Fugas - restaurantes e bares

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Respeitável público, eis o mundo fantástico do circo das sardinhas

Por Jessica Rocha

O Rossio tem um novo chamariz: é uma loja exclusiva de sardinha em conserva, com decoração circense, como se tivesse acabado de chegar da Disneyland.

À primeira vista estranha-se, depois entranha-se. Será? As opiniões dividem-se, mas ninguém fica indiferente ao Mundo Fantástico da Sardinha Portuguesa. Abriu esta quinta-feira, de frente para a Praça D. Pedro IV, em Lisboa, e causou furor. À iluminação presente na montra juntaram-se as luzes natalícias que se acendem nos pisos superiores do prédio em que está inserida, tornando-o num farol que atrai as atenções de quem passa. Nesta sexta-feira, à luz do dia e mesmo sem decorações de Natal, o atractivo manteve-se. Mas será o produto para venda suficientemente óbvio?

“Quando passámos, não tinha ideia que género de loja era. Achámos que era uma loja de brinquedos. A minha mulher até disse 'Venho buscar-te daqui a 10 minutos! Vai lá e diverte-te!'." Podia ter sido um lisboeta a dizer isto, mas calhou ser Niel Hoffman. O turista alemão, acompanhado da mulher, Roya, confessou que, além de uma loja de brinquedos, também pensaram num casino: “Com tantas luzes, achámos que lá dentro teria aquelas máquinas para jogarmos." E, ao entrarem, a confusão não se desfez de imediato. “Tive de pegar numa lata, virá-la e ler no verso, e aí percebi que estão a vender peixe em lata! Mas não foi chocante, foi surpreendente por apenas um produto preencher uma loja inteira!”. Quanto à hipótese de haver algo do género na Alemanha, trocaram um olhar surpreendido, mas a conclusão foi rápida: “Não, nunca vi nada assim, nem deste tamanho nem decoração. Os empregados são muito simpáticos, mas infantis. A loja está desenhada para atrair crianças, com o carrossel e a atmosfera de circo. Não temos disto lá."

A confusão poderia partir só de estrangeiros, mas alguns alfacinhas também a sentem. Teresa Santos, outra das visitantes neste segundo dia de portas abertas, admitiu que foi a confusão que a levou a entrar. “Entrei por acaso, porque toda a parte exterior me parece uma loja chinesa. Estava a comentar isto com o funcionário, achei que era uma pena, porque é uma loja giríssima por dentro, mas por fora, quem olha, todas as cores e a decoração, parece uma loja chinesa!” E continua: “Hei-de voltar para levar as latas porque é muito interessante para oferecer, por causa das datas. E o preço também é muito acessível, cada lata custa 5€. A ideia está giríssima, atenção, a minha pena é só a decoração da loja, porque acho que não tem a ver connosco, com Portugal, estas cores e a decoração."

Mas as críticas não foram todas negativas. Verónica Faria, portuense, estava a tirar fotografias às filhas, em frente ao carrossel que está na montra. Beatriz, de 14 anos, e Inês, de 11, faziam poses e sorriam, achando piada à montra, mas sem perceberem a verdadeira razão do aparato que se gerava em torno dela. “Acho a ideia engraçada, mas não percebo o sentido disto tudo. São só sardinhas em lata, não era preciso tanta coisa!”, diz Beatriz. A mãe opõe-se: “Isto é uma coisa absolutamente atraente. Chama a atenção no bom sentido, sim!” Já o conceito dos anos gravados nas tampas das latas não lhe parece tão promissor. “Acho que com o vinho do Porto faz algum sentido, fica bem porque ele envelhece, e quando fizer 50 anos bebo a garrafa que tiver comprado agora, mas com as sardinhas não. Agora que a decoração da loja está gira e vai atrair turistas, não tenho dúvida nenhuma."

Quanto ao sítio em que está localizada, julga que será mais um chamariz para o Rossio e não descarta a ideia de que viesse a fazer igual sucesso a Norte: “Também resultava no Porto, perfeitamente! Causava impressão, claro, mas só não causaria na Eurodisney! Isto é uma coisa muito vocacionada para o Natal, para luzes, para brinquedos, é uma coisa extremamente infantil! Não entra num conceito normal de cidade turística. Mas isto não é uma crítica, porque é uma coisa que surpreende pela positiva!”.

Opiniões à parte, e porque uma loja não se deve julgar pela montra, há que conhecer o conteúdo. Patrícia Machado, uma das responsáveis, mostra-se satisfeita com a enorme afluência desde a inauguração. A intenção do espaço, como contou, é a de homenagear um peixe que “representa a nossa cultura gastronómica naquilo que tem de mais popular”.

“No fundo, é uma homenagem que se pretende que seja moderna e que consiga chegar a todas as pessoas, de todas as idades, independentemente da sua origem, até do seu país, visto que esta é uma zona da cidade privilegiada para receber público que vem do mundo inteiro." Quanto às reacções recebidas, impera o espanto: “As pessoas focam-se muito na cor, no movimento, na música, e só num segundo momento é que se perguntam o que é isto. Das perguntas que nos têm feito, têm sido sobretudo se são doces e se são mesmo sardinhas comestíveis que estão dentro da lata, porque não associam de imediato que seja uma conserva de sardinha portuguesa em azeite português, que é exactamente o que está dentro de todas as latas."

Têm 100 referências em loja, de 1916 a 2016, em que destacam efemérides e personalidades conhecidas nacional e internacionalmente que nasceram nos respectivos anos. Dentro das próximas semanas vão chegar as de 2017 e por aí em diante. Os clientes podem deixar sugestões, através de um formulário, com o ano que sugerem e aquilo que gostavam de ver referido na lata. “Ontem, por exemplo, houve uma senhora que comprou a lata de 1936, que correspondia ao ano de nascimento do pai, e deixou-nos a sugestão de, numa próxima edição, naquele ano fosse referido o nascimento do Rato Mickey”. Mas confessa, satisfeita, que ainda não se apercebeu de nenhumas críticas negativas.

De frente para a montra, com vista privilegiada para o corrupio do "entra e sai", fica o quiosque de João Prates, e o proprietário reconhece que, desde que abriu as portas, o Mundo Encantado tornou a rua mais animada. “Chama muito a atenção, mesmo por estarem ali à frente a tirarem fotografias. E à noite também tem muita luz, tanto que quase parece que está de dia." Admite que já teve curiosidade e arriscou entrar, mas ainda não provou as sardinhas. “É uma ideia fabulosa, visto que é só um produto na loja inteira. Mas não tenho curiosidade de provar (as sardinhas), por enquanto”. Mas se tivesse de escolher uma lata, escolhia a do ano 2007: “O ano de nascimento da minha filha, Inês”. 

O Mundo Fantástico da Sardinha Portuguesa
Rossio, frente à estátua de D. Pedro IV, Lisboa
Horário: das 10h às 22h

Texto editado por Sandra Silva Costa

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