Fugas - restaurantes e bares

Daniel Rocha

Sucesso português inspira Time Out a lançar mercado em Londres

Por Mara Gonçalves

Uma semana depois de ter anunciado a abertura de um segundo mercado no Porto, o grupo Time Out avança oficialmente para a expansão internacional. O primeiro espaço de restauração fora de Portugal é também um regresso a casa: Londres, onde a revista nasceu em 1968.

Os dois anúncios chegaram com uma semana exacta de diferença, mas a divulgação não podia ter sido mais oposta. A 5 de Outubro, reposto o feriado da Implantação da República, celebrava-se igualmente o centenário da inauguração da estação de São Bento, no Porto, e a efeméride era aproveitada para anunciar, com pompa e circunstância, a abertura do segundo mercado da Time Out no icónico edifício da Invicta.

A chegada ao Porto confirmava o sucesso do conceito inaugurado em 2014 no mercado da Ribeira, em Lisboa, e vinha já de malas feitas para o passo seguinte: a internacionalização. O segundo Time Out Market era “parte de uma estratégia” que tinha como objectivo “desenvolver o conceito a nível global e alargar a chegada de novos mercados a outras cidades”, avançavam em comunicado. O projecto para Londres estava, então, “em estado avançado”.

Uma semana depois, um tímido comunicado publicado na página-mãe da Time Out confirmava a chegada à capital britânica do novo ramo de negócio da chancela mundial de publicações dedicadas ao turismo, lazer e cultura. O conceito do mercado nasceu na revista portuguesa, mas a expansão além-fronteiras tinha de começar por um inevitável regresso a casa – Londres, onde a publicação nasceu em 1968.

“É uma grande responsabilidade”, confessa à Fugas João Cepeda, responsável por toda a componente criativa dos projectos Time Out Market. Uma responsabilidade a duplicar: implementar o primeiro mercado fora de Portugal e na cidade-mãe do grupo. Na verdade, a triplicar. Ou a quadruplicar. Porque os dois novos mercados vão ser desenvolvidos “em paralelo” e têm abertura prevista para a mesma altura: “segundo semestre de 2017”. E o Porto marca também um regresso a casa, o do portuense João.

Nos dois projectos, o “conceito de raiz vai continuar a ser o mesmo”, replicando a ideia inaugural do mercado da Ribeira: “reunir debaixo do mesmo tecto o melhor que [cada] cidade tem para oferecer”, indica o responsável. A selecção dos restaurantes, chefs e lojas que vão estar presentes também vai continuar a ser feita pelas equipas locais da publicação.

Mas se no Porto o local escolhido é um edifício histórico da cidade, na capital britânica o projecto aterra no novo bairro mais hype da metrópole – Shoreditch, na zona este de Londres, mesmo em frente ao Old Spitalfields Market (que há uns anos recebeu um projecto de revitalização semelhante ao replicado nos mercados lisboetas e as bancas de hortaliças, carnes e frutas foram substituídas por espaços de restauração e barraquinhas de roupa e de artigos vintage – estilo Ribeira meets Feira das Almas).

É no número 106 da Commercial Street deste bairro do East End, que “nos últimos anos se transformou no hub criativo de Londres”, que será instalado o primeiro mercado da Time Out fora de Portugal. As antigas cavalariças – actualmente “utilizadas para pequenos mercados de artesãos” – vão dar lugar a “17 restaurantes, uma academia de cozinha, quatro bares, uma loja e uma galeria de arte”.

Ou pelo menos é esse o plano inicial. Tal como no Porto, o anúncio assinala apenas a assinatura do “acordo comercial com os proprietários do espaço”. Algo que em Londres levou “um ano a ser negociado” e no Porto “quase dois”. Agora segue-se toda a fase de planeamento e de implementação, sujeita a permissões das diferentes entidades e autoridades locais, para depois entrar na negociação dos espaços com marcas e chefs.

Para já, João Cepeda não avança nomes, mas garante que “donos de vários restaurantes já mostraram interesse”. “Há óptimos indícios de que não será difícil” preencher todos os stands, afirma, indo até mais longe: “podia encher os dois mercados com os pedidos que já nos chegaram, mas não queremos fazê-lo assim, porque a curadoria feita pela equipa local é um elemento essencial e diferenciador do conceito”.

Ainda que com muita estrada por definir e desbravar, o certo é que o carro da expansão internacional não dá sinais de querer abrandar. A prospecção de novos destinos onde implementar o conceito ocupa “metade do tempo” da equipa. Na calha, estão os Estados Unidos, com “possibilidades muito fortes” em Nova Iorque e Miami. É para lá do Atlântico que as atenções estão especialmente viradas neste momento, confessa o responsável, mas também querem crescer na Europa. Berlim é “uma hipótese”, ainda sem “nada confirmado”.

O ramo da Time Out Market está a crescer dentro do grupo e se a parte financeira passa a estar sediada em Londres, a parte criativa vai manter-se em Lisboa, onde o conceito nasceu. É a equipa portuguesa que continuará responsável por todos os aspectos que “dão corpo ao conceito” nas novas localizações, da arquitectura do espaço ao design e curadoria. Um facto que orgulha João Cepeda. “Sinto cada vez mais orgulho no nosso trabalho nacional. Tem sido muitíssimo elogiado por onde passamos [na procura de novos mercados] e muitos já conheciam o conceito do mercado da Ribeira – é mesmo um case study em muitos sítios -, o que revela que a qualidade [do projecto] é valorizada pelo mundo fora”.

O mercado da Time Out foi inaugurado em Lisboa em 2014, no histórico edifício junto ao Cais do Sodré. João Cepeda era então director da versão lisboeta da revista. Quatro anos antes, tinham sido candidatos isolados num concurso municipal para revitalizar o mercado da Ribeira. Venceram. Actualmente, o edifício integra “24 restaurantes, oito bares, mais de uma dezena de espaços comerciais e uma sala de espectáculos”, enumeram no site. No primeiro semestre deste ano, registaram “um crescimento de receitas na ordem dos 106%, um recorde face ao número de visitantes (1,3 milhões)”, indicavam na semana passada em comunicado, a propósito da chegada ao Porto.

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