Fugas - Viagens

Michal Ruzicka

Praga - Kafka e despedidas de solteiro

Por Andreia Sanches

Quatro milhões de turistas visitam todos os anos a capital checa e marcam de forma dramática a forma como se vive Praga. Passámos lá um fim-de-semana a desenhar retratos da "cidade de ouro".

O cão dourado e o santo no rio

A multidão avança lentamente em direcção à Ponte Carlos, sobre o rio Moldava. Praga e os seus 1,2 milhões de habitantes recebem mais de quatro milhões de turistas por ano e nenhum deles quer deixar de levar para casa a experiência de caminhar sobre o monumento mandado construir em 1357 pelo rei Carlos IV.

A ponte liga a Cidade Velha a Malá Strana, as mais antigas zonas da cidade. Ao longo dos seus 516 metros de comprimento, há vendedores ambulantes, pintores, caricaturistas, músicos e mimos. Todos pagam uma quota à Associação dos Artistas da Ponte Carlos, uma organização criada nos anos 90 para pôr ordem no caos comercial que estava instalado no monumento e contribuir para o seu restauro. Uma pequena banda toca um tema animado, um casal dança - pequeno baile improvisado. Karluv Most (Ponte Carlos em checo) é uma festa.

Há ainda mais uma razão especial para a popularidade do sítio: a estátua de São João Nepomuceno, uma das 30 estátuas de personagens históricas e bíblicas que o ornamentam.

Na verdade, mais do que o santo, é o cão dourado embutido na base da estátua que atrai os visitantes. Diz-se que quem toca no bicho voltará, seguramente. E não há quem não queira fazer festas ao cão dourado para garantir o regresso à "cidade de ouro" - um dos muitos nomes pelos quais Praga é conhecida. Os pais levam os filhos, os avós os netos e os namorados as namoradas. A fila à frente da estátua é permanente.

Ouvimos várias versões da lenda que rodeia Nepomuceno. Esta é uma delas: vigário no tempo do Rei Venceslau IV (século XIV), Nepomuceno era também confessor da rainha Sofia. Um dia, o rei quis saber se a mulher lhe era fiel, pelo que mandou chamar o vigário para inquiri-lo. Porque se recusou a desrespeitar o segredo da confissão, Nepomuceno foi atirado ao rio. Diz-se que, quando o seu corpo caiu nas águas, cinco estrelas emergiram do Moldava - e por essa razão são cinco as estrelas que ornamentam a estátua.

Guia interactivo da ponte em www.karluv-most.cz

A praga das despedidas de solteiro

Já a vimos mil vezes nos postais, mas ao vivo a Praça da Cidade Velha é mágica: parece um puzzle de múltiplas cores e estilos arquitectónicos. Contudo, é sábado e já nos tinham avisado: a cidade está na moda como destino para despedidas solteiro - de resto, há muito que é procurada por rapazes ingleses que querem um fim-de-semana sem namoradas por perto (com cerveja barata e clubes de "strip" ao virar de cada esquina).

E ei-los que começam a chegar, rosados e eufóricos neste princípio de noite de sábado. A cena que se segue é semelhante a tantas outras. Na Praça da Cidade de Velha pode passar-se horas a ver o frenesim de jovens turistas eufóricos. Um dos grupos é liderado por um rapaz que usa um minivestido rosa-choque, que vai levantando até ao pescoço para mostrar a tanga de cetim verde-alface que veste por baixo. Os amigos riem-se muito, ele também. Caminham pela praça e vão trocando entre si uma garrafa. Os turistas nas esplanadas à pinha seguem o filme. Por momentos, as atenções deixam de estar centradas nas torres da Igreja de Tyn emolduradas pelo anoitecer. E ainda não é hora de dirigir as câmaras fotográficas para o relógio astronómico, situado na torre gótica da Câmara Municipal (de cada vez que o relógio toca, uma multidão de nariz no ar e câmaras a postos tenta apanhar em movimento as figuras dos apóstolos, do Esqueleto, do Turco, do Avarento e do Vaidoso que o ornamentam).

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