicas como a astrofísica (Raúl Lima, Fábio Silva), engenharia/geologia (João Passos), turismo (Áurea Rodrigues), natureza e turismo (Arturo Crosby) ou ergonomia (José Nuno Sampaio). E mesmo da astrofotografia, caso Miguel Claro, o "fotógrafo dos astros" oficial da Dark Sky (e que assina a fotogaleria deste artigo).
Para um futuro próximo esperam construir uma plataforma de astronomia online direccionada não só às comunidades científicas mas também ao público em geral. Para isso, querem transformar artigos científicos em artigos "capazes de serem lidos por um grupo mais alargado de pessoas", ou seja "com conhecimento científico mas evitando as definições muito técnicas de forma a torná-los mais apelativos".