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  • Gregório Cunha
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Numa praia do Funchal pode-se nadar num mar que não se vê

Utilização gratuita

O equipamento Audioplage adquirido, com tecnologia francesa, engloba as bóias sinalizadoras e as braceletes, e permite a utilização simultânea de cinco pessoas. “Este foi o primeiro passo, e sei que agora não podemos voltar atrás. É um direito das pessoas, e elas vão querer mais. Fico satisfeito com isso”, afirma Domingos Rodrigues, dizendo que o projecto é pioneiro em Portugal, e até na Europa, onde são poucos os países com estas infra-estruturas para invisuais.

“Fora de França, este sistema para invisuais só existe numa praia grega e num espaço balnear espanhol”, afirma o vereador, vincando que estes equipamentos são “obviamente” de utilização gratuita. “O objectivo foi, e é, proporcionar a todos um simples e prático acesso à praia.” 

Tudo isto foi feito com pouco menos de 100 mil euros. O maior investimento foi feito nas cadeiras de rodas anfíbias e todo-o-terreno — cada uma custa três mil euros —, nas muletas que flutuam e no sistema Audioplage. “A maioria das infra-estruturas de apoio necessárias já existiam, só tivemos que efectuar algumas adaptações”, explica o vereador, frisando que o objectivo é que a praia funcione durante todo o ano.

“Os únicos condicionalismos são as condições do mar e a meteorologia, tal como de resto acontece para todas as pessoas”, ressalva o responsável pela operacionalização dos projectos do orçamento participativo. “Ninguém vai nadar com a bandeira vermelha, não é?”

Com um tecto de 500 mil euros, previa-se que o orçamento participativo apoiasse os cinco melhores projectos, mas acabaram por ser aceites seis. “Recebemos 44, alguns deles muito interessantes, e conseguimos aprovar seis”, sintetiza Domingos Rodrigues, explicando que todos eles encaixam no orçamento previsto. 

Neste âmbito, e para além da praia adaptada, a Câmara do Funchal vai avançar, por exemplo, com um memorial para animais de companhia integrado num parque para cães, com um skate park, que ficou em segundo lugar nos projectos aprovados, e com equipamentos para carregamento de telemóveis na rua.

“Numa altura em que somos cada vez mais dependentes dos smartphones e dos tablets, e sendo nós uma cidade turística, é uma facilidade que temos o dever de oferecer a todos os que cá vivem e os que nos visitam”.

O orçamento participativo foi uma das bandeiras eleitorais da coligação Mudança, constituída pelo PS, Bloco de Esquerda, PND, MPT, PTP e PAN, que conquistou em 2013 a autarquia funchalense ao PSD.

“Somos novatos nisto, pois foi a primeira vez que fizemos um orçamento participativo, mas temos recebido elogios de vários quadrantes, e muitas autarquias do país têm-nos contactado para saber o que estamos a fazer e de que forma vamos implementar os projectos”, garante Domingos Rodrigues, que trocou as salas de aula da Universidade da Madeira, onde é docente, por um gabinete na Câmara do Funchal.

Um projecto em nome da dignidade

No areal da praia Formosa esta quinta-feira ainda era dia de ensaio. Os equipamentos não estavam ainda totalmente operacionais, e os técnicos da câmara municipal andavam às voltas com os manuais, baterias solares, cadeiras e bóias. 

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