Fugas - restaurantes e bares

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20 tascas “à antiga” em Lisboa e no Porto

Por Alexandra Prado Coelho e José Augusto Moreira

Numa altura em que aparecem tascas “modernas” e “criativas” um pouco por todo o lado, fomos ver se as antigas tascas tradicionais ainda resistem. E, sim, apresentamos aqui vinte provas de que estão bem e recomendam-se.

Muitas tascas de ambiente familiar e cozinha caseira têm vindo a desaparecer. Mas é ainda fácil, quer em Lisboa e arredores quer no Porto, encontrar lugares que mantêm o espírito intacto. Algumas são herdeiras das antigas carvoarias, em muitos casos propriedade dos galegos que procuravam em Portugal uma vida melhor, e com o tempo transformaram-se em casas de pasto, servindo uns copos de vinho e uns petiscos aos homens que vinham comprar carvão.

Hoje quase todas funcionam como restaurantes, com serviço de almoços e jantares, e os clássicos pratos do dia. Mas, em muitas delas, ainda é possível ir só tomar um copo ao balcão, comer um rissol e dar dois dedos de conversa com o patrão que, entre uma limpeza de balcão e outra, arranja uns minutos para dar atenção aos clientes habituais. Estão cheias de vizinhos (o que é um bom sinal, como se sabe) e às vezes é preciso esperar para conseguir lugar. Mas, para quem procura uma comida de conforto, feita por quem sabe, continuam a ser um refúgio seguro.

Nota: As primeiras oito tascas de Lisboa foram sugeridas por Tiago Pais, autor do livro

 

As 50 Melhores Tascas de Lisboa

Lisboa

Zé dos Cornos

Chegamos ao Zé dos Cornos às dez da manhã e já está instalada a azáfama, com João atrás do balcão a arrumar os queijos de Alpedrinha (Fundão) e a preparar a perna de presunto. O prato do dia é pernil e também já está pronto na cozinha. E, na parede, estão os cornos de boi que levaram os fregueses a rebaptizar a tasca quando José Ferreira, pai de João, os trouxe para aqui.
A casa está na família de João, originária de Ponte de Lima, no Minho, há muitos anos. No tempo do seu avô era carvoaria, como muitas que havia em Lisboa, a vender carvão, lenha, petróleo, serradura. Depois tornou-se tasca, a servir copos de vinho e tabaco. “Ao princípio, com o meu pai, tinha mesas de mármore e vendia vinho, queijinho, peixe frito. O pessoal vinha aí com a lancheira e ele aquecia”, conta João, que leva já meio século de casa.
Tiago Pais, que costumava vir aqui almoçar às terças-feiras, dia de entrecosto, elogia sobretudo o arroz de feijão que o acompanha, e, em geral, todos os grelhados. Para além da simpatia do João, claro. Talvez por isso esta foi a única casa que resistiu numa rua onde existiam outras oito ou nove. A clientela antiga ainda vem, mas agora está cheia de “cámones” e estes “querem é peixe”, diz João. Mas, para os apreciadores, não falta a lampreia no tempo dela e a cabidela, se for encomendada. ALexandra Prado Coelho.

Zé dos Cornos
Beco dos Surradores nº 3 (Mouraria)
De 2ª a sábado das 8h às 22h
Telf: 218 869 641

 

A Provinciana

O estabelecimento virá já dos anos 30, pertenceu a uns galegos, mas o sr. Américo, que antes trabalhava numa das casas de ginginha do Rossio, tomou conta dele em 1988 – sabe bem a data, foi no ano do incêndio do Chiado, um bairro histórico no centro de Lisboa. As paredes estão cheias de relógios e só isso valeria a visita. São o hobby do sr. Américo, que aos domingos, dia de folga, se entretém a montar sistemas de relojoaria em tampas de barris, fundos de pratos, azulejos ou qualquer outro suporte. “Sabe-me dizer quantos são?”, desafia-nos. Gosta de adivinhas e ficamos ali, em conversa de balcão, enquanto vão aparecendo clientes para beber um copito.
Na cozinha está a D. Judite, mulher do sr. Américo, a preparar as especialidades da casa, que vão do bacalhau à minhota às segundas-feiras, à caldeirada de bacalhau aos sábados, passando pela chanfana, feijoada, dobrada ou cozido. Tiago, que veio pela primeira vez a conselho de um amigo, nota que na rua há umas quatro tascas boas, “mas esta é que enche sempre”. Mais uma vez, a simpatia da família explica (quase tudo). Sim, porque o cozido das quintas-feiras também explica muita coisa. A.P.C.

