Fugas - restaurantes e bares

Um Jantar Açores em Lisboa

Por Fortunato da Camara

Provar as ilhas na capital. Iguarias que prometiam um "mar dos Açores" e cumpriram, lembrando que há todo um mundo gastonómico insular por explorar.

O nome da iniciativa era explícito. A proposta adivinhava-se aliciante para açorianos deslocados do arquipélago, antigos turistas com saudades das poéticas “ilhas de bruma” ou simplesmente para nacionais e estrangeiros desconhecedores do idílico destino Atlântico.

Conhecer a gastronomia local na sua vertente mais moderna através da cozinha praticada pela Escola de Hotelaria de Ponta Delgada foi o mote para que, no passado dia 14 de Novembro, a sala do restaurante Grill D. Fernando no Altis Grand Hotel quase esgotasse para provar o menu degustação elaborado em parceria com a unidade hoteleira lisboeta.

A dinâmica que a escola de hotelaria tem evidenciado na região nos últimos anos, em particular pela organização de um evento com prestígio crescente e assinalável sucesso como é o caso do 10 Fest, que anualmente, em Junho, proporciona dez jantares especiais com chefs portugueses e estrangeiros, é uma prova de que algo está a mudar na gastronomia dos Açores.

O convite de Filipe Rocha, director da instituição, era uma oportunidade para verificar esses predicados, ainda que fora do “habitat” profissional dos chefs Pedro Oliveira e Sandro Meireles, que dirigem o Anfiteatro, o restaurante da escola. O contraponto às iguarias insulares ficou a cargo de Rui Santos Silva, chef anfitrião do restaurante D. Fernando.

A expectativa estava virada para o menu de seis pratos, uma proposta de entrada, prato principal e sobremesa para cada lado. Da cozinha do Altis sobressaiu a entrada com um minipastel de nata recheado com foie gras e bem combinado com figo fresco, e uma sobremesa bem imaginada à volta da maçã com a utilização das variedades Golden, Granny Smith, Fiji e Bravo Esmolfe em várias texturas.

As sugestões insulares trouxeram mesmo um pouco do “mar dos Açores” (como anunciado) na entrada, através da mousse de ouriços, do tártaro de lírio e da peculiar planta do gelo, enquanto o prato principal deu a conhecer o filete de boca negra (aparentado do cantaril) com lula e o condimento da açafroa (especiaria local). Na sobremesa surgiram queijos açorianos, onde, além do São Jorge, se destacou o Velho de São Miguel, mas também uma curiosa marmelada de araçá, um fruto aparentado da goiaba, embora de sabor mais delicado.

Por debaixo das paisagens bucólicas e telúricas do arquipélago há um terroir gastronómico por explorar. Estas iniciativas são um primeiro passo para o divulgar, sem esquecer a valiosa cozinha regional que está fechada dentro de portas e quase inacessível aos visitantes. Também ela urge ser difundida e aplaudida

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