Foi durante as primeiras explorações de ardósias em Canelas, há quase dois séculos, que foram descobertos imensos invertebrados fósseis. Mas só em 1956 é que o conteúdo dessas ardósias foi dado a conhecer. Hoje é na pedreira do Valério, ao lado do centro de interpretação, que essas pedras são tratadas industrial e historicamente. Como? Os trabalhadores partem as ardósias e verificam se há marcas históricas gravadas. Se sim, seguem para a casa ao lado que se ocupará do estudo da placa; se não, são tratadas para ser comercializadas, normalmente exportadas para o Japão, Alemanha e França.
Cascata mais alta do país
A viagem prossegue depois do almoço. Próxima paragem: frecha da Mizarela, a cascata mais alta de Portugal Continental. Daniela Rocha, a guia de serviço que um dia decidiu correr atrás do sonho de dar a conhecer o património da sua terra natal, contextualiza tamanha beleza. O rio Caima, que nasce no planalto da serra da Freita, encontra uma queda brutal de 97 metros de altitude. A água cai formando um espectáculo natural difícil de esquecer. E as máquinas fotográficas não se cansam de disparar. Daniela Rocha tem mais um desafio para os alunos. Descobrirem num percurso pedestre onde o granito e o xisto se encostam. Mais uma missão cumprida.
Diogo Afonso já tem uma colecção de fotografias na máquina. O dia é diferente e os locais merecem os enquadramentos. "O geoparque é interessante, típico, mostra bem Portugal, as várias especificidades, as diferenças", comenta. Há vacas, cabras pelo caminho e poucos carros na estrada. O céu está azul e o verde da aldeia da Castanheira prestes a aparecer. A professora de Biologia e Geologia, Ana Paula, está satisfeita com a aula ao ar livre. E com orgulho quando os alunos respondem correctamente às perguntas da guia. "É uma forma de trazer a escola ao meio." Joana Vieira, uma aluna, concorda. "É sempre bom ver a matéria que aprendemos na aula, termos a noção real do que estudamos ao vivo". E surpreendida com as trilobites. "Não sabia que havia tão grandes e em tão grande número em Portugal." Ana Beleza encontrou um quartzo para levar para casa. "É interessante porque desenvolvemos o nosso conhecimento."
E está quase na hora de ver as pedras parideiras, baptizadas assim pelos primeiros observadores, gente da terra sem qualquer conhecimento técnico, mas sempre com um baptismo na ponta da língua. Neste caso, é perfeito e alimenta a curiosidade sobre as pedras que se soltam de uma rocha maior e que deixam a marca do sítio onde estão há mais de 300 milhões de anos. E há mesmo um mito relacionado com a fecundidade que leva inúmeros casais a querer uma pedra para colocar debaixo do travesseiro. Hoje as parideiras estão protegidas por uma rede. A contemplação é apenas para os olhos e não para as mãos. Mas não há qualquer parto neste fenómeno. As pedras soltam-se por um processo de erosão diferencial. É só isso. Regina Santos já as tinha visto há vários anos. "É uma coisa bonita da natureza." Mais palavras para quê?
Com todos, para todos