A Provinciana
Travessa do Forno nº23-25 (Rossio).
De 2ª a sábado das 8h às 22h.
Telf: 213 464 704

 

Merendinha do Arco

É possível traçar as origens da Merendinha do Arco pelo menos até aos anos 20 do século passado. David Castro, hoje à frente da casa famosa pelas pataniscas (no seu guia, Tiago garante que “estão entre as melhores da cidade) mostra-nos uma fotografia à porta que revela que o espaço foi naquele tempo uma garagem de carroças. Na década de 40, uma dupla de galegos abriu aqui uma tasca que nos anos 70 se tornou propriedade de um irmão de David já falecido. Quando ficou com o estabelecimento, o actual proprietário fez algumas mudanças, poucas (a cozinha continua a ser na parte de cima) mas o espaço manteve o carácter.
“Ainda há quem chegue aqui e peça um copo de vinho e uma patanisca para comer ao balcão”, diz Tiago. Nas paredes anunciam-se moelas, gambas a la guilho, pregos (sanduiches de bife) e torresmos. Mas a comida de tacho tem pouca saída com os turistas. Estes só querem “peixinho e bacalhau”. Se forem chineses, então, “só querem fritos”. E, nesse campeonato, as pataniscas continuam a ser uma aposta vencedora. A.P.C.

Merendinha do Arco
Rua dos Sapateiros 230-232 (Baixa).
De 2ª a sábado das 8h às 20h.
Telf: 213 425 135

 

Sardinha

Foi o bitoque (bife, ovo estrelado e batatas fritas) que levou Tiago Pais ao Sardinha. Mas depois vieram outras coisas que o convenceram a voltar. Por exemplo, o facto de haver bacalhau à Brás todos os dias – “e não é uma coisa assim tão fácil de encontrar”.
O espaço é pequeno e, como em tantas tascas tradicionais, o trabalho está todo nas mãos de um casal, o sr. Duarte, desde há 34 anos na sala, e a mulher, na cozinha. Discreto, paredes de azulejos com desenhos, ambiente familiar, mas os estrangeiros sempre a espreitar a ementa à porta, tentando decifrar os nomes dos pratos escritos em português. “Está numa zona turística mas conseguiu conservar-se como era”, elogia Tiago.
Quando aparecem turistas – no dia em que lá almoçámos havia uma mesa de russos -, o sr. Duarte tenta entender-se com eles no seu melhor inglês. “To drink? Água?”. E todos se compreendem. Os clientes habituais espreitam a ver se há mesa, vão pedindo o bacalhau à Brás, que é feito na hora e “demora uns minutinhos”, avisa o sr. Duarte, ou o prato do dia – que era feijoada na nossa visita, mas, tomem nota, é cozido à portuguesa todas as quartas e quintas. A.P.C.

Sardinha
Rua do Jardim do Tabaco nº 20 (Alfama).
9h30 à meia-noite, fecha ao sábado.
Telf: 218867437

 

Imperial de Campo de Ourique

Estamos na Imperial de Campo de Ourique, onde mais uma vez se prova que a personalidade do anfitrião é mais de meio caminho andado para o sucesso de uma casa. “O sr. João é uma figura incrível”, dia Tiago. E nós comprovamos, enquanto o vemos a atravessar as duas salas do seu restaurante, a grande velocidade, trazendo grandes tachos de cabidela (tem que ser encomendada de véspera, porque “é feita com capão, sabe? o pica no chão”, explica) cozinhada pela D. Adelaide.
Não tínhamos encomendado cabidela, mas o bacalhau à minhota estava com muito bom aspecto, as batatinhas às rodelas bem fritas e a dobrada também, assim como as moelas, macias e saborosas. “E o vinho, gostou?”, pergunta o sr. João. “É colheita nossa. Da Arruda dos Vinhos”. E apressa-se a explicar que é onde vivem familiares, embora, originalmente, sejam do Minho. E orgulhosos disso.
Tiago foi levado por Gonçalo Santos, o fotógrafo do seu guia das tascas, e provou a cabidela. Voltou e foi sempre tão bem tratado, que a Imperial – mais conhecida como a Tasca do João –, figura nos Palitos d’Ouro com os quais distingue as sete melhores tascas de entre as 50 do livro. A.P.C.

Imperial de Campo de Ourique
Rua Correia Teles nº 67 (Campo de Ourique).
De 2ª a sábado das 8h às 22h.
Telf: 213 886 096

 

Zé da Mouraria

Ainda nos vamos a aproximar do Zé da Mouraria e já Tiago vai a elogiar as postas de bacalhau que ali são grelhadas. Escondida numa viela do bairro que lhe dá nome, esta é talvez a tasca que mais se modernizou, mas a vantagem é que quase não damos por isso. Aqui não há sr. Manel e sr. Maria na cozinha e ao balcão – quem tomou conta do espaço do antigo Zé dos Grelhados foi Virgílio Oliveira, que já tinha experiência de chef em hotéis do Algarve e em Luanda.
É ele quem nos recebe, t-shirt preta a dizer o nome, igual à dos empregados, parte dos quais estão na cozinha à volta do dito bacalhau, em postas que, sim, confirmamos, são enormes. É prato do dia todas as sextas e sábados e um emblema da casa onde, orgulha-se Virgílio, só se usam produtos frescos, tal como sonhava que iria fazer quando ainda trabalhava nos hotéis, com congelados. “Esta é a tasca mais emblemática da Mouraria”, anuncia, mas isso já era evidente pelas fotos de visitantes famosos nas paredes.
Os grelhados são prato forte – o entrecosto, a picanha, os choquinhos (“gasto todos os dias 60 quilos de chocos”), mas o arroz de pato à antiga também faz sucesso, até porque é daquele feito a preceito, que “dá imenso trabalho mas vale a pena”. E não vale a pena ter pressa. “O nosso lema aqui é que só sai para a mesa quando estiver bom”. A.P.C.

Zé da Mouraria
Rua João do Outeiro nº 24 (Mouraria).
2ª a sábado das 12h às 16h (não servem jantares)
Telf: 218 865 436

 

Adega Solar Minhoto

Não é em nenhuma tasca num bairro antigo de Lisboa que se come aquele que é um dos melhores bitoques da cidade. É no mais moderno bairro de Alvalade, num pequeno restaurante junto aos bombeiros, nas traseiras do mercado. Chama-se Adega do Solar Minhoto e é conhecido pela esplanada (o espaço interior é pequeno e não muito bonito) e pelos bitoques generosos, com boa carne, bom molho e irrepreensíveis batatas fritas. E estas, lembra Tiago, “são uma parte importante na equação do bitoque”.
Mas a ementa da Adega do Solar Minhoto está longe de se reduzir a este ícone. Há, continua Tiago, uma boa vitela assada, bom bacalhau à Brás e vale a pena experimentar os salgadinhos (pataniscas, croquetes) que vêm para a mesa no início da refeição ou que podem ser comidos na esplanada com uma cerveja. É também poiso para amantes de caracóis. Dois avisos importantes que o autor do guia das tascas nos deixa: muitas vezes é difícil arranjar mesa, pelo que é de evitar as horas de ponta; e as doses são generosas, uma dose para dois dá bem para três. A.P.C.

Adega Solar Minhoto
Av. Rio de Janeiro nº 29F (Alvalade).
2ª a sábado das 8h às 22h.
Telf: 218 489 493

 

