Fugas - Viagