Fugas - restaurantes e bares

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Éclairs chegam a Lisboa com sotaque do Porto

Por Mara Gonçalves

Quase a comemorar centenária, a histórica loja portuense estreou-se em Lisboa em Setembro.

Primeiro  domingo de vida da nova pastelaria da Leitaria da Quinta do Paço e a casa está cheia. A quatro anos de celebrar o centenário, a histórica loja portuense estreou-se em Lisboa há dois dias, 16 de Setembro, depois dos “constantes pedidos” para rumar a Sul. “Basicamente fomos obrigados a vir para Lisboa”, conta Alexandra Sotto Maior, directora de marketing da marca fundada em 1920. “Imensas pessoas tinham estudado no Porto ou visitado a cidade e conheciam a leitaria. Havia um mercado de saudade bastante grande que nos chamava a vir e já andávamos à procura de loja há mais de dois anos.”

O local ideal foi encontrado em Abril: uma antiga padaria na Avenida João XXI, com espaço suficiente para integrar o salão de chá e uma zona de fabrico (que deixaram visível aos clientes através de uma parede de vidro). Dos famosos éclairs ao histórico chantilly, passando pelos bolos e salgados, tudo é produzido diariamente na loja, de forma artesanal e seguindo as receitas originais da casa. “A equipa da pastelaria, exportámos toda do Porto”, ri-se Alexandra. Das lojas do Norte – actualmente são quatro, duas no Porto e duas em Matosinhos – vieram ainda dois funcionários para o atendimento ao cliente. E é o sotaque do Norte que ouvimos também passear bandejas de doces ou numa azáfama atrás do balcão.

Chegamos em plena hora de ponta para o lanche de fim-de-semana. Batem as cinco da tarde, mas o chá é suplantado pela gula. Na esplanada, já à sombra, não há mesas livres. Lá dentro, apenas a mesa alta em frente ao balcão tem cadeiras vazias – mais convidativas para um café ou almoço apressado do que para o deleite demorado das gulodices que cintilam na vitrina. A fila para pagar lanches e encomendas atravessa toda a sala e já espera junto à entrada. Há quem desespere entre dentes mas não damos por ninguém desistir – de esperar para pagar e de esperar para comer.

“Ainda estamos um bocadinho a tentar afinar os processos”, confessaria Alexandra Sotto Maior numa entrevista telefónica dois dias depois. “Ainda por cima houve algumas coisas que não ficaram logo prontas. Não tínhamos telefone e o nosso sistema operativo de caixa também demorou alguns dias a ficar completamente operacional.” Mas agora, garante, “já está tudo a entrar na linha e a correr como nós gostamos”.

Sobre as mesas, há crepes com chantilly em ziguezague, tíbias cobertas de açúcar em pó, sumos e batidos em pequenas garrafas de vidro. Mas os éclairs – produto-mor da leitaria – são líderes indiscutíveis. Há quem peça dois diferentes para provar, quem divida mais um com o parceiro. A massa choux e o chantilly caseiro são sempre os mesmos, mas existem oito coberturas diferentes. O suficiente para dar fome aos olhos – e não só.

Os sabores fixos são: chocolate de leite (que em 2012 foi registado como O Doce do Porto), limão, chocolate negro, maracujá, frutos vermelhos, caramelo artesanal, crocante (com chocolate e avelã) e black&white (com cobertura de chocolate branco e o único com recheio de mousse de chocolate em vez de chantilly). Depois há éclairs sazonais. O Outono chega no final do mês e promete ser uma bomba de chocolates: vai ter recheio de Nutella e inclui um profiterole, desvenda Alexandra. Já o doce especialmente criado para celebrar o Halloween “vai ter umas presas grandes e vai ser preto com asinhas”. Para cada data especial há quase sempre um éclair temático, do Natal aos dias do Pai, da Mãe ou dos Namorados.

Os novos sabores são uma aposta recente, assim como a chegada de novos produtos. Em 2012, quando a Leitaria da Quinta do Paço estava à beira da falência, José Eduardo e Joana Costa compraram-na e deram-lhe novo fôlego. A imagem modernizou-se, as paredes pintaram-se de branco luminoso e a oferta foi-se alargando.

Dos tempos em que a fábrica de Paços de Ferreira distribuía leite e derivados na zona do Porto recuperaram-se os lacticínios e a respectiva venda a peso (assim como as fotografias antigas que habitam as paredes). As manteigas artesanais, os queijos, o chantilly e, mais recentemente, os iogurtes. Depois pegou-se nos doces de fruta que coroam os éclairs e fizeram-se compotas, os chocolates surgiram em tabletes e bombons. Vieram os azeites e as marmeladas que compõem o resto das prateleiras. A ementa também cresceu a snéclairs salgados, sandes e tostas em pão alentejano, bolos à fatia (ou ao quilo, por encomenda), a menus de pequeno-almoço, de brunch ou para o almoço.

Com o processo de revitalização da marca veio também a progressiva expansão, com a abertura de novas lojas. Em 2014, a casa inaugural na Baixa do Porto ganhou uma irmã no Mercado do Bom Sucesso (onde, curiosamente, a leitaria chegou a ter um posto de distribuição) e, um ano depois, ao Norteshopping, onde também já tinham tido uma loja. Em Outubro de 2015, abriram outra no centro de Matosinhos, a poucos metros da praia.

O objectivo, avança Alexandra, é não ficar por aqui. “A ideia é que a nova loja em Lisboa possa funcionar um bocadinho como a loja-mãe e com o tempo – e calma – vir a ter mais duas ou três, franchisadas, em zonas mais centrais” da capital portuguesa. E, depois, internacionalizar. “É um processo que ainda está no início. Estamos a começar a desenvolver os estudos, com os pés assentes na terra, mas era algo que nós gostávamos muito de vir a concretizar”. Nos planos estão, para já, Madrid e Londres. No futuro, quem sabe, partam à conquista do mundo. Um éclair de cada vez.

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