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O convento que se vai abrir à noite do Bairro Alto

Atravessando a primeira porta do jardim onde está um pequeno parque infantil, chega-se ao claustro. Vários pedaços de tinta branca estão a cair. O local será totalmente remodelado, das paredes ao chão, prevendo-se a edificação de um lago que será o centro de uma zona de esplanadas.

Um restaurante substituirá o antigo refeitório do convento. Perto fica a cozinha, ainda cheia de vestígios da azáfama culinária que ali se viveu. Uma enorme batedeira, fogões industriais, armários de madeira com alguma loiça, tachos e vários utensílios de cozinha preenchem o espaço.

Percorrendo os corredores compridos, vazios, de paredes brancas e com muitas portas entreabertas, espreitam-se divisões de 20 metros quadrados com uma janela e chão de tábuas de madeira, algumas levantadas, outras esburacadas, outras recuperadas. Em algumas divisões já funcionam alguns serviços administrativos da SCML.

Até ao final do ano, pretendem encher estes antigos quartos das freiras com secretárias, telefones, computadores, impressoras. O arquivo ficará na fila de cerca de 30 armários de madeira pintada de cor-de-rosa claro num corredor do último piso. Dentro deles ainda se encontram roupa, toalhas, cabides, peluches deixados para trás.

O edifício do Convento de São Pedro de Alcântara, antigo palácio dos Condes de Avintes, foi fundado em 1672 por D. António Luís de Menezes, em cumprimento da promessa feita de erigir uma obra consagrada àquele santo, caso os portugueses vencessem a Batalha de Montes Claros durante a Guerra da Restauração. Mais tarde, em 1833, o convento foi secularizado e entregue à SCML para receber meninas órfãs para evitar que estas acabassem na prostituição. As freiras ensinavam-nas a ler, escrever e a rezar.

A escola fica no último piso. O quadro preto ainda tem marcas de giz branco mal apagado. Numa estante, vários ursos de peluche estão sentados, outros deitados, caídos e com pó. As cadeiras estão em monte encostadas às paredes. As mesas já desapareceram. Na sala ao lado, meia dúzia de máquinas de escrever estão espalhadas numa prateleira de ferro.

Na outra ponta do convento, no mesmo piso, o chão do pátio está levantado. Será reposto, limpo e ali nascerá mais uma cafetaria, com uma esplanada aberta no topo do convento.

Estas intervenções mais profundas demorarão e vão começar a ser realizadas numa segunda fase, sem data prevista e já com alguns serviços da Santa Casa a funcionar no convento. Espera-se que todo o processo esteja terminada no decorrer do próximo ano.

Por agora, apenas algumas marteladas quebram o silêncio que invade os corredores, as escadas de mármore polidas pelos vários pés que durante séculos as pisaram e as paredes lascadas que muitas orações ouviram.

 

Texto editado por Ana Fernandes

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