O Cardoso  do Estrela de Ouro

Esta é, segundo Tiago, outra casa que vale muito pelo seu anfitrião, o sr. Cardoso que lhe dá nome. Chama-se O Cardoso do Estrela de Ouro porque fica mesmo ao lado do bairro operário Estrela de Ouro, na Graça, fundado no início do século XX por um conhecido empresário de Lisboa, Agapito Serra Fernandes.
O espaço é apertadinho, praticamente um corredor, com as mesas alinhadas entre a parede e o balcão. A clientela fiel chega para almoçar e o sr. Cardoso vai conseguindo encaixar uns e outros, serviço rápido e boa disposição a ajudar a que tudo funcione.
Nota: esta é uma casa de caracóis. Quem, na época deles, anda à procura de sítios de confiança onde os possa comer, fica a saber que tem aqui um deles – “doses generosas e apuro certeiro”, nas palavras de Tiago. De resto, há os tradicionais pratos do dia, sempre prontos a sair, do bacalhau com grão ou à lagareiro das segundas-feiras ao cabrito ou coelho dos sábados, com passagem pelos pastéis de bacalhau com arroz de feijão, a dobrada (feijoada tradicional com carne de porco), o (quase omnipresente neste tipo de tascas) bacalhau à minhota, o cozido às quintas e a cabidela às sextas. A.P.C.

O Cardoso do Estrela de Ouro
Rua da Graça nº 22 (Graça)
2ª a 6ª das 12h às 15h e das 18h30 às 21h30; sábados das 12h às 16h

 

Adega dos Passarinhos

Quando se fala de bifanas, a arte bem portuguesa de colocar uma febra de porco dentro de um pão, a polémica estala. O tempero da carne e a qualidade do pão fazem toda a diferença. Mas em Setúbal, terra do choco frito, há peregrinações à Adega dos Passarinhos.
Esta foi a escolha do chef Luis Barradas quando lhe pedimos que sugerisse uma tasca da sua cidade natal. É um espaço familiar, com fotografias de família nas paredes. “Muitos da geração de 70, como eu, apanharam no Bird’s Pub, como lhe chamamos, as suas primeiras bebedeiras, com penaltis e submarinos”, recorda a rir (para quem nunca andou por estas águas, um submarino é uma imperial “carregada” com um copo de bagaço – e um penalty é um copo alto com vinho). A geração mais velha também faz ali poiso. “Ainda é costume entrar e ver os velhotes com um copo de três”. Às vezes, com uma bifana, outras, com uma travessa de bacalhau com grão, muito bem regado com azeite, claro, ou uma salada de feijão-frade. Francisca Gorjão Henriques

Adega dos Passarinhos
Rua Tenente Valadim, 17, Setúbal
Das 12h00 as 15h00 e das 19h00 às 23:00.
Telef: 265534096

 

Refúgio do Ciclista

Refúgio do Ciclista: o nome diz tudo. Manuel Correia era um profissional e tem prémios para apresentar. As paredes estão cheias de recortes de jornal e camisolas emolduradas, incluindo uma onde se lê Robbialac (de uma corrida que venceu em 1966), ou a que tem as cores de Portugal, quando foi campeão nacional.
Há 40 anos, o Refúgio era um pequeno espaço que juntava café e restaurante no principal largo do Penedo, aldeia do Espírito Santo, em Sintra. Em 2000, mudou-se para as traseiras e ganhou uma sala ampla. Nas mesas e bancos corridos sentam-se lado a lado serventes de obras e intelectuais. Há cerca de oito anos, o ciclista passou o negócio ao filho, António Correia, que se ocupa da grelha, enquanto a mulher, Cátia Cristóvão, serve os clientes. A tradição manteve-se: temos direito a bom pão, azeitonas, uma garrafa de vinho ou refrigerante, sopa, salada, prato e sobremesa. Os grelhados (peixe e carne) são o ponto forte da casa, e a refeição completa varia entre os 6,5 euros e os 8,5 euros. O rei é a “mista à ciclista”: uma grelhada que junta costeleta, entremeada e salsicha. F.G.H.

Refúgio do Ciclista
Largo do Chafariz, Penedo (Sintra).
Aberto das 12h00 às 14h30. Encerra ao domingo
Tel. 219280088

 

