Fugas - Viagens

Paulo Pimenta

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Ilha do Sal - Quantas boas razões temos para lá ir?

Tino Mosso, um empresário da ilha que hoje faz as vezes de guia, acorda-nos deste (quase) sonho. Andámos ainda poucos quilómetros, é certo, mas provavelmente não nos cruzámos com mais de três, quatro carros (claro, talvez tenham sido furgonetas). Tino vai explicando que a ilha, descoberta em 1460 por Diogo Gomes e António da Nola, navegadores ao serviço da Coroa portuguesa, não se alonga para além dos 216 quilómetros quadrados e que tem tido um povoamento difícil.

Houve censos, nota o guia, que deixaram de fora as crianças, pelo que, mais ou menos por alto, costuma fixar-se em cerca de 20 mil os habitantes do Sal.

Às portas da vila de Espargos, há um gigantesco cartaz onde a cantora Mayra Andrade agradece o seu sucesso a Cabo Verde. Este será, provavelmente, o único elemento que parece estar fora do contexto - um "outdoor" não combina propriamente com este "décor".

Espargos é pequena, pouco mais do que um amontoado de casas (algumas inacabadas), mas ainda assim é um centro de comércio e serviços. (Não deixa de ser estranho perceber que a vila é geminada com a portuguesa Albufeira, qualquer semelhança com a realidade é pura ficção...) Sobre a capital estamos conversados.

A vila de Palmeira, o centro portuário da ilha, é já ali ao virar da esquina. São agora quase 11h00, o Sol começa a queimar, e a chegada dos pequenos barcos coloridos (Bom Sorte II, Palmira Imilia) dá alegria à minúscula povoação. De repente, vindos sabe-se lá de onde (há pouco, quando atravessámos a vila, quase juráramos que não tínhamos visto vivalma nas ruas empedredadas...), surgem vários palmeirenses em busca do peixe que acabou de chegar. Há peixe serra, "blue marlin" (uma espécie de espadarte) e vários outros que não conseguimos identificar. No Sal pesca-se sobretudo atum e "blue marlin", explica Tino Mosso, mas o mar é generoso (daqui a nada nós próprios veremos quanto) e as mais variadas espécies são capturadas enquanto o Diabo esfrega um olho (ou enquanto se desenrola a linha...) São apenas seis os quilómetros que separam Palmeira da Buracona, uma das principais atracções da ilha.

Mas seis quilómetros numa estrada de terra e pedra, onde parece que a orientação se toma pelos rodados de quem já passou por aqui antes uma espécie de seja o que os deuses quiserem. O percurso é feito aos solavancos, com cuidados redobrados para evitar as pedras que estão no caminho. Há vendedores de artesanato (senegaleses, como quase todos os que se espalham pela ilha) pelo caminho e vê-se o mar ao fundo, mais nada.

Um livro para não ler

E cá está ela, a Buracona, uma piscina natural que a água do mar escavou nas rochas. Hoje está estranhamente vazia ("Quase nunca acontece", desculpa-se Tino Mosso), o que nos obriga a contornar o rochedo e procurar a frescura do mar numa espécie de gruta, esta menos divulgada que a vizinha Buracona. Está óptima, a água, apesar de o Sol não entrar aqui.

Onde ele entra é no "odjo azul", que nos parece totalmente vedado a aventuras aquáticas até que Palmira, a responsável pela animação nos hotéis do grupo Oásis Atlântico, revela que já saltou para lá. Mas bom, é o quê, este "odjo azul"? Uma gruta onde, pela manhã, devido à posição e à acção da luz do Sol, é visível na água uma espécie de olho azul.

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