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Boas mesas para grandes sardinhadas
A Norte dizem que "boas, boas, só lá para o S. Pedro" por José Augusto Moreira 11.06.2011
O bacalhau que nos desculpe, mas não há nada mais português do que sardinhas. Muito abundantes na nossa costa, baratas, saudáveis, saborosas, bonitas, seja do Norte ou do Sul, do litoral ou do interior, seja rico seja pobre, velho ou novo, português que se preze comove-se perante uma sardinhada, ornamentada por uma colorida e primaveril salada mista onde se destaquem pimentos verdes e, factor absolutamente fundamental, acompanhada por pão a sério. O cânone manda que também venham à mesa batatas cozidas, mas acho que nem sempre fazem falta.
Em tempos de expansão de peixes de viveiro, de congelados, de espécies em perigo de extinção (como o nosso querido bacalhau, embora as últimas notícias vindas dos mares do Norte sejam mais animadoras), de "pegadas ecológicas", a sardinha nacional livra-nos de preocupações e de culpas. Tem uma sazonalidade implacável e salutar numa época em que entre nós, urbanos sem memória, até se comem cerejas ou tomate em Dezembro, venham de onde vierem, do outro lado do globo ou de alguma estufa sensaborona.
Essa sazonalidade colocou-me graves problemas quando recolhia informações para este artigo, mas teve o condão de me reconciliar com alguma restauração popular lisboeta, que julgava mais permeável às soluções fáceis da importação sem critério ou dos artifícios com que a indústria pensa que substitui o que é esplendorosamente natural. Já comi sardinhas magníficas em alguns restaurantes que indico neste artigo, outros foram-me bem recomendados, mas cada ano é um ano, por isso quis confirmar. E se é verdade que às vezes na segunda metade de Maio já há sardinhas dignas desse nome, neste ano, tal como, aliás, no ano passado, elas tardaram.