Passam duas raparigas loiras. Os rapazes da despedida de solteiro metem conversa. Elas dão troco. Riem-se e posam para as máquinas fotográficas. Depois surpreendem toda a gente e beijam-se na boca. É o delírio. Os rapazes aplaudem, assobiam, as máquinas fotográficas disparam dezenas de vezes. Na esplanada, alguns turistas (só os homens, as mulheres ficam sentadas) levantam-se também de câmara em punho e abrem caminho para fotografar o beijo das raparigas. A fotografia que se seguirá, essa sim, será a do relógio.
Mais sobre o relógio astronómico em www.czechtourism.com
Cerveja e "goulash"
No país com o maior consumo per capita de cerveja do mundo, pátria da Pilsner e da Budweiser (não a americana, a boémia), experimento a minha primeira caneca checa na fábrica de cerveja do Mosteiro Strahov (fundado em 1142), perto do Castelo de Praga - no coração do centro histórico de Praga, Património Cultural Mundial da UNESCO.
A bebida nacional é barata (meio litro custa entre 70 cêntimos e 1,20 euros), há quase 500 variedades e as cervejarias são, por excelência, ponto de encontro e de conversas. Há-as fumarentas e atarracadas, frequentadas por pessoas de meia-idade, outras com uma clientela mais sofisticada, muito Art Déco, outras ainda como esta, a Klasterni Pivovar, com grandes mesas de madeira cheias de turistas.
As marcas de cerveja mais populares são a Pilsner Urquell e a Budweiser Budvar, mas na Klasterni Pivovar serve-se a cerveja da casa - branca, preta e algumas especialidades que só são feitas em determinadas altura do ano (como no Natal).
Para "acompanhar" a cerveja, segue-se uma "brambora\u010Dka", a sopa de batata - um caldo condimentado, com pedaços de batata e cogumelos ("É a sopa mais característica", explica-nos Lucie Formánová, uma checa com um português impecável, guia turística de profissão. Qualquer coisa como o caldo verde em Portugal.)
A batata volta a marcar presença no prato principal: "goulash" (carne estufada num molho espesso) com "bramboráky", uma espécie de bolo de batata.
Dieta? Esqueça. A gastronomia checa está cheia de molhos deliciosos e muita batata. Mais uma cerveja? Os checos gostam de dizer que há sempre espaço para mais uma. Se pedir Coca-Cola, prepare-se para um encolher de ombros desconsolado do empregado.
Mais sobre a Klasterni Pivovar em www.klasterni-pivovar.cz
Os fantasmas e as festas
À noite, a cidade esvazia-se, as ruas enchem-se de sombras, as estátuas parece que ganham vida. Praga, a cidade do "golem" (ser mítico, que um rabino do século XVI criou a partir da lama para proteger os judeus e que hoje é vendido em cada esquina nos quiosques de "souvenirs") está envolta em histórias de fantasmas, almas penadas e outras figuras misteriosas.
Conta-se que o próprio Nepomuceno terá assombrado as margens do Moldava depois do injusto castigo a que foi sujeito. Claro que a aura de mistério não podia deixar de ser aproveitada para fins comerciais e é possível comprar visitas guiadas à "Praga dos fantasmas".
Como noctívagos mais terra a terra que somos, Lucie Formánkova aconselha-nos primeiro uma filial da famosa Bodeguita del Medio de Havana (com música num volume muito acima do suportável para quem quer conversar) e depois a Praça Venceslau. É nesta que acabamos a noite. A Praça Venceslau foi palco de momentos marcantes da história de Praga: a proclamação da independência da Checoslováquia em 1918; as primeiras manifestações da Revolução de Veludo... Agora, a banda sonora predominante é o pop dos anos 80, há bares, discotecas e muitos rapazes a vender entradas com pseudodesconto e bebidas grátis.