Palladio's country
As villas de Palladio iluminam hoje ainda escaninhos de idílio rural da Itália do Norte. Não são as moradias rurais apenas que justificam a visita, mas toda a paisagem circundante e a forma delicada, quase orgânica, como as primeiras se inscrevem na segunda. Faz sentido numa arquitectura que, apesar da pureza assumida, sempre foi pensada como imitação da natureza, regida pelas mesmas leis universais. A beleza das mansões rústicas de Palladio passa muito por essa constante procura de sintonia com a paisagem. E o que também é notável, ou até milagroso, é como essa harmonia foi preservada até aos nossos dias, passando ao lado do pesado legado que a era industrial deixou um pouco por toda a região.
Palladio funciona, portanto, como um excelente pretexto para partir à descoberta dos recantos mais bucólicos da província vicentina. De novo o problema são as escolhas, quando a maior parte das suas 16 villas classificadas se encontram em lugarejos e ao longo de vias secundárias, implicando que em meio-dia não se consiga ver mais de duas. Depois são quase todas privadas e só algumas se visitam, por vezes em condições muito restritas.
Uma das poucas exploradas comercialmente (visitas, casamentos, concertos) é a Villa Godi (1537), o primeiro trabalho de Palladio como arquitecto. Típica villa renascentista com duas torres avançadas e um corpo central recuado, a Godi exibe já a sua chancela, nomeadamente na rigorosa simetria do projecto e na severidade das fachadas, em clara ruptura com a tendência decorativa de Quatrocentos. Os exuberantes jardins circundantes, o belveder sobre os campos ondulados em redor, e sobretudo os sumptuosos frescos no interior (que serviram de cenário a Senso, de Visconti) são igualmente preciosos.
A Villa Pisani (1542) é outras das essenciais, uma vez que marcou um ponto de viragem na carreia de Palladio, logo depois da revelação da Antiguidade na sua primeira viagem a Roma. Beneficiando pela primeira vez de um orçamento confortável para edificar uma mansão aristocrática, no centro de uma vasta propriedade agrícola, o arquitecto quis não apenas conferir a esta casa de campo um requinte mais próprio dos palácios urbanos, mas também racionalizar aos equipamentos agrícolas adjacentes. Estes ficaram incompletos e acabaram por ser demolidos, conservando-se, porém, a esplêndida casa senhorial, onde a loggia dominante se abre sobre três arcadas rematadas por um frontão triangular, à maneira de um templo da Roma antiga.
A Villa Pisani só se visita por marcação, a não ser que haja exposições de arte contemporânea, periodicamente organizadas pelos donos, que são artistas. Arte contemporânea que, vamos ser honestos, não casa lá muito bem com a arquitectura de Palladio. São questões que já não se levantam a propósito da Villa Poiana (1548), recentemente adquirida pela edilidade, que lhe devolveu o brilho original, reabrindo-a em horário de museu. O privilégio justifica-se sobretudo pela brilhante extrapolação da arquitectura das termas romanas para o contexto das mansões rurais de Quinhentos, patente nas duas fachadas do corpo central, onde se recortam janelas serlianas, coroadas por arcos duplos abobadados, penetrados por cinco oculis.