Porto

Casa das Iscas

A Casa das Iscas é assim uma espécie de instituição de Paranhos. No largo da igreja, como nas aldeias, ou não fosse Paranhos uma das zonas do Porto onde a vida continua a correr devagar e, aqui e ali, ainda sobrevivem costumes de uma ruralidade enraizada.
É preciso dizer que as iscas são mesmo as verdadeiras. Coisa bem diferente dessa variante fofa de massa passada na varinha mágica que resulta numa espécie de bolo salgado.
A isca tem a posta de bacalhau frita - das partes mais baixas, das abas - polme com farinha milha e ovos. Faz-se numa fritura lenta, enrolando como se fosse uma omeleta até ganhar crocância e envolver a posta. Também o bacalhau tem pele e espinha, e com isso as gelatinas que lhe dão identidade (e sabor). Bacalhau seco, salgado e demolhado a preceito. Nada de congelados ou vácuos!
Na Casa das Iscas também há rojões no pingue, que é assim que se fazem os rojões da tradição minhota e já é difícil encontrar.
A par de outras frituras – tripas enfarinhadas, rissóis, bolinhos de bacalhau - costuma haver também o bucho ou salada de orelha. E também um arroz feijão vermelho para aconchegar estômagos mais desvalidos.
Neste recanto com vista para a Igreja de Paranhos, a tradição ainda é quem mais ordena. E nem as obras recentes – a casa ficou mais arejada e acolhedora - ou as notícias da passagem por lá do mediático Anthony Bourdain, parecem capazes quebrar as rotinas. Ainda bem! José Augusto Moreira

Casa das Iscas
Rua Igreja de Paranhos, 442
Tel. 224 930 105
Horário – 9h/20h30.Fechado ao domingo

 

Adega Rio Douro

O fado é, por assim dizer, uma espécie de apêndice que deu notoriedade à casa, mas o mais importante é, como facilmente se constata à primeira vista, a dona Piedade. Daí que o nome oficial seja praticamente ignorado e o local quase sempre referido como a adega da Piedade. É ela quem comanda o negócio, impõe o ritmo e, mais importante de tudo, toma conta da cozinha de onde saem deliciosos e diversificados petiscos que costumam atrair a clientela a partir de meados da tarde.
O cheiro a cominhos do tacho de bucho que vem da cozinha ainda a borbulhar não deixa margem para dúvidas. Mas há também rojões, fêveras, bolinhos, panados, rissóis e outras iguarias que diariamente se repetem segundo a imaginação e disponibilidade de produtos da cozinheira. E como além dos fogões é também competente e acolhedora anfitriã, o melhor é mesmo seguir as suas sugestões. “Ó filhinho, isso hoje não há, mas as fêveras estão muito boas.” Para bom entendedor...
Imperdíveis são mesmo o pastelão de sardinhas (ou de filete) e as iscas de bacalhau. Para além dos comes e bebes, todas as terças à tarde há uma atracção extra: o fado vadio que ali se pratica há mais de 30 anos e se tornou já num costume enraizado.
A tudo acresce ainda a localização privilegiada. Uma espécie de balcão sobre o rio Douro, cujo espaço exterior funciona também como esplanada. Tá-se bem! J.A.M.

Adega Rio Douro
Rua do ouro, 223
Tel. 226 170 206
Horário – 12h30/23h30. Fecha ao domingo

 

Rei dos Galos de Amarante

Longe vão os dias em que entravam as pipas e o copo se enchia na torneira, mas há ainda um ar e ritmo de antigamente nesta casinha de porta aberta há mais de 40 anos, ali a dois passos da Cadeia da Relação, na Baixa do Porto. Já não é a taberna de outrora e os petiscos de toda a hora servem-se no horário das refeições. Frango na caçarola, lombo assado, cabidela de galo, pois claro, e as inevitáveis tripas à moda do Porto.
Tudo muito bem-posto, arranjadinho e servido com cuidado e carinho pelo sr. Rodrigo e a D. Maria Rosa, que cuidam da clientela com o mesmo desvelo com que em tempos terão cuidado dos filhos.
Ambiente familiar e clientela ecléctica, que tanto vai do morador da rua, aos grupos de jovens que se juntam ao jantar, passando pelos juízes desembargadores do vizinho Palácio da Justiça, que ali se sentam para almoços ao estilo da avó ou da criada lá de casa.
Não há pressa nem modernices. É como se o tempo tivesse parado. A D. Maria Rosa com o seu avental sabe sempre aquilo que nos saberá melhor, as contas são feitas no papel e liquidadas em dinheiro vivo. E damo-nos bem. J.A.M.

