Fugas - restaurantes e bares

Adriano Miranda

A Norte dizem que "boas, boas, só lá para o S. Pedro"

Por José Augusto Moreira

Andam em cardumes à superfície e dizem que as melhores são as que vêm das águas frescas do Atlântico. É talvez por isso que, esta temporada, as sardinhas se têm feito esperar mais do que o habitual. A "culpa" é das correntes cruzadas, que dizem ser fruto das alterações climáticas. Mas não há festas nem Verão sem sardinhadas. Fomos atrás da sardinha pelo Norte.

 
MAIS

Boas mesas para grandes sardinhadas
Em busca da melhor sardinha
por Duarte Calvão 11.06.2011
A Norte dizem que "boas, boas, só lá para o S. Pedro" por José Augusto Moreira 11.06.2011


É pelos recintos de festas e romarias que a sardinha assume o estatuto de rainha. Assada nas brasas atiçadas pela brisa e a derramar gordura no pão, dá o sabor e tempero aos festejos populares. Desde sempre que a abertura da temporada acontece com as festas do Senhor de Matosinhos, nos primeiros dias de Junho, com a tradição a impor que aí se fossem provar as primeiras. Este ano, no entanto, tem sido com recurso a "espanholas" e "congeladas" que a festa se vai fazendo. Há sardinhas, é certo. Mas não são bem a mesma coisa.

Aponta-se, agora, para o São João, mas há também quem já alvitre que nem aí estarão ainda no seu melhor. "Com este tempo baralhado como anda, boas, boas, só lá para o São Pedro", ouvimos por estes dias sentenciar entre pescadores da comunidade de Caxinas, onde garantem que é mesmo em finais de Junho que estão mais gordas e saborosas. Pelo São Pedro, tal como sempre acontece para as festas da Afurada, em Gaia, na foz do Douro, e da Póvoa de Varzim, onde fazem o orgulho das respectivas comunidades piscatórias. Na Póvoa, é até tradição dos bairros Norte e Sul - habitados por pescadores - de as assar na rua e oferecer aos passantes na noite de festa. E é mesmo de aproveitar. Não pela borla, mas porque a experiência diz que são sempre das melhores da temporada.

Popular e democrática como nenhum outro peixe, a sardinha saboreia-se em todo o tipo de restaurantes, sem atender a categorias ou classes. Têm é que ser frescas e gordas e bem assadas, que é como quem diz a largar a gordura e sem se deixarem queimar. Basta uma fonte de calor para as cozinhar na perfeição, pelo que é muitas vezes em modestos restaurantes que melhor as saboreamos.

Desde sempre que, na região do Porto, sardinhas rimam com Matosinhos e as centenas de restaurantes que povoam as ruas mais chegadas à lota e zona portuária. Por esta época, é ver os assadores colocados ao longo dos passeios e pode-se mesmo escolher olhando para o produto. Há casas para todos os gostos e estilos e até algumas onde conseguem servir sardinhas ao longo de todo o ano. E não vêm de fora, asseguram. São congeladas em água do mar e, fora de época e para matar saudades, cumprem muito bem a função. µ±O conselho da Fugas vai, no entanto, um pouco mais para sul, para o Restaurante Moçambique, na rua Meneres, nº 223, uma perpendicular ao mar quase na esquina com Brito Capelo. Casa de estilo familiar, com preços comedidos, onde a melhor garantia é o facto de a oferta ser praticamente limitada aos peixes frescos do dia. Sardinhas, tal com o resto, só mesmo vindas da lota e quando a qualidade é a devida.

Os peixes são amanhados na chapa do grande fogão colocado no centro da cozinha em volta do qual parece haver em permanência uma espécie de reunião de família. Tudo detrás do balcão envidraçado onde repousa a oferta do dia e ali mesmo à vista do cliente.

Para acompanhar as sardinhas, em doses generosas, há pimento assado e batatas cozidas, daquelas que se desfazem na boca e cujo sabor logo denuncia as origens rurais. Há também uma broa de mistura (milho e centeio), de estilo rústico, cujo senão é o facto de sermos sempre tentados a comer mais do que a conta.

Apesar do estilo despretensioso, é igualmente evidente o critério na escolha de azeites e na oferta de vinhos, curta mas com muito boas opções. Um aviso: não procure peixes à segunda-feira. Como os barcos não se fazem ao mar no fim-de-semana, neste dia a ementa reduz-se a um avermelhado arroz de polvo (seco) que acompanha os filetes do mesmo.

Mantendo-nos em frente ao mar, mas rumando um pouco mais para Norte, há na vila piscatória de Caxinas (rua do Cordoeiro, 128), em Vila do Conde, O Pescador, uma espécie de restaurante onde se comem também boas sardinhas. Ou melhor, bem assadas, já que em terra onde praticamente não há senão gente do mar, é claro que ninguém ousa sequer tentar apresentar sardinha que não corresponda ao mínimo de qualidade.

