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Na antiga Tabacalera funcionará o futuro Centro Nacional de Artes Visuais

Na antiga Tabacalera funcionará o futuro Centro Nacional de Artes Visuais Luís Maio

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Outras maravilhas de Madrid, capital do presente e do futuro

A estação foi restaurada tal qual era, incluindo guichets, cancelas, letreiros e vestiários do pessoal. Ora, passada a nova entrada envidraçada, não se encontra mais pessoal do metro, mas em contrapartida lá em baixo os comboios continuam a passar a toda a velocidade (o cais é protegido por um muro de vidro), o que de facto cria a sensação de explorar um lugar estranho e fantasmagórico. Para além dessa experiência de máquina do tempo, os trabalhos de limpeza permitiram descobrir paredes de azulejos pintadas com anúncios, que datam dos tempos da inauguração. Dizeres e imagens estão em sintonia com o cânone Arte Nova e denotam um certo ar francês. A mais valia é que nada de semelhante persiste no original parisiense (Plaza de Chamberí de 3.ª a 6.ª, das 11h00 às 19h00 e fins-de-semana das 11h00 às 15h00; tel.: 902444403).

CSA Tabacalera

Qualquer coisa de extraordinário se está a passar na antiga Tabacalera. O prédio gigantesco, arruinado e soturno, está agora ocupado por um esquadrão de pessoal alternativo e neofreak, que recebe todos os dias, mas sobretudo aos fins-de-semana, magotes de gente atraída pela singularidade do programa de "festas". Algo parecido como o idealismo do Maio de 68 ressuscitado em versão século XXI, mas com a chancela do Ministério da Cultura de Espanha.

Antiga fábrica de licores e de tabacos, edificada em finais do século XIX, La Tabacalera é um edifício semelhante na grandeza e no cinzentismo ao hospital que veio dar lugar ao Museu Rainha Sofia. Fica meia dúzia de quarteirões mais abaixo, na Plaza Embajadores, no bairro de Lavapiés. A actividade industrial cessou e as instalações encerraram em 1999, sendo o edifício destinado a albergar o futuro Centro Nacional de Artes Visuais, mas o projecto teve uma série de falsas partidas.

Entretanto, uma rede de colectivos do bairro popular, multicultural e alternativo de Lavapíés veio reivindicar a sua ocupação para fins sociais e culturais, propondo-se seguir para o efeito um modelo de autogestão. O projecto ganhou a simpatia do Ministério da Cultura, que cedeu provisoriamente a maior parte do espaço à dita associação de colectivos. Efectuados restauros mínimos, ou suficientes para a casa não vir abaixo, La Tabacalera reabriu ao público em Julho passado. A cedência ministerial só é válida até finais de Fevereiro próximo, embora tudo indique que o prazo venha a ser prorrogado.

O modelo de autogestão significa que a organização é horizontal, mas também que se pauta pelos princípios da gratuitidade (livre acesso a todos os eventos) e do copyleft (o oposto do copyright). Os antigos espaços e o que resta da sua mobília industrial (há cadeiras e máquinas antigas, mas faltam vidros em muitas janelas) são agora ocupados por ateliers em áreas que vão das artes cénicas às artes plásticas, mas também por serviços sociais, que incluem creche, biblioteca, reparação de bicicletas, horta, bailes populares e mesmo uma boutique de roupa sem caixa registadora, ou seja, onde todos os artigos em exposição são gratuitos. O princípio da gratuitidade é denominador comum a todas as actividades e se é preciso construir um cenário emprega-se material reciclado ou promove-se uma festa de angariação de fundos.

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