Precisamos de escancarar a porta da tia Raquel e pôr-nos ao lado dela a trabalhar a massa que há-de dar forma ao petisco. Mistura-se a farinha de polvilho azedo com os ovos, o leite, o óleo, a água, o sal e o queijo. As mãos mais experientes sabem o momento exacto em que entra a água e quando a massa está no ponto. Deixa-se repousar, formam-se umas bolas, leva-se ao forno e já está. Um mimo. Ou melhor, um chamego.
Diz-se por aqui que a tia Raquel faz uns pães de queijo como não há outros, mas vive demasiado longe de Lisboa para os termos na boca sempre que quisermos. Por isso, sem medos, Eva e Enrique Matos atiraram-se ao desafio de trazer estas iguarias brasileiras para a capital portuguesa. A Chamego, que se apresenta como casa de chá, nasceu há menos de um mês ao fundo da Rua Heliodoro Salgado, a meia dúzia de passos da Av. Almirante Reis e do Monte Agudo, um bairro pacato onde começam a surgir novos negócios.
Antes de irmos mais longe, diga-se que Enrique Matos nasceu em Minas Gerais e é professor de forró numa escola que ele fundou não muito longe da Chamego, na Rua dos Anjos. E Eva Matos, antes de se apaixonar por Enrique, já amava o Brasil. “Queríamos criar alguma coisa nova. Algo que tivesse a ver connosco e que fosse nova, o que não era muito fácil”, diz Eva, dando como exemplo a inusitada explosão de hamburguerias que se deu em Lisboa nos últimos anos.
Ora a novidade estava escondida do outro lado do Atlântico. Na última viagem ao Brasil, ao ver a tia de Enrique, Raquel, a cozinhar os pães de queijo que fez questão de ter no copo-de-água, Eva viu a lâmpada iluminar-se. “Toda uma ideia se criou na nossa mente.” E se apostassem no “verdadeiro” pão de queijo? “O pão de queijo verdadeiro é comido quente, feito na hora”, explica Eva. É por isso que, na Chamego, os pedidos nunca demoram menos de dez minutos: vai tudo ao forno só depois de o cliente pedir.
Mas ainda quiseram ir mais longe. Os brasileiros recheiam o pão de queijo, por exemplo com goiabada, mas pelos vistos nunca se tinham lembrado de acrescentar coisas à massa original. “Andámos dois meses a testar. As nossas cobaias eram os alunos da escola de dança.” No fim, sete variedades de pão de queijo ficaram na carta: tradicional, tradicional sem lactose, brócolos, beterraba, azeitonas, sementes e vegan (entre os 1,10 e 1,50 euros). Encontrar uma receita para o vegan foi “o maior desafio”, porque esse não podia levar leite, nem ovos, nem… queijo (spoiler: tem tofu).
O pão de queijo “é um carinho, um aconchego, é uma coisa querida”. É um chamego, a expressão brasileira que ouvimos vezes sem conta no forró mais típico. Afinal, respira-se Brasil na Penha de França. Pelas fotografias de cachoeiras nas paredes e pelas músicas das colunas, mas também por uma ementa grande e variada. Como se não bastassem os pães de queijo com acrescentos, há uma panóplia de recheios: queijo e goiabada, pasta de azeitonas, pasta de cogumelos, mozzarela, chouriço, doce de leite, nutella (2,30 a 2,50 euros). Na vitrine também estão brigadeiros, beijinhos e o bolo de milho que já começou a dar fama à casa (2,50 euros).