E dizemos uma espécie de restaurante, já que se trata de um espaço que não sendo tasca nem café tem uma dezena de mesas onde servem grelhados, essencialmente peixes, para além de bacalhau e fêveras. Em ambiente marinheiro, fica mesmo a par do mercado local e no espaço fronteiro há redes e bóias de pescadores, mas também estendais onde, entre a roupa, se vêem peixes espalmados pendurados ao sol.

Para além da qualidade das sardinhas, o segredo parece estar na grande braseira que está logo ali à entrada, por detrás do balcão. O ambiente é simples e serviço a condizer.

Percorrendo a modernizada avenida marginal, a lota e o porto de pesca da Póvoa de Varzim estão logo ali à frente, mas a cidade parece teimar em ter poucos espaços especializados na cozinha de peixe. Para as festas de São Pedro, como já vai dito, os pescadores locais fazem gala de ter sempre as melhores sardinhas, mas há também um velho restaurante que há muito cultiva esse prazer. A Churrascaria Ibérica, na Rua Gomes Amorim, nº 103 (que não quis ser fotografada para a Fugas), parece ter fama e proveito de servir sardinha assada segundo os melhores cânones. Provámo-las e confirmámos, se bem que tenhamos sido logo avisados de que "ainda não está bem no tempo delas". Mesmo assim, uma por outra deram já boa conta de si, com a gordurinha necessária e a deixarem-se amavelmente desfazer do capote de escamas com a adequada envolvência de sal grosso. Batata cozida e pimento assado a acompanhar, complementados por uma adequada salada de tomate coração de boi salpicada com sal grosso.

Digamos que, para o melhor e para o pior, esta é uma casa de estilo clássico. É que, se o peso da tradição se nota no trato culinário, não deixa de notar-se também na oferta de vinhos e no estilo do serviço onde um pouco actualidade viria mesmo a calhar.

Pormenores de modernidade são o que não falta na Tasca do Gomes, em Amorosa, Viana do Castelo. A designação só pode pretender evocar um lado castiço que o espaço terá tido antes, mas que já não existe de todo. A não ser na arquitectura rudimentar dos espaços de comércio e habitações de pescadores envolventes.

Da apresentação ao serviço, o restaurante funciona e está apetrechado de forma elegante e confortável, oferecendo cozinhados de peixes e mariscos de certa elaboração. Os preços, diga-se, não se ficam também atrás das pretensões da casa.

Depois da satisfação registada com as sardinhas saboreadas na temporada passada (a foto é de há um ano atrás), o regresso serviu agora para apenas para comprovar que se mantêm as virtudes da casa. Pedimos, obviamente, sardinhas, tendo logo sido aconselhada outra opção. Face à insistência, explicaram que não estando ainda na época ideal eram frescas e da nossa costa, coisa que não pareceu corresponder inteiramente à verdade já que algumas denotavam mesmo ter passado pela congelação.

Genuína é mesmo a Tasca do Tone Bento, na Rua Góis Pinto, nº 57, em Viana do Castelo. Oficialmente, o espaço tem a designação comercial de Casa Primavera, mas é mesmo como tasca que toda a gente o conhece, seja de Tone Bento ou Taberna do Soares, como é também designada. Gerida actualmente pelo senhor Soares e pela mulher, com o apoio das filhas, ali se comem peixes, fritos ou grelhados, como sardinha, faneca, sargos, robalo ou outros, mas também mariscos igualmente frescos tais como camarão, navalheiras ou percebes, se for esse o produto na véspera recolhido pelos pescadores locais.

Localizado bem no coração da cidade, junto à conhecida Igreja de S. Domingos, esta é mesmo uma tasca minhota na verdadeira acepção do termo e um dos locais mais recomendados para saborear sardinha assada. Balcão corrido povoado de tigelas de verde tinto, meia dúzia de mesas alinhadas transversalmente e decoração composta por canecas, assadeiras e outras loiças e adereços ligados às típicas tainadas da região. Nas traseiras há um agradável espaço aberto, com um pequeno telheiro onde está o assador e algumas mesas. E não há que recear com o estilo de tasca. Já a clientela é até por vezes bem cosmopolita.

CONTACTOS

Restaurante Moçambique
Rua Meneres, nº 223
4450-349 Matosinhos
Tel. 229 375 275

O Pescador
Rua do Cordoeiro, 128
4480-942 Caxinas
Tel. 252 645 034

Churrascaria Ibérica
Rua Gomes Amorim, nº 103
4490-641 Póvoa de Varzim
Tel. 252 683 240

Tasca do Gomes
Rua da Amorosa
4935-580 Amorosa
Tel. 963 444 892

Tasca do Tone Bento
Rua Góis Pinto, nº 57
4900-368 Viana do Castelo
Tel. 258 821 807

--%>