Fugas - restaurantes e bares

  • René Redzepi, aqui fotografado no seu restaurante Noma, é o fundador do MAD, que acontece em Copenhaga
    René Redzepi, aqui fotografado no seu restaurante Noma, é o fundador do MAD, que acontece em Copenhaga JOACHIM LADEFOGED/VII/CORBIS
  • “Pretendo ensinar-vos a ter medo. Nunca somos velhos para o ter”, disse Albert Adrià
    “Pretendo ensinar-vos a ter medo. Nunca somos velhos para o ter”, disse Albert Adrià MIKKEL HERRIBA
  • Futa Feia, projecto português inspirador
    Futa Feia, projecto português inspirador MIKKEL HERRIBA

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O “Cirque du Soleil” da gastronomia regressou a Copenhaga

Fruta Feia: o projecto português que inspira a plateia e o mundo

No MAD, além dos chefs, houve espaço para ideias que podem mudar a forma como olhamos para a comida no futuro, já que o simpósio também dita tendências, como foi o caso de comer insectos, uma das apresentações no primeiro ano.

“Ela deve estar entre aqueles que podem moldar o futuro da cozinha.” Foi desta forma que o chef René Redzepi anunciou a oradora Isabel Soares, co-fundadora do projecto Fruta Feia. Em inglês, a engenheira ambiental deu a conhecer a sua cooperativa não-lucrativa e explicou a uma plateia repleta com os mais importantes chefs, escritores, cientistas, produtores e pensadores do mundo que, “na Europa, 30% dos produtos hortícolas são deixados apodrecer nos campos só porque as dimensões da fruta e dos legumes não estão de acordo com a legislação imposta pela União Europeia.” E até ela seria descartada se fosse fruta. “Sou baixinha, fora do padrão”, brincou Isabel.

O papel da cooperativa é ligar os produtores aos consumidores através da venda de cabazes a baixo custo (um cabaz de 4kg por 3,5€ ou 8kg por 7€) com dois pontos de entrega (Casa Independente e Ateneu Comercial, ambos em Lisboa). Segundo dados apresentados, desde que o projecto nasceu, em Novembro de 2013, o Fruta Feia já salvou 41 toneladas de comida em Portugal. Actualmente, a cooperativa está à procura de investidores, porque, apesar de ter o apoio de 18 voluntários, trabalhar com 32 produtores e vender a 420 associados, a lista de espera não pára de crescer e, hoje, são mais de dois mil interessados em comprar frutas feias. A ideia já inspirou uma cadeia de supermercados em França e o objectivo de Isabel é agora levá-la a outras cidades do nosso país.

Destemida, Isabel terminou com uma pergunta para a plateia: “Porque é que todos os pratos têm de ser iguais nos restaurantes? Não seria engraçado usar as formas que a natureza nos dá?”. Uma enorme salva de palmas.

O presente e o futuro do MAD

Em grande parte, o que diferencia o MAD de outras conferências de gastronomia é não haver apresentações de receitas, nem chefs a cozinharem como se faz, por exemplo, no festival Peixe em Lisboa.

No simpósio também ninguém recebe cachet, enquanto noutros eventos o pagamento sobe conforme a popularidade do chef. Não há patrocinadores, nem marcas visíveis e a equipa que ajuda nos dois dias do MAD são cozinheiros que trabalham ou estagiam no Noma.

Se nos anos anteriores os bilhetes para entrar na tenda de circo eram concedidos aos mais rápidos a comprar, este ano a organização abriu candidaturas para um lugar por um período de um mês. De 5000 candidatos, foram escolhidas 600 pessoas, que pagaram 2500 coroas dinamarquesas (cerca de 300€) para estarem presentes nesta quarta edição. Todas as apresentações estão disponíveis online no site do MAD e vai ser lançado um documentário de cinco minutos sobre o evento, em meados de Setembro.

Enquanto isso, o MAD 5 já está a ser pensado. À Fugas, René Redzepi adiantou que irá haver uma conferência no Japão, quando o Noma e a sua equipa se mudar durante dois meses para terras nipónicas no início de 2015. Contudo, no final dos dois dias, o chef dinamarquês antecipou a próxima edição: “Já se falou muito. Agora é tempo de agir.”

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