Fugas - restaurantes e bares

Vila do Bispo, perceves ou não percebes?

Por Joana Júdice (texto e fotos)

Descobrir como os percebes sabem realmente a mar, numa paragem num dos mais famosos restaurantes da Costa Vicentina, o Café Correia.

“A minha satisfação é a satisfação dos clientes”, esclarece José Francisco, 72 anos, na sua cozinha humilde e de portas abertas. Quem descobre este recanto de sabores, torna-se parte da casa. Enquanto cozinha e conversa descontraidamente sobre a sua história, surgem à entrada algumas pessoas com palavras de carinho e agradecimento: “Viemos de Lisboa de propósito, já estávamos com saudades dos seus petiscos”.  

Sorri, agradece com gentileza e estende-me o braço num aperto de mão firme, “vamos começar com o menino da região. Já alguma vez provou perceves?” Cientificamente designado de Pollicipes pollicipes, os perceves ou percebes, são o marisco de eleição da costa vicentina. “São uma maravilha vai ver, especialmente aqui, acabadinhos de apanhar. Sabem a mar!” Com distribuição natural nas costas rochosas do nordeste do Oceano Atlântico, desde o Canal da Mancha às Canárias e Cabo Verde, os percebes ou Understands, como traduzem os locais, são efectivamente uma delícia.

São 47 anos de história no Café Correia, com a sua cozinha de autor: começou a gerir o espaço em 1969, a convite do meu sogro. “Estava na altura na Pousada como groom.” Tomou o gosto à cozinha no serviço militar, onde recebeu uma distinção pelo seu comportamento, responsabilidade e dedicação. “Comecei a inventar os meus petiscos quando fui para a tropa, menina. Iam oficiais de propósito à minha messe comê-los. Já naquele tempo devia fazer bons petiscos.” Um dia, resolveu arriscar e preparar algo de inspiração. Os oficiais gostaram tanto que passou a ser o responsável pela orientação da cozinha em todo o seu tempo de serviço. Pouco tempo depois de regressar surgiu a oportunidade de assumir e gerir o Café Correia e aceitou.

Castiço e humilde são os apelidos do Mestre Correia. Famoso pelos seus refogados de tomate apurados, o seu truque é usar e abusar do carácter único dos ingredientes típicos da gastronomia portuguesa: a cebola, o alho, o tomate, o louro, os coentros, a salsa. A autenticidade e frescura dos géneros complementam a sua perícia com os tachos e, nasce uma ementa de iguarias algarvias que não se esquecem com facilidade.

Se está pelo Algarve, faça algo diferente. Não siga a fila de carros ou pessoas até à praia do costume. Siga pela Nacional ou pela Via do Infante, visite a praia do Burgau, da Salema, da Luz, do Zavial e Ingrina. Se quiser ir mais longe, espreite a ponta mais oeste do país no cabo de São Vicente, em Sagres, e disfrute das maravilhosas praias do Tonel, Beliche, Martinhal entre tantas outras por descobrir. Se gosta de agitação, alugue uma prancha e descubra um spot sem crowd onde curtir a brisa oeste.

E, no final do dia, visite este recanto escondido e modesto para conhecer José Francisco, Lilica, a sua mulher, e o filho, Sérgio. Se quer o melhor, pergunte ao chef, aqui ficam algumas sugestões irrecusáveis:

Experimente os famosos percebes de entrada e, se ainda tiver apetite, peça o camarão guisado. Siga com as çulas à Correia, recheadas e coroadas com um molho de tomate espesso, a acompanhar com a famosa batata salteada ou apenas cozida. Em alternativa prove o arroz ou massa de camarão, feitos na hora. Se os apetites se inclinam para a carne, não perca o famoso frango em tomate e o coelho à Correia, prato vencedor, inspirado e concebido para um concurso da cerveja Sagres. A sobremesa não é o meu forte mas para quem é dos doces, a refeição não acaba por aqui: experimente a tarte de alfarroba, típica da região e largamente elogiada pelos clientes que se sentam com prazer na sala acolhedora do Café Correia.

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