Duas estrelas, Altair e Vega, brilham sobre um monte e árvores do Alentejo com a Via Láctea como fundo. A lua cheia recorta na luz o Templo de Diana. Rastos de luz da estrela Sirius e constelação de Orionte cruzam os céus sobre a Torre de Belém... "Há muitas coisas que vemos durante o dia cuja beleza só se revela à noite", diz-nos Miguel Claro, 35 anos, para quem essa beleza, "em união com a ciência e arte", é ainda mais manifesta. Há década e meia que se dedica à astrofotografia, o registo fotográfico dos astros, no seu caso com uma especialização em paisagens astronómicas, percorrendo o país atrás da conjugação "entre os elementos do céu e da Terra", "valorizando o património arquitectónico, cultural e paisagístico".
Apesar da experiência, dos artigos e exposições, das aulas que lecciona ou das distinções internacionais às suas obras - da NASA à National Geographic ou a inclusão em listas mundiais das melhores fotografias do ano, como voltou agora a suceder no livro "Astronomy Photographer of the Year" do britânico Royal Observatory of Greenwich -, Claro (que já destacámos na fotogaleria O Fotógrafos dos Astros) continua a definir-se como "astrofotógrafo e astrónomo amador".
E acaba de lançar um guia para todos os que queiram viajar a descobrir (e fotografar) as belezas nocturnas, "Astrofotografia - Imagens à Luz das Estrelas", o primeiro livro português desta envergadura na sua temática. O enfoque é na astrofotografia de paisagens astronómicas e a obra tanto nos eleva ao esplendor dos céus como faz ver o esplendor da Terra com outros olhos. Ou, mais concretamente, o esplendor de Portugal, já que "as imagens contidas no livro (cerca de duas centenas) foram todas captadas no país". Em simultâneo com a obra, Claro lançou também um novo vídeo de "time lapses", onde são reunidas uma série de sequências temporais de uma beleza celestial.
Claro desejou criar "um livro que não fosse apenas uma galeria impressa mas também um guia passo a passo". Isto porque esta técnica fotográfica, ao contrário da dos astrofotógrafos que se dedicam ao Céu Profundo ou ao Sistema Solar, é, diz, acessível a toda a gente. Na prática, "basta estar equipado com uma câmara Reflex, uma objectiva luminosa, um cabo disparador e um tripé robusto". Depois, é só passear, acrescentar algum saber técnico e, claro, "muita paciência". Essencial, porque "é um tipo de fotografia que exige tempo e sabedoria no tempo".
Conforme os alvos, há que pensar em longas (ou longuíssimas) exposições e horas a fotografar. Captar rastros dos astros não é obra para um clique e já está. "Não podemos acelerar a Terra", remata Claro. "Às vezes estamos a fotografar duas, três, quatro horas, por vezes até mais e depois, com as imagens aceleradas, é possível ver um fenómeno condensado em segundos". Há imagens recentes, como uma da Lua, que demoraram 4h a registar na perfeição, ou mesmo 5h, caso do reflexo de estrelas numa piscina. Mas são casos especiais, já que, em média, para cada imagem, realizam-se exposições longas, de 30 segundos cada, ao longo de uma hora (ou mais), que depois são integradas numa só imagem.