Fugas - Viagens

Rafael Marchante/Reuters

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Málaga - O bailado dos tronos na Semana Santa

É obrigatório procurar ver agora a saída ou regresso de um trono. O bailado do Cristo Crucificado da confraria Fusionadas, que nem sequer é dos maiores, torna-se um exercício de perícia, força e equilíbrio. Os rostos dos homens, colados uns aos outros em apoio mútuo, não deixam espaço nem para mais um dedo. Ao toque da sineta (que marca paragens, retomas e andamentos), o trono é pousado no chão, à porta do edifício. Alguém canta uma saeta. Há aclamações da multidão, concentrada na pequena praceta e nas ruas adjacentes.

Um último aplauso e o sinal para andar de novo. O trono é erguido em braços, acima das cabeças para subir os degraus da entrada. Os aplausos redobram a incentivar o último esforço, a música da banda torna-se mais intensa, aumenta o ritmo, os metais sopram com mais força, tal como os tambores.

A imagem quase toca na porta. Mas tudo está preparado para que isso não suceda. Os homens da frente baixam os braços, já com metade do trono dentro da casa. Sobem os de trás, gritam-se os últimos "guapo, guapo, guapo". O trono pousa, o êxtase descomprime.

Os tronos da confraria da Esperança estão entre os mais vistosos, os maiores e os mais queridos de Málaga: o da Virgem, com um longo manto preto, pesa 6400 quilos, contra os quatro mil ou cinco mil dos restantes. As pessoas movimentam-se a perguntar se as imagens já aí vêm. Última procissão na noite de Quinta-Feira Santa (entre as 23h e as 6h00 da manhã), a da Esperança entra na Rua Larios à meia-noite e meia. Mas já o perfume do alecrim, espalhado durante o trajecto só à passagem desta confraria, assinala a proximidade do trono e refresca o ar.

Há um momento em que a multidão chega ao paroxismo. Como em Jerusalém, cerca do ano 30, com a multidão que assistiu à morte de Jesus. É quando se faz a trasladação do Cristo de Mena (de Pedro de Mena, artista granadino que o esculpiu) ou Cristo dos Legionários. Durante dois dias, depois de chegarem de barco à cidade, os legionários fazem guarda de honra à imagem, como se de um velório se tratasse.

Na quinta, depois do meio-dia, a imagem é trasladada de São Domingos para a casa da irmandade, de onde sairá à tarde, em procissão, transportada por legionários. Duas horas antes, já há pessoas a juntar-se na Praça da Legião Espanhola. Começam os gritos "fuera, fuera, fuera", mas ainda demora até que a imagem apareça e saia - alvoroço colectivo.

A cerimónia começa com discursos e uma leitura bíblica alusiva à morte de Jesus. Há quem lamente: "Na televisão vê-se melhor." Mas o entusiasmo é grande e generalizado nesta parada mista, militar e religiosa, resquício da ideologia de quem ganhou a Guerra Civil. Os legionários dão várias voltas, transportando a imagem só com um braço. Os trompetes tocam, os militares cantam, acompanhados por toda a multidão. Um arrepio.

A Fugas viajou a convite do Patronato de Turismo da Costa do Sol e da Delegação de Turismo Espanhol em Lisboa

Como ir

A TAP voa de Lisboa e Porto para Málaga, a Ibéria e a Spanair só de Lisboa, no período da Páscoa, a partir de 260 euros.

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