Fugas - Viagens

Rui Gaudêncio

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O que é que Barcelona não tem?

Recuperamos então a Rua Princesa, passamos a Muralha Romana e chegamos à Praça da Catedral, cheia de sol e de velhinhos sentados. Está a ser restaurada. O claustro tem palmeiras, magnólias e uma fonte.

Na viela que vai dar ao Palácio da Generalitat, uma antiga professora canta música barroca. O som segue-nos até à Praça de Sant Jaume, onde além do governo da Catalunha está a Conesa, a mais célebre tasca de sanduíches quentes de Barcelona.

Numa versão de almoço rápido, podemos então comprar um bocadillo, continuar até à Praça Real e ficar ao sol a comer, entre estudantes deitados no chão.

Ou, se já conhecemos a Conesa, sair para a Rambla e ir petiscar à Boquería, o grande mercado vivo. Só os cogumelos, uma verdadeira paixão catalã, são toda uma refeição. Mas há presuntos, queijos, sumos, frutas. Grandes caixas cheias de pimentos padrón por um euro.

E já que estamos perto, espreitemos a programação do Teatro do Liceu, recentemente restaurado.

Do Raval à Gràcia

O que acontece se agora virarmos à direita? Vamos direitos ao Raval, o bairro das putas e dos imigrantes, que na parte baixa continua a ser das putas, mas sobretudo dos imigrantes (magrebinos, equatorianos, paquistaneses). Na parte de cima é outra espécie de Bairro Alto, menos "design" e mais alternativo.

A separação é a Rua do Hospital, que se chama assim porque era aqui que ficava o antigo hospital onde os recém-chegados a Barcelona ficavam de quarentena, fora das muralhas, no arrabalde daí o nome, Raval.

As varandas estão cheias de cartazes a dizer "O Raval não aguenta mais". Há todo um movimento que acha que o bairro está perigoso, degradado, que todos os dias há roubos e assim os turistas não vêm. Mas também há cartazes nas varandas a dizer aos turistas para se porem a andar. Barcelona tem os seus humores, para dentro e para fora. Os turistas são bons porque são dinheiro e são maus porque são uma maçada.

No pátio do antigo hospital há uma esplanada, gente a estudar e a escadaria de acesso à Biblioteca da Catalunha, que era a antiga enfermaria. Vale a pena subir, ver os arcos de pedra e as traves de madeira, e as fotografias históricas, com os doentes nas suas camas de ferro.

Voltando à Rambla, é uma boa hora para descer até ao mar. Como ainda é Inverno, o sol já está a pôrse sobre Montjuic, à direita, e a água brilha. Aqui, a Rambla del Mar é um passadiço de madeira que prolonga a Rambla. Uma espécie de falsa Rambla sobre a água.

E esquecendo o inferninho do shopping mais lá para a frente, género Docas, o melhor mesmo é aproveitar a madeira estar quente e o sol estar descoberto e ficar de cotovelos no passadiço, a ver as gaivotas boiar e o teleférico lá em cima.

São quatro e meia da tarde. Quando o passadiço se encher de mais, voltamos a terra firme e subimos ao Raval de cima, para ver as lojas de discos na Rua Tallers e pisar as tábuas rangentes da livraria La Central, na Rua Elisabets.

Para a esquerda fica o Museu de Arte Contemporânea, o MACBA, onde os skaters aproveitam o betão aberto da arquitectura. Talvez noutro dia.

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