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O convento que se vai abrir à noite do Bairro Alto

Por Alexandra Guerreiro

Na esquina onde começa a esboçar-se o Bairro Alto, um antigo convento onde meninas órfãs eram afastadas da prostituição vai lentamente ceder à boemia da noite lisboeta.

A Santa Casa de Misericórdia de Lisboa (SCML) está a remodelar o Convento de S. Pedro de Alcântara para transferir para este espaço alguns serviços administrativos e abrir ao público novos espaços, como um restaurante e duas cafetarias. Em estudo está também a realização de missas nocturnas e de visitas guiadas ao monumento secular.

Para recuperar o património que detém mesmo à porta do Bairro Alto e rentabilizar a utilização de muitos metros quadrados vazios, um ano após as 14 irmãs que ali viviam se terem mudado para outro convento, o Departamento de Gestão Imobiliária e Património (DGIP) da SCML começou a estudar como dar uma nova vida ao local. O primeiro passo foi fazer um levantamento do estado do edifício e da condição das coberturas e elaborar um projecto de arquitectura. O orçamento ainda não está calculado.

Mas os trabalhos de recuperação já começaram. Contactada pelo PÚBLICO, Helena Lucas, directora do DGIP, disse que, por agora, se estão a realizar apenas obras de conservação. "Estas primeiras intervenções são, essencialmente, pinturas, eliminação de alguns elementos dissonantes e reorganização do espaço", descreve. Depois da conclusão desta fase, o convento ficará branco em vez de rosa, como é actualmente, e começará a ter a maioria do seu espaço ocupado por alguns serviços da Santa Casa.

Quando o PÚBLICO visitou o monumento, o acaso fez com que a porta com vista directa para o miradouro de S. Pedro de Alcântara estivesse aberta. O andaime que a tapava tinha acabado de sair já que os dois pintores tinham terminado de pincelar de branco a viga da centenária entrada. Por momentos, a colina do Castelo entrou, avassaladora, pelo convento adentro. Até que, quase com descaso, os operários fecharam a porta, deixando Lisboa lá fora.

A entrada é feita pela lateral do convento. De ferro, preta e já restaurada, a porta ainda com um cheiro de tinta fresca abre o caminho para um átrio de azulejos azuis com os dias contados. Serão arrancados e a parede será pintado de branco. Atrás da porta fechada encostada ao portão negro nascerá uma loja de roupa, com montras de vidro a substituir algumas portas de madeira que antes davam acesso à rua. Ali fica também a Capela dos Lencastres, constituída maioritariamente por pedra, e que não necessitará de nenhuma intervenção.

Já no interior do monumento, a Igreja do Convento de S. Pedro de Alcântara, de pé-direito muito alto, tem o tecto com infiltrações e a tinta solta-se em lascas. Depois de restaurada, logo se estudará como se poderá revalorizar este espaço. Entre as propostas em cima da mesa estão a criação de visitas guiadas ou a realização de missas nocturnas, um programa verdadeiramente alternativo face ao que é oferecido na noite que se vive mais abaixo, no Bairro Alto.

"Pretende-se recuperar, tanto quanto possível, o desenho original, ao nível por exemplo da compartimentação interior e coberturas", sublinha a directora. O objectivo é criar também novos espaços, inclusive nas áreas exteriores, como o jardim, os pátios e o claustro.

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