Fugas - restaurantes e bares

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E o grande vencedor é o tomate Coração de Boi do Douro

Por José Augusto Moreira

Concurso é pretexto para estimular a tradição de cultivo nas hortas e pomares das quintas. Até ao final de Agosto, o tomate do terroir duriense é protagonista à mesa dos restaurantes de referência da região.

O trocadilho é uma tentação fácil, mas as coisas são o que são: tomates há muitos, mas nenhuns como os do Douro. E para os provar é mesmo obrigatório cruzar o Marão.

É por isso que, por estes dias, o tomate coração de boi ganha protagonismo nos restaurantes de referência da região, propondo pratos específicos para saborear este fruto sazonal que está na matriz da cozinha mediterrânica e tem no Douro uma expressão de qualidade deveras peculiar.

É uma espécie de exaltação do tomate neste tempo que antecede a entrada a sério na época das vindimas. Um concurso é o pretexto para a celebração que junta os diversos produtores, enquanto a Quinzena do Tomate Coração de Boi do Douro o leva à mesa dos restaurantes do Hotel Six Senses Douro Valley, Cais da Vila, DOC Rui Paula, Cozinha da Clara, Chaxoila e Toca da Raposa.

Como houve concurso, indiquem-se os mais apreciados: Coisas da Leira (1.º lugar), Quinta do Vallado (2.º) e Quinta do Passadouro (3.º). Mas, na verdade, o grande vencedor é o tomate coração de boi do terroir do Douro, cujas qualidades de textura e sabor o distinguem claramente.

Em segunda edição, a prova contou desta vez com mais de duas dezenas de participantes, representando boa parte das mais conhecidas quintas da região. Cozinheiros de referência como Vitor Sobral, Miguel Castro e Silva, Leopoldo Calhau e o anfitrião Pedro Cardoso não só deram o contributo como jurados, como o prepararam também depois de forma exemplar e criativa, para satisfação dos muitos produtores e amigos que no fim de tarde de sexta-feira (18 de Agosto) fizeram a festa no restaurante Cozinha da Clara.

Todos trouxeram os seus vinhos e o coração de boi animou as conversas que se arrastaram noite dentro no convidativo balcão sobre o Douro que é o terraço do moderno restaurante da Quinta de La Rosa, ali em frente à enseada do Pinhão. E nem faltou o contributo da Sal Marim, que até trouxe uma selecção específica de flor de sal para exaltar as qualidades únicas do Coração de Boi do Douro.

Para lá do concurso, no Cozinha da Clara há mesmo um menu completo com tomate criado pelo chef Pedro Cardoso, que inclui gaspacho, salada com escabeche de sardinha, lombelos de porco com milhos de tomate em duas texturas, e uma sobremesa com tomate e queijo. Para o DOC, Rui Paula criou um gaspacho com gamba e sardinha, enquanto a tradição manda no Toca da Raposa, que propõe o arroz caldoso de tomate para acompanhar cachaço de bísaro grelhado ou as pataniscas de bacalhau. Assim como salada com as carnudas fatias vermelhas apenas com flor de sal e um fio do melhor azeite, tal como é servida também no Chaxoila.

A par da sensibilização dos cozinheiros para a utilização do tomate do Douro, o concurso é também pretexto para estimular as quintas a manter as hortas e o seu valor cultural e gastronómico. Noutros tempos, todas tinham um hortelão que delas cuidava à espera da chegada dos patrões e suas famílias para a temporada de vindimas. Uma tradição que se foi perdendo e que os mentores do concurso esperam ver gradualmente retomada.

A iniciativa partiu do produtor Abílio Tavares da Silva, da Quinta de Foz Torto (um ex-urbano que trocou Lisboa pelo Douro e ficou maravilhado com a qualidade do fruto que nascia na sua horta), que juntou as vontades do jornalista Edgardo Pacheco (amante e criterioso divulgador dos produtos tradicionais) e da comunicadora Celeste Pereira (cuja empresa desenvolve o projecto alltodouro.com).

E o entusiasmo e envolvência com que boa parte das quintas e produtores se associaram ao encontro (o número de participantes mais que duplicou) são já mais que um bom augúrio.

E a senha é simples e directa: tomate há em todo mundo mas nenhum com o do Douro. Para o explicar, a UTAD – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro incumbiu a professora Ana Paula Silva, uma especialista que se esforçou também como jurada na prova cega dos tomates.

Das civilizações pré-colombianas até à variante amarela que hipnotizou os italianos a ponto de lhe terem chamado a “maçã d’ouro” (pomo d’oro), a docente explicou as dificuldades da implantação do fruto na alimentação dos europeus, que inicialmente lhe associavam efeitos demoníacos e venenosos.

Hoje o tomate é a segunda cultura do planeta (depois da batata), com a China (como não?) à cabeça e Portugal destacado como terceiro produtor da União Europeia e um consumo anual per capita de 36 quilos. São muitas as variedades, sendo que cá para nós a mais apreciada é a Coração de Boi, assim chamada precisamente pelo formato assemelhado.

É no Douro que as suas qualidades de sabor, suculência e textura melhor são potenciadas, tal como a especialista explicou com a ajuda de preciosos gráficos. Além de muito carnudo, tem poucas sementes, pede muita luz e grandes amplitudes térmicas para melhor expressar as suas qualidades organolépticas e de textura. E por isso, tal como a vinha, encontra no Douro um terroir de excelência.

Só a pele muito fina o torna sensível e vulnerável, o que complica a sua comercialização. Daí que para o provar seja mesmo preciso cruzar o Marão.

 

Quinzena do Tomate Coração de Boi do Douro

Restaurantes

Six Senses Douro Valley
Quinta do Vale Abraão
5100-758 Samodães (Lamego)
Tel. 254 660 600

Cais da Vila
Rua Monsenhor Jerónimo do Amaral
5000-570 Vila Real
Tel. 259 351 209

Chaxoila
Estrada Nacional 2
5000-262 Borralha (Vila Real)
Tel. 259 322 654

DOC Rui Paula
Cais da Folgosa /EN 222
5110-214 Folgosa do Douro
Tel. 254 858 123

Cozinha da Clara
Quinta de La Rosa
5085-215 Covas do Douro (Pinhão)
Tel. 254 732 254

Toca da Raposa
Rua da Praça
5130-067 Ervedosa do Douro (S. João da Pesqueira)
Tel. 254 423 46

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