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  • Gregório Cunha
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Numa praia do Funchal pode-se nadar num mar que não se vê

Por Márcio Berenguer

Capital madeirense tem a única praia do país adaptada para invisuais. A ideia era tornar a Praia Formosa acessível a pessoas com dificuldades de locomoção, mas o projecto de um cidadão foi alargado pela câmara aos deficientes visuais.

O Funchal tem, a partir da próxima semana, a única praia do país adaptada para invisuais. O projecto, orçamentado em cerca de 100 mil euros, começou a ser testado nesta quinta-feira e vai permitir que pessoas invisuais possam de forma completamente autónoma ir ao mar, usufruindo também de todos os equipamentos de apoio balnear.

A ideia foi posta em prática na Praia Formosa, a maior da cidade, e consiste na colocação na água de uma linha de bóias equipadas com sensores, que informam, através de sinais sonoros, os utentes sobre a profundidade do mar, indicando também a distância da praia e a direcção da mesma.

Toda essa informação é transmitida para uma bracelete usada pelos banhistas invisuais, que têm, a qualquer momento, a possibilidade de pedir ajuda aos nadadores-salvadores através de um botão SOS.

A ideia de criar uma praia adaptada chegou à Câmara do Funchal através do orçamento participativo. O projecto vencedor foi uma praia adaptada para pessoas com dificuldades de locomoção, mas a autarquia quis ir mais além e alargou a ideia aos invisuais e às pessoas que, não sendo cegas, tenham dificuldades de visão.

“Quisemos ir mais longe, porque consideramos que fazia todo o sentido o Funchal, que é uma cidade de praia e turística, ter esta oferta”, explicou ao PÚBLICO o vereador Domingos Rodrigues, responsável pela execução dos projectos saídos do orçamento participativo. “Somos uma cidade muito procurada por turismo sénior, e por isso esta praia não é apenas para os funchalenses mas também para os turistas que nos visitam”, acrescentou o responsável municipal, dizendo que o sistema respeita todas as normas e exigências nacionais e internacionais.

Com pouca ou nenhuma legislação nacional sobre esta matéria – a que existe é pouco exigente –, a Câmara  do Funchal adaptou o modelo francês para este tipo de  praias, um dos mais avançados do mundo, para concretizar o projecto.

“Cumprimos todos os critérios do nível 4 [o mais elevado] do modelo francês”, adianta Domingos Rodrigues, dizendo que “não é vergonha nenhuma” copiar os melhores. “Se o modelo existe e é bom, é melhor não inventar e aproveitar o que já foi testado com sucesso.”

Na Praia Formosa, foi construída uma zona de sombreamento, colocado um passadiço em madeira para as cadeiras de rodas circularem até à zona adaptada, e os vestiários foram remodelados, bem como os duches e sanitários. A colocação de sinalética específica e a criação de zonas de estacionamento para pessoas portadoras de deficiência completam as infra-estruturas de apoio.

“Adquirimos três cadeiras de rodas especiais, duas que flutuam (para os que não sabem nadar) e outra que permite ao utilizador deixar a cadeira na água, nadar, e depois voltar à cadeira para regressar à praia.” Todas têm rodas que permitem circular com facilidade em qualquer tipo de terreno, incluindo areia, facilitando assim o acesso ao mar. “Fizemos tudo de forma a que as pessoas sejam o mais autónomas possível na praia.”

A ideia da autonomia, de permitir que as pessoas se desloquem na praia sem ajuda de outras, foi a trave mestra de todo o projecto. E a parte dedicada aos invisuais, que precisam de ajuda para entrar, nadar e sair da água, foi o ponto de honra dos promotores.

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