Izzy não vai mais longe, mas fica implícito que a pressão provocada pela invasão diária de visitantes também não contribui para a saúde da floresta -fica implícito quando justamente uma das medidas que ela gostaria de ver concretizadas é a deslocação do centro de visitas e do parque de estacionamento do centro do bosque para uma zona menos sensível.
Para isso e mais, Sherwood candidatou-se este ano aos milhões que a Lotaria Nacional destina a projectos de conservação, mas perdeu. Resta saber onde irá buscar os 19 milhões de euros de que precisa para recuperar o seu esplendor primitivo.
A sombra de lorde Byron
Se a floresta de Robin dos Bosques é a vedeta natural, a mansão de lorde Byron (1788-1824) é a principal atracção arquitectónica do condado de Nottinghamshire. Chama-se Newstead Abbey justamente porque começou por ser um edifício monástico, fundado em finais do século XII. Foi adquirido pela família Byron quatrocentos anos depois, na sequência da abolição do priorado decretada por Henrique VIII. As remodelações depois efectuadas mantiveram, porém, a traça medieval, até que problemas económicos levaram o poeta a vendê-la ao magnata colonial Thomas Wildman, em 1818. Novos acrescentos foram então realizados ao gosto gótico e revivalista da época, convertendo Newstead Abbey numa montra ecléctica de quase um milénio de arquitectura à inglesa. Nela também viveu durante meio ano e deixou algumas memórias o não menos célebre explorador escocês David Livingstone. O fausto da grandiosa mansão é um dos seus encantos; outro é a extensa colecção de memórias da família Byron, em particular do sexto e mais famoso detentor do título. Newstead Abbey funciona quase como casamuseu de lorde Byron, incluindo o modesto quarto que ocupou no então delapidado edifício, mas também uma vasta colecção de objectos pessoais, primeiras edições e retratos, com especial destaque para a "Grand Tour" que iniciou em Lisboa em 1809. É o tipo de colecção que se expõe para celebrar um ícone pop, mas Byron foi provavelmente a primeira figura britânica a ganhar esse carisma. Não admira, assim, que a exibição inclua reproduções das roupas usadas pelo poeta nos mais populares retratos, para os visitantes experimentarem enquanto lhe imitam as poses. Para além do culto de Byron, Newstead Abbey é também a folia dos jardins circundantes, enriquecidos pelas sucessivas famílias aristocráticas que o habitaram. A vasta propriedade inclui uma variedade de lagos, canais e cascatas, entre espécies botânicas dos quatro cantos do mundo, organizadas em pitorescos canteiros temáticos.
A combinação de uma jóia de arquitectura com jardins majestosos e pequenos museus especializados conhece em Newstead uma expressão privilegiada, mas não única no condado. O seu mais directo concorrente é Wollaton Hall, dominado por uma fantasia arquitectónica construída em 1580 por Francis Wiloughby, um dos primeiros milionários da exploração do carvão. Misto de arquitectura medieval e renascentista, foi uma das primeiras habitações aristocráticas desenhadas segundo princípios estéticos, sem preocupações defensivas. O edifício acaba de sofrer um restauro milionário, mas o museu de história natural no interior é vulgar, certamente menos apelativo que os mais de 50 veados que se passeiam em total liberdade nos bosques circundantes. No mesmo género, vale ainda a pena visitar Rufford Abbey, outra abadia do século XII depois reconvertida em casa nobre e agora em ruínas. Não tem a monumentalidade da casa de Byron, mas a mancha verde é mais ampla, alternando áreas ajardinadas com prados e bosques, e os antigos estábulos acolhem um excelente centro de artesanato.