Rei dos Galos de Amarante
Rua das Taipas, 121
Tel. 222 057 297
Horário: 12h/16h e 19h/22h. Fecha ao sábado e domingo

 

O Gazela

Há um cachorro, crocante e saboroso, e um balcão em meia-lua em cujos bancos se podem empoleirar, cotovelo com cotovelo, até ao máximo de 14 convivas. Tudo o resto pouco importa para explicar o sucesso deste snack-bar mais que improvável. E, pois claro, os copos de cerveja fresca e borbulhante.
E que têm, afinal, de especial os cachorros d’O Gazela? Desde logo o aspecto alongado - mais de um bom palmo de mão - e o facto de serem servidos em pedacinhos criteriosamente cortados como se de um enchido se tratasse. O principal segredo parece derivar mesmo do pão. É aberto em dois e torrado, tal como a salsicha e a lâmina de linguiça picante com que é feita a sanduiche, que fica segura pelo queijo derretido.
Engenhoso e simples, mas sobretudo muito saboroso e crocante e a pedir o afago da cerveja. Pode acasalar também com batatas fritas.
Além dos originais cachorros há uma mini-lista que propõe também três tipos de pregos. Raro é, no entanto, o cliente que resiste aos encantos do cachorro, muitas vezes complementado por copiosos pratinhos de tremoços e azeitonas.
Também Anthony Bourdain por aqui passou na sua recente visita pelo Porto. J.A.M.

Cervejaria Gazela
Travessa Cimo de Vila, 4
(traseiras do Teatro S. João)
Tel. 222 054 869
Horário: 12h/22h20 (Segunda a Sexta); 12h/17h (Sábado). Fecha ao domingo

 

Tubarão

Sardinha assada, peixes na grelha e sopa de peixe. Os azulejos da parede exterior, o tubarão plástico suspenso sobre a porta e o “caixote” exterior meio improvisado que serve de esplanada e quase dá ar de ramada dão uma envolvente de tasca de peixes a este típico restaurante da zona da lota de Matosinhos.
O despacho, a informalidade e as conversas soltas completam o enquadramento acolhedor que, para além dos grelhados, fazem com que a clientela se amontoe à espera de lugar. É, por isso, prevenido ir cedo ou tentar fazer a reserva.
Escusado será dizer que o peixe é fresco e de qualidade insuspeita, como não podia deixar de ser em contexto de gente do mar e com o cheiro da lota a entrar portas adentro.
Também muito apreciadas as lulinhas grelhadas, com molho de cebola e alho, mas o melhor é nem escolher que a pescaria do dia é sempre de confiança. J.A.M.

Tubarão
Rua do Sul, 65, Matosinhos
Tel. 911 060 939 / 224 031 477
Horário: 11h/15h e 19h/23h. Fecha ao domingo

 

Salta o Muro

É provavelmente o segredo mais mal guardado da zona a lota de Matosinhos. Promete-se que é só para contar a quem merece, mas às tantas já toda a gente sabe. Mesmo assim, apesar do reconhecimento e de casa cheia em permanência, o Salta o Muro mantém-se fiel a si próprio e resiste às modernices e à gula do dinheiro rápido.
Ambiente familiar e acolhedor, onde o cenário de tasca – balcão, mesas com bancos corridos e espaço acanhado – é venerado pela clientela ecléctica.  Há sempre o presunto, as sardinhas fritas e variedade de peixe grelhado ou frito, mas também cozinhados como os filetes e arroz e polvo, caldeirada e até feijoada. O sr. Moreira supervisiona dentro do balcão, a D. Palmira domina a cozinha.
A satisfação é garantida, ainda por cima com uma interessante oferta de vinhos, que se alinham nas prateleiras em madeira suspensas. Mesmo que já não seja assim tanto segredo, é daqueles lugares que achamos sempre exclusivos, que não podem estar ao alcance de todos. E isso também dá conforto e satisfação. J.A.M.

