Tectos e paredes são de vidro com ripinhas de ferro horizontais, verticais e diagonais, o que dá um claro-escuro fantástico. E depois no centro estão as plantas, à volta das quais podemos caminhar ou ficar sentados, porque há bancos. É bom para tudo o que se faz em silêncio, ver, ler, conversar, namorar.
E agora, sob uma revoada de pássaros e com o sol atrás das costas, vamos sair pelo caminho que leva ao Born.
Do Born ao Gótico
O nome do bairro vem do antigo mercado de Barcelona. Hoje, o Born é uma espécie de Bairro Alto lisboeta, todo design, restaurantes e bares, com o charme da esquadria antiga. As ruas vão ficar mais estreitas à medida que nos aproximarmos do Bairro Gótico, mas aqui, nas redondezas da Rua Princesa, são amplas, com casas de tectos altos.
Seguindo pelo passeio da esquerda, começamos a ouvir João Gilberto, o que é sempre um bom motivo para entrar onde ele estiver. Neste caso, o White Bar, que além de bar-restaurante é um café aberto desde as 7h30.
Jarras com jarros brancos fresquíssimos, tectos negros e cadeiras brancas, pequeno-almoço com preços decentes (um café expresso com sumo natural, 2,5 euros, cereais com iogurte caseiro, 4,5 euros). Pãezinhos, bolos e compotas têm óptimo ar, mas só podemos falar pelo café, mesmo expresso, e pelo sumo, espremido na hora.
A rapariga loura e sorridente ao balcão é tão catalã como dezenas de outros empregados de balcão e de lojas em Barcelona, ou seja, nada. Além de estar cheia de estudantes Erasmus, a cidade fervilha de jovens alemães, italianos ou suecos que estão a começar carreiras. Esta alemã, por exemplo, é designer. E sugere que entremos na porta ao lado, que é o hotel associado ao bar, Chic&Basic/ Born (ver Onde ficar).
Dando a volta ao quarteirão, nas traseiras está o antigo mercado, edifício imenso, também de ferro e vidro, em correspondência com os que vimos antes e com a maravilhosa Estação de França, um pouco adiante. Neste momento está a ser recuperado, e não é possível entrar.
Rua do Born fora, lojas de ténis e bares, mas também prédios com as populares persianas de madeira por fora e vasos de sardinheiras. Ao fundo, a pedra escura de Santa Maria del Mar, formidável igreja gótica com pilares altíssimos suportando uma só nave. A sensação de espaço e a acústica são únicas. Em volta do altar, os pilares são como estrelas que tivessem baixado os braços. O sol está do lado direito, iluminando os vitrais coloridos. Cheira a incenso e às velas acesas a toda a volta, em copinhos vermelhos.
Da porta ao fundo vê-se um graffiti com a estrela da independência da Catalunha.
Saindo por aí, vamos perder-nos no bairro gótico.
Um café com livros em segunda mão e cheiro a tabaco: Lilipep. Adiante, a rua que leva ao Museu Picasso, com as suas muitas abóbadas de pedra. Deixemos os turistas nas filas, e voltemos a atenção para o museu quase em frente, que abre daqui a pouco, às 11h. Chama-se Museu Barbier-Mueller de arte pré-colombiana. Três pequenas galerias com peças prodigiosas, aztecas, maias, incas, amazónicas. Uma espécie de retiro no Novo Mundo, a mil anos de distância, que dá toda uma outra perspectiva ao nosso regresso à luz do dia.