Fugas - restaurantes e bares

Nelson Garrido

A cantina do polvo que o povo adora

Por José Augusto Moreira

É em assadeiras de ferro e com arroz do forno que o molusco octópode é servido no Olhinhos de Polvo.

É diferente e, por isso, uma salutar divergência no meio da multidão de restaurantes que em Matosinhos oferecem peixes e mariscos. Este é especializado no polvo e oferece pouco mais. Mas de uma qualidade e apuro de sabores que o tornam num caso especial e muito procurado. Também na organização da carta esta é uma casa que prima pela divergência, sem preços e praticamente sem escolhas.

No Olhinhos de Polvo, o molusco octópode serve-se assado ou em filetes, havendo também os filetes de pescada e de bacalhau. Ao cliente compete apenas indicar a preferência, já que os 12,50€ que são cobrados pela refeição incluem também uma entrada, sobremesa, vinho e café.

Daí que em vez de restaurante se mostre mais apropriado falar-se antes numa espécie de cantina. A cantina do polvo, que é o que atrai a generalidade da clientela que permanentemente esgota a lotação da casa.

É certo que não é avantajado o espaço deste restaurante, instalado numa das lojas de um prédio moderno no extremo sul da rua que vai até à lota e porto de Leixões. Uns trinta e tal lugares inundados pela luz natural que entra pelas paredes de vidro e uma acústica que pouco pode ajudar nos dias em que a clientela se mostra de voz mais afinada.

Depois de várias tentativas frustradas, foi ao almoço de domingo e com marcação antecipada que conseguimos lugar à mesa no Olhinhos de Polvo. Toalhas de linho brancas, guardanapos em papel, baixela adequada e um ambiente de estilo próximo e familiar.

A carta, plastificada, mostra que o “polvo assado no forno com arroz do mesmo” e os “filetes de polvo com arroz do mesmo” são “especialidade” da casa. Seguem-se o polvo assado na brasa, os filetes — de pescada e de bacalhau —, arroz — à pescador ou de camarão — e açorda de camarão. Para quem preferir carne: “Batata saloia”, que nos explicaram tratar-se de lombo de vitela em tiras salteadas em azeite com batata e cebola.

Ao cliente compete apenas escolher o prato e o tipo de bebida. E vinho? “Branco ou tinto. Pode beber o que quiser, não pode é escolher”, eis a resposta. A alternativa é, pois, levar de casa já que é disponibilizado apenas um vinho de entrada de gama de um único produtor. Uma pena, já que a qualidade da cozinha bem merece o desafio de vinhos a condizer.

Efectuadas as escolhas, foi servida para entrada uma afinada pasta de marisco com cebola e pimento, acompanhada por fatias finas de brilha de milho. Fresca, saborosa e de agrado geral.

Além do polvo assado, escolheram-se também os filetes. Primorosos os de pescada, fresca, brilhante e húmida, e envolta por fina capa de ovo e farinha em fritura leve e impecável. Acompanharam com arroz solto de tomate, que chegou à mesa em tachinho de ferro e só não atingiu a perfeição pela utilização da variedade agulha em vez do nosso carolino, que lhe dá a goma e melhor se envolve com os sabores. E bem que merecia pela forma competente como foi cozinhado.

Igualmente de cuidada execução e sabor afinado, os filetes de polvo, com as partes finas dos tentáculos bem envolvidas pela fritura com cobertura de ovo e farinha, que prepararam a chegada do cozinhado-estrela.

--%>