Salta o Muro
Rua Heróis de França, 386, Matosinhos
Tel. 229 380 870
Horário: 12h/15H e 19h/23h. Fecha do domingo

 

Casa Bragança

Travessas em alumínio, vinhos à caneca, bagaço sobre a mesa no final. Mesmo já tendo sido tomada de assalto pelos turistas (internos e externos) na Casa Bragança as travessas continuam a transbordar. Em quantidade, mas também de sabor e aromas tradicionais. E o mais incrível é que há de tudo que se identifica com a cozinha e petiscos nortenhos.
Rojões à moda do Minho (com sarrabulho, feito com restos de pão, miúdos e sangue de porco, e tudo), alheira transmontana, pernil assado, tripas à moda do Porto, bacalhau à Braga, bacalhau à Brás, bucho, fígado com cebolada, feijoada transmontana, sardinhas, bacalhau ou polvo à lagareiro. Até francesinha. E se o cliente limpa a travessa, reforça-se a dose sem que o preço altere. O que importa é que saia satisfeito.
Não há formalismos ou gestos de cortesia desnecessários. Tudo é despacho nesta casa de bem comer que, mesmo no coração da Baixa e à sombra da Torre dos Clérigos, nos conforta o estômago à moda da aldeia. J.A.M.

Casa Bragança
Rua Arquitecto Nicolau Nasoni, 16
Tel.222 002 596.
Horário – 10h/22h30. Fecha ao domingo

 

Adega S. Nicolau

As obras de remodelação aparentaram-na às tabernas modernas no aspecto, mas não alteraram os sabores. O arrozinho de feijão, no Inverno, ou de tomate, no Verão, os filetes de polvo, as tripas e o rabo de vitela mantêm-se e, apesar da afluência crescente de turistas, a Adega São Nicolau não perde a clientela portuguesa. A cozinha é que funciona agora quase em contínuo e não é estranho que se cruzem os últimos do almoço com os primeiros do jantar, tal é o corrupio de turistas.
E mesmo que a vocação de copos e petiscos de outros tempos tenha cedido ao ritmo das refeições, continua a haver sardinha frita e bolinhos de bacalhau, mas também amêijoas à Bulhão Pato, lulas grelhadas, ou até sável e lampreia na sua temporada. Os filetes de polvo com arroz do mesmo e tripas à moda do Porto são património desta casa, que já foi quase única no coração da Ribeira e está agora rodeada de bares e restaurantes por todos os lados. Mesmo com tanta mudança, continua a ser um lugar único e privilegiado. J.A.M.

Taberna S. Nicolau
R. São Nicolau, 1
Tel.222 008 232
Horário: 12h/23h. Fecha ao domingo

 

Casa Aleixo

Ainda subsistem as pitorescas placas a assinalar o Laboratório (cozinha), Farmácia (garrafeira) e Sala de Operações (sala de jantar) mas o estilo e o serviço modernizaram-se  e o ambiente é contemporâneo. A cozinha é a de sempre, e a clientela continua a sentar-se para saborear aqueles que consideram com o os melhores filetes e de polvo com arroz do planeta. Apesar dos muitos anos de história e do relevo geracional, a Casa Aleixo mantém a estrutura, o atendimento e a cozinha de sempre.
Aos filetes de polvo com o respectivo arroz, juntam-se os filetes de pescada, o bacalhau frito com cebolada, o cabrito, a costela mendinha – assados no forno a lenha – e as inevitáveis tripas à moda do Porto. Imperdível é a aletria de ovos que faz parte da identidade da casa. Uma perdição! J.A.M.

Casa Aleixo
Rua da Estação, 216
Tel.225 370 462
Horário: 12h/14h30 e 19h30/22h. Fecha ao domingo

 

Taberna S. Pedro

Há que ter cuidado, que os turistas já atravessaram o rio até à Afurada e a Taberna alargou-se a um terraço lateral com ares de arraial. Não tem mal, para quem goste, mas a Taberna do S. Pedro é a que está na esquina, com mesas no exterior e os grelhadores ali ao lado.
Murmura a maré no casco / os pescadores conversam /à porta do tasco /fumando cigarro forte. Povoado de pescadores, a Afurada mantém ainda a essência do poema de Carlos Tê cantado por Rui Veloso.
S. Pedro continua a ser o protector das gentes do mar, e à porta da taberna – até há pouco quase a única – continua-se a grelhar sardinha, robalo, lulas, linguado ou rodovalho.  Para lá dos peixes e do ar de maresia, a ida até a Afurada vale também a pena pela travessia do Douro nos pequenos barcos que em permanência fazem a ligação à Cantareira. O peixe até sabe melhor. J.A.M.

Taberna do S. Pedro
Rua Agostinho Albano 84. Afurada.
Tel. 912 846 887.
Horário: 8h/23hAberta todos os dias.

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