Há pelo menos um candidato a ícone da nova Salesas, mas que está longe de ser consensual. A dona de um prédio de 1886 (Campoamor, 16) confiou a renovação da fachada de 700 metros quadrados ao artista madrileno Jack Babiloni, que a pintou de cimo abaixo com ilustrações de As Metamorfoses de Ovídio. Uns aplaudem a ousadia, outros dizem que é pior que grafitos.
TriBall
Ao fundo da rua Ballesta, a dois passos da Gran Vía, é o vai-evem do costume de prostitutas baratas, traficantes de drogas e outros marginais. Numa das esquinas da rua há, no entanto, uma nova figura que já pertence a outro filme. Falamos de um painel de azulejos, típico da street art, que representa um saxofonista surreal, em cuja gabardina se anicha o famoso (pelo menos em Espanha) par de bailarinas dos anúncios aos perfumes Gal. Resulta num sugestivo cruzamento de imaginários, que cruza a galeria de arte e a rua de má fama. Funciona, em qualquer caso, como um sinal inequívoco da nova dinâmica urbana que de há um par de anos a esta parte se vem verificando em TriBall.
O nome não tem nada a ver com tribos, antes resulta de declinar Tribunal (vértice de um triângulo que integra a Gran Vía e a Fuencarral) com a supracitada Ballesta, eixo principal desse enclave madrileno. TriBall, subintitulada Ocupação Criativa, é uma associação de comerciantes apostados na regeneração urbana de um dos bairros mais centrais e, no entanto, mais degradados da capital espanhola. Drogas e prostituição, sex shops e bordéis ainda subsistem, mas são agora em menor número e passaram a partilhar as ruas com negócios alternativos, o género que se encontra em Fuencarral, ou no bairro da Chueca, mas em geral com preços mais económicos e com propostas porventura ainda mais alternativas.
A lista inclui lojas de moda como La Maison (Valverde, 29), que agrupa jovens estilistas, designers e fotógrafos, Carlos Diez, nome de culto da moda espanhola que aqui expõe as suas roupas dentro de antigos frigoríficos (Loreto y Chicote, 9), ou ainda Corachán y Delgado (Barco 42), espantosa loja de vestuário vintage, repleta de autênticas peças de museu de marcas como a Christian Dior, a Lanvin e a Guy Laroche, sobretudo das décadas de 20 a 60.
Madrid Rio
É um dos projectos mais ambiciosos da Madrid do novo milénio. (O parque foi terminado e está já disponível para ser apreciado por todos desde Abril de 2011). Um megaprojecto que começou por soterrar a circular M30, desviando da superfície para túneis o fluxo diário de 230 mil automóveis. A segunda fase levou à requalificação do espaço libertado, que atinge cerca de seis quilómetros de extensão ao longo do rio Manzanares. Pois é verdade que em Madrid passa um rio, pequeno mas ainda assim um rio, raramente visto pelos turistas, tanto ou ainda menos usufruído pelos madrilenos, para os quais tem funcionado como uma espécie de fronteira entre o centro e a periferia.
O projecto Madrid Rio pretende justamente devolver o rio à cidade e convertê-lo num novo vínculo entre quem vive nas suas margens. A operação passou pela criação de zonas verdes e de lazer ao longo do curso fluvial, mas também pela reabilitação das pontes já existentes e lançamento de mais uma dezena, no total de 33. Existem diversas passagens paralelas, pedonais, como as que ligam a estufa do Invernadero e do antigo Matadero com os bairros periféricos de Arganzuela e Usera, onde vivem cerca de 300 mil pessoas.