Reunidos nesta grande unidade alimentar, a partir os inícios nos anos 70, estão o matador, os mercados centrais de peixe, de flores, de frutas e hortaliças. São ao todo 800 empresas, que operam do norte de Itália até Valência, servindo 10 milhões de pessoas. O recinto é gigantesco, e mesmo após a saída das flores para outro lado (na sequência de um incêndio), a actividade que aqui se produz é impressionante. Um dos sectores mais frenéticos é o do peixe, que comercializa 100 mil toneladas de produtos por ano, dos quais 50 por cento são frescos. Está sediado num edifício de nave única que se alonga por 300 metros de comprimento, onde se alinham 80 lugares de venda e mais 14 de distribuição. Numa ponta são pilhas de caixotes de sardinha, na outra atuns e peixesespada que transbordam das bancadas, pelo meio sacos de todo o género de marisco, inclusive ainda vivo. Os odores são intensos, a actividade incessante e as curiosidades muitas, desde as máquinas de produção de gelo ao sistema de pagamento por selos.
Mercabarna | autocarro N1 (nocturno) desde as praças de Espanya e Sants
De botão a canhão
O mercado mais caótico, efervescente e original de Barcelona é, sem dúvida, a Fira de Bellcaire ou Encants. Começa por se distinguir dos outros, que são quase todos alimentares, porque nele se vende quase tudo menos isso, quatro vezes por semana (segundas, quartas, sextas e sábados). Mas o que acima disso o singulariza são os leilões que decorrem de manhãzinha (menos aos sábados), entre as 7h00 e as 9h00 da manhã, na esplanada da praça do mercado. Lotes das mais variadas mercadorias são disputados pelos cerca de 600 vendedores locais, para logo de seguida serem colocadas à venda ao público. Muitos descarregam os lotes directamente no espaço disponível no chão da praça, e se alguns ainda se dão ao trabalho de arrumar os restos para o dia a seguir, outros deixam-nos ali mesmo ficar para quem quiser aproveitar, quando a feira acaba, ao entardecer.
O leilão de tralha por atacado é o género de anacronismo que certifica este mercado como uma experiência única, quase insólita na era do comércio virtual. A Fira dos Encants é, na realidade, um caso de notável longevidade, uma vez que se trata de um dos mercados mais antigos da Europa. Os registos que o documentam remontam a 1355, quando se realizava junto das muralhas. Depois disso foi várias vezes trasladado, até aterrar na Praça das Glòries Catalanes há 80 anos (nas vésperas da Exposição Universal), quando se lhe juntou o mercado de Bellcaire, o que justifica a actual dupla designação.
Diz-se, porém, que não será a sua última morada, uma vez que a praça, antes na periferia da cidade, está agora a dois passos da Torre Agbar e da chiquérrima Diagonal Sul. Para já, no entanto, o jogo de contrastes entre o que basicamente é uma Feira da Ladra, onde boa parte dos vendedores e compradores são emigrantes, e a cidade do terceiro milénio é outro dos seus atractivos -e um perfeito epítome do mosaico humano que hoje define a capital catalã. De resto, Barcelona inteira frequenta os Encants, que chega a receber 100 mil visitantes semanais, sendo o sábado o dia em que naturalmente se regista maior afluência.