Fugas - Viagens

Adriano Miranda

Muito mais do que a “disneylândia” dos geólogos

Por Sara Dias Oliveira

Pedras que se descolam, rochas que dobram, a mais alta cascata do continente, fósseis dos primeiros animais, minas onde se explorou o ouro negro. O Geoparque Arouca tem 41 geossítios no percurso.

O dia promete. Muito sol, a garantia de passear na serra da Freita e ver pela primeira vez as pedras parideiras horas antes de perceber, no local, que o "fenómeno" do parto das pedras é um sólido equívoco.

Às dez da manhã, 52 alunos da Secundária Almeida Garrett do Porto estão no centro da vila de Arouca entusiasmados para uma aula fora da sala, ao vivo e com muitas cores. "Muito aprenderemos nos livros, porém, aprenderemos mais na contemplação da natureza, causa e motivo de todos os livros". A frase de Ramon y Cajal retirada da Internet pela professora Ana Paula serve como introdução ao guia de trabalho da visita de estudo. Não há tempo a perder para ver com os próprios olhos as fotos dos manuais e perceber as frases repetidas sobre a matéria.

O Geoparque Arouca é o segundo a surgir no país e acaba de ser reconhecido a nível internacional com a entrada na Rede Europeia de Geoparques da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), o que lhe assegura uma divulgação a nível mundial.

O espaço está à disposição de escolas, turistas e visitantes. Gente interessada em respirar ar puro, analisar fenómenos estranhos e raros, observar o mar e as serras da Estrela e do Caramulo sem sair do mesmo sítio, descobrir que há rochas dobradas, espantar-se com pedras que descolam de uma morada de 300 milhões de anos, ver figuras dos primeiros animais do planeta. O Geoparque Arouca tem no programa 41 geossítios, cientificamente falando, locais reconhecidos pelo valor científico, turístico e didáctico.

Broas, quartzos e trilobites

Há muitas histórias para contar em 328 hectares de território. As pedras boroas do Junqueiro que ficam com um aspecto singular, semelhante à textura das broas de milho devido a desequilíbrios das plaquetas exteriores; a cascata do Côto do Boi; o marco geodésico a 1077 metros de altitude que permite ver o Atlântico e as serras do Caramulo e da Estrela; um filão de quartzo de Cabaços com dois metros de espessura; as desactivadas minas de volfrâmio da Pena Amarela exploradas na II Guerra Mundial. Tudo faz parte do roteiro.

Voltemos à visita de estudo. O autocarro parte em direcção ao Centro de Interpretação Geológica de Canelas. É ali que moram exemplares de 19 espécies de trilobites, os primeiros animais da Terra, que viveram há 465 milhões de anos numa altura em que ainda não havia oxigénio. Milhões de anos de História reúnem-se numa pequena sala com fósseis de trilobites (crustáceos fósseis) e cartazes explicativos.

A guia de serviço começa as explicações. As visitas para os mais novos começam com a apresentação de um pequeno filme no centro de interpretação, decorado com trilobites feitas com materiais recicláveis pelas escolas da região. É preciso perceber o que são aqueles desenhos incrustados em rochas tão escuras. Mas os alunos já sabem, estudaram-nos nas aulas. Guia de trabalho na mão, escutam as explicações, respondem a perguntas e vão preenchendo o documento que conta para a avaliação.

As trilobites tinham uma visão periférica, mudavam de carapaça, tudo indica que não eram solitárias, deslocavam-se com imensas patinhas e enrolavam-se quando se sentiam ameaçadas. Naquela sala, faz-se história. O centro de Canelas guarda espécies únicas no mundo. E como tudo começou? Os alunos da secundária portuense seguem para uma pedreira e depois para uma empresa. É ali que está a explicação.

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