Seguiu-se um ceviche de peixe-espada preto (espécie substituída em Lisboa pela veja, ou peixepapagaio), limão galego (de origem indiana, assemelha-se no aspecto à tangerina, no sabor fica entre o limão e a lima, é muito usado em São Miguel, por exemplo nas marinadas), ouriço-do-mar, cebola de curtume e chips de batata-doce.
A receita é originária do Peru e já tinha sido apresentada por Luís Baena em Madrid, no ano passado.
Porém, em matéria de produtos tidos como "pobres", a grande surpresa foi um aveludado de inhame com abóbora assada e chantilly de cracas. Surpreendente a textura do inhame - um tubérculo que por ser muito calórico era presença assídua nas casas de parco orçamento - e a leveza do chantilly, obtido a partir da junção de natas ao caldo em que se cozeram as cracas - crustáceos que, para muitos, não passam daquelas conchas calcárias que se vêem agarradas aos cascos dos barcos.
A excelência do pescado açoriano - muito do qual chega anonimamente às cozinhas continentais via Mercado Abastecedor da Região de Lisboa - revelou-se no prato seguinte, um meli-melô (mistura, combinação) de chicharro marinado e fumado a quente com tataki de atum, tatin de batata e uma maionese de poejo. O chicharro (carapau, no continente) foi fumado a quente com chá - outro produto típico dos Açores, que é, aliás, a única região europeia onde se cultiva chá - resultando num contraste com o peixe marinado e o tataki de atum (brevemente tostado). A cereja em cima do bolo foi o poejo em espuma, aligeirando um prato que se revelou repleto e farto.
Antes da sobremesa, foi servida a alcatra de capão (galo castrado) do Nordeste em pastel de massa tenra. A carne foi tratada como habitual neste prato tradicional, depois desfiada e envolvida na massa para ser transformada num pastel acompanhado com salada e caiota (chuchu, no continente).
A terminar, houve pétalas de abóbora caramelizadas com anona - outro fruto aqui resgatado - e um creme queimado de chá preto com gelado de maracujá. Um desfecho com notas doces, neste jantar de antecipação ao festival Peixe em Lisboa, entre 7 e 17 de Abril, no Pátio da Galé.
A Fugas viajou a convite da Associação Turismo dos Açores, SATA e Escola de Formação Turística e Hoteleira de Ponta Delgada