Mas há, sem dúvida, uma relação histórica de Portugal com o Oriente e com o chá. Uma das figuras que fascinou Sebastian foi a de Wenceslau de Moraes, autor de O Culto do Chá e “um dos viajantes mais sensíveis dentro do orientalismo”. Além disso, lembra, “a primeira vez que se usa a palavra chá na Europa é numa edição impressa em Évora do Tratado das Coisas da China de Frei Gaspar da Cruz.”
Mais tarde surgem outras figuras como Catarina de Bragança, casada com o rei Carlos II e que conquistou lugar em todos os livros sobre o tema como sendo “a princesa que traz as folhas do Oriente” para a corte de Inglaterra — foi assim que um poeta a registou para a posteridade.
Pela mão dos ingleses, o chá invadiu a Europa não como a bebida milenar de chineses e japoneses mas como algo de diferente. Se no Oriente se consome maioritariamente o chá verde, que não tem oxidação, no Ocidente domina o chá preto, oxidado (será que ganhava oxidação nas longas viagens de barco?). O Oolong, ou chá azul, tem alguma oxidação, enquanto o chá branco é “aquele em que há menos intervenção da mão humana” e “ia para a corte do imperador pela sua delicadeza e subtileza”.
Existe ainda o chá fermentado, que Sebastian nos mostra, abrindo um pacote onde repousa um bolo redondo feito de folhas prensadas e que parece uma encomenda misteriosa que poderia ser trocada de mãos numa antiga casa de chá de Macau nos anos 20. Ao contrário dos outros, este é um chá que se pode guardar e que ganha com o tempo, tal como um bom vinho ou um bom queijo.
Quanto às saquetas, “são uma invenção dos ingleses no século XX”. “Queriam um chá rápido, todos os dias igual. Diz-se, ironicamente, que há 40 anos estão a beber o mesmo chá. O que se pretende é, em segundos, ter cor e corpo para depois deitar leite e açúcar.”
Mas os ingleses trouxeram também inovações interessantes. “Os chineses sempre aromatizaram o chá com líchia, rosas, flor de jasmim; a folha absorve os aromas. Mais tarde a Europa vai criar blends com nomes exóticos e perfumes que vêm de outros universos. Um dos mais famosos é o Earl Grey, com óleos essenciais de bergamota.”
Para Portugal, o fundador da Companhia Portugueza do Chá criou também algo, inspirado precisamente pelo Earl Grey inglês: um chá aromatizado com bergamotas criadas no Alentejo. A esta criação juntou outra, o Lisbon Breakfast, no qual misturou o chá branco dos Açores com chá de Ceilão — o primeiro a dar o aroma, o segundo a dar corpo. Para que Lisboa tenha também o seu chá e possa assim recordar a longa história que une os portugueses a esta planta e aos sabores misteriosos que a água quente ajuda a extrair das suas folhas secas.
Resposta rápida
O que responde a alguém que lhe diga que não gosta de chá?
Digo que é porque não está a fazê-lo bem. É muito fácil estragar o chá quando não se sabe. O chá exige algum cuidado, mas só quem tem muito para oferecer é que pode ser exigente.
Se uma pessoa só pudesse beber uma chávena de chá na vida, qual aconselharia?
Um puerh, da família do chá fermentado. É muito misterioso. Na China existem clubes de bebedores deste chá em que só se entra por inscrição. Tem muitas propriedades, algumas que quase rondam o aspecto mágico.