Fugas - Viagens

Paulo Pimenta

Ilha do Sal - Quantas boas razões temos para lá ir?

Por Sandra Silva Costa

Sandra Silva Costa deu por si a encontrar só boas razões para uma escapada à Ilha do Sal, em Cabo Verde. Logo para começar, é um destino relativamente barato, quente, tem boa comida e está a pouco mais de três horas de voo.

Vamos fazer um acordo. Esqueça tudo o que já ouviu ou leu sobre a ilha do Sal. Ou talvez não. Lembre-se de tudo o que já ouviu sobre a ilha do Sal e faça-se esta pergunta: porque não? (Claro que se é daquelas pessoas completamente alérgicas a destinos estivais este texto não é para si...)

Há muitas boas razões para decidirmos pegar no passaporte e dar um saltinho até à ilha de Cabo Verde que mais turistas tem por metro quadrado. É só uma questão de começar a enumerá-las. Vamos a isso?
Uma: é um destino relativamente barato.
Duas: tem calor o ano inteiro (calor, o que é diferente de muito calor).
Três: o azul do mar chega a ser comovente, de tantas tonalidades que consegue assumir.
Quatro: a comida é boa, tem sabor a África mas não é agressiva para estômagos mais sensíveis.
Cinco: o tempo de viagem é justo (três horas e meia a partir de Lisboa, nada que os mais reticentes a aviões não consigam suportar).
Seis: a ilha fala português pelo que já não tem, sequer, a desculpa da barreira da língua. Por agora ficamo-nos por aqui.

Aterragem no Aeroporto Internacional Amílcar Cabral sem sobressaltos, mas isto de chegar de noite tem destas coisas: não podemos tirar logo as medidas à ilha. O que até nem é necessariamente mau, porque assim conseguimos valorizar cada coisa a seu tempo. Neste momento, por exemplo, são quase duas da manhã e não está frio nem calor está uma temperatura perfeita para uma noite de Verão.

O aeroporto do Sal, até 2005 o único que em Cabo Verde recebia voos internacionais, fica colado a Espargos, a capital da ilha. O grosso dos hotéis e "resorts" está sediado em Santa Maria, cerca de 15 quilómetros a sul. O percurso pela estrada asfaltada que atravessa a ilha dura uns 20 minutos e não permite levantar muito a ponta do véu sobre o que vamos ver quando o Sol nascer.

Não precisaremos de esperar muito mais. Pela manhã, basta espreitarmos pela janela do hotel para perceber onde aterramos. Temos mar de um lado e deserto do outro, definição mais simples não há. Claro que podemos sempre dizer um "cliché" de vez em quando desculpa-se... que a paisagem do Sal é lunar. Nunca lá estivemos, na Lua, mas dificilmente erraremos. "A única diferença entre isto e a Lua é que aqui a gravidade é 16 vezes maior e respira-se", há-de comentar Nuno Marques da Silva, dono do Manta Diving Center.

O Sal é isto: um imenso deserto pedregoso, onde se vêem, a espaços, umas elevações na geografia, umas vilas aqui e ali, muitos hotéis estrategicamente plantados a escassos metros do mar. E onde a única vegetação a registar são umas acácias despidas de folhas e vergadas aos ventos alísios que aqui sopram todo o ano.

O curioso é que este nada pode ser muito. A paisagem do Sal consegue ser belíssima. Atravessar à luz do dia a mesma estrada que percorremos a noite passada causa estupefacção. É mesmo este o ponto: como é que estes quilómetros vazios de tudo podem dar-nos a sensação que estamos no cenário ideal? Por momentos, não nos lembrássemos das hordas de turistas que estão lá a sul, em Santa Maria, e poderíamos pensar que estamos quase sozinhos no mundo. É vastíssima, esta paisagem inóspita, quase irreal por ser ao mesmo tempo desoladora e sublime.

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