Fugas - restaurantes e bares

  • Adriano Miranda
  • Nelson Garrido

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Nem sempre o bacalhau foi rei na mesa de Natal

Ao bacalhau, os minhotos passaram a juntar o polvo, que também respeitava o jejum. O ambiente de festa e de grande celebração familiar compunha-se com uma vasta panóplia de doces, mesas exuberantemente decoradas, tudo em abundância quase desmedida e a obrigação de que tudo se mantivesse sobre a mesa até à refeição do dia seguinte.

Ou seja, a grande festa da família que rivalizava até com os grandes banquetes parisienses. “Há um só banquete português que desbanca todos os jantares de Paris, mas que os desbanca inteiramente: é a ceia da véspera de Natal nas nossas terras do Minho”, como em finais do século XIX, descreveu Ramalho Ortigão.

A pesca e o consumo de bacalhau constituíram um dos desígnios centrais da política do Estado Novo. À satisfação das necessidades alimentares o regime associava-lhe a exaltação de valores heróicos e identitários do nosso povo: um produto especial, preparado e consumido segundo o engenho e criatividade únicos dos portugueses, explorado em águas internacionais em condições heróicas e perante a admiração estrangeira.

Desígnio nacional

E com a chegada da televisão, em meados do século passado, o bacalhau ganha grande protagonismo e é assumido como desígnio nacional. As partidas e chegadas das heróicas frotas de bacalhoeiros tinham direito a grandes reportagens e eram abençoadas em directo pelos mais altos dignitários da Igreja. Paulatinamente, os portugueses passaram a adoptá-lo como símbolo de Natal e da festa da família, tornando-se também um produto abençoado pela Igreja.

Maria de Lurdes Modesto concorda que foi o bacalhau que esteve na base do alargamento do modelo de consoada minhota para todo o país. “O bacalhau, que é uma grande paixão dos portugueses, é que esteve na base da mudança”, disse em tempos à Fugas. “E eu também não me tiro de fora”, assumiu, referindo-se às “sumptuosas consoadas minhotas que todos os anos preparava para os programas na RTP” que protagonizou durante as décadas de 1960 e 1970.

A acompanhar o bacalhau, em postas altas e bem demolhado, devem estar as batatas, couves — penca e galega —, cenouras, cebolas e um ovo para cada pessoa. Tudo cozido e servido em fartas travessas, depois de devidamente escorrido. No prato, aduba-se com azeite, vinagre e alhos ao natural, havendo quem prefira um molho fervido com alhos e uma lasca de cebola.

Mesmo assim, em boa parte das mesas há também espaço para os assados de peru ou galo, cabrito, borrego ou leitão, e também, mais a Norte, o polvo guisado é obrigatório.

Quatro vinhos para a noite de Natal

Niepoort VV Vinhas Velhas Branco 2013

A Bairrada e os seus solos calcários eram uma velha paixão que Dirk Niepoort viu correspondida com a aquisição da Quinta de Baixo. É de vinhas centenárias, trabalhadas segundo os mandamentos biodinâmicos, que saem as uvas das castas Maria Gomes e Bical que entram neste vinho. Exemplo perfeito da leveza e complexidade da Bairrada, é um vinho limpo, elegante, fino, e sobretudo sempre fresco. Tem corpo e garra, mas é ao mesmo tempo austero, mineral e muito digestivo. Um excelente parceiro para o bacalhau de Natal.

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