Fugas - Viagens

Mercado de Galvany

Mercado de Galvany Luís Maio

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Barcelona - A fantasia dos mercados

O mercado Sant Antoni é semelhante, com a diferença de servir o bairro e cair fora dos circuitos turísticos. Uma autenticidade reforçada pela circunstância de ainda não ter sido intervencionado, permanecendo tal como estava (ou quase) desde que abriu, em 1882. Outra notável construção modernista em ferro, foi edificado numa das antigas portas da cidade, quadrante urbano que na altura conhecia forte expansão demográfica. Havia que o abastecer de toda a espécie de bens de consumo, de modo que o interior foi destinado à venda de alimentos, mas suplementado no exterior de uma marquise metálica a toda a volta do quarteirão, para o comércio de roupas e afins. É um bocado negro e cavernoso, mas essa decrepitude só lhe realça o encanto centenário.

El Mercat de la Boqueria | La Rambla, 89, Ciutat Vella, metro linha 3, estação Liceu
El Mercat de Sant Antoni | Conte d'Urgell, Eixample, metro linha 2, estação Sant Antoni

À beira do delírio

Os mercados construídos nas primeiras décadas do século XX testemunham o auge da febre modernista que na altura incendiou Barcelona. Um exemplo privilegiado é o mercado de Galvany, inaugurado em 1927, em terrenos cedidos pelo conde com o mesmo nome, no bairro de Sarrià-Sant Gervasi. Um verdadeiro delírio com a sua coberta sustentada por 28 colunas de ferro, grande cúpula octogonal, metálica e revestida por lâminas de madeira, quatro fachadas com nove arcos interiores, mais os vitrais e mosaicos que as decoram. Situado no coração de uma das zonas residenciais mais nobres de Barcelona, ciclicamente restaurado e com parque de estacionamento privado, o mercado de Galvany distingue-se ainda pela excelência dos produtos alimentares em venda e correspondente clientela colunável. No mesmo estilo de fantasia modernista ao gosto dos inícios do século XX, os mercados de Sarrià (1911) e de Sants (1913) merecem igualmente a visita.

El Mercat de Galvany | Santaló, 65, Sarrià-Sant Gervasi, autocarro 14

Iluminações retrofuturistas

Primeiro mercado coberto da cidade, o de Santa Caterina nasceu no lugar do convento com o mesmo nome, demolido durante as insurreições populares de 1835. A edilidade decidiu então construir no lugar um mercado, uma das primeiras estruturas em ferro da cidade, inaugurada em 1484 com 208 locais de vendas de alimentos, certificando-o como o segundo maior da cidade, logo a seguir à Boqueria. A reabilitação mais recente foi confiada ao arquitecto Enric Miralles, que faleceu em 2000, vindo o seu projecto a ser concluído pela viúva Benedetta Tagliabue. A intervenção apurou-se tão radical que do edifício original pouco mais deixou de pé que aquilo a que a lei obriga, ou seja, as fachadas. Sobre elas foi edificada uma espectacular cobertura ondulada, forrada por um tapete de 325 mil peças de cerâmica, representando um mar matizado pela recordação de frutas e verduras.

O interior é de novo ocupado por um mercado alimentar, feito para servir a vizinhança popular, mas também com produtos mais seleccionados (e caros), que acenam à clientela cosmopolita que agora frequenta o Born. Para esta aponta também o restaurante Cozinhas de Santa Caterina, um "bistrot" requintadíssimo, integrado no recinto e gerido pela prestigiada cadeia Tragaluz. Outra adição recente é o Centro de Interpretação, na entrada do mercado, que exibe (e explica) os resultados das escavações ali realizadas, que permitiram descobrir vestígios da ocupação romana, da necrópole cristã do século IV e do convento dominicano edificado no século XIII. Esta combinação de reabilitação de um mercado histórico com a exposição das ruínas arqueológicas nas suas entranhas, ensaiada em Santa Caterina, é de algum modo o guião da intervenção em curso, um pouco mais abaixo, no mercado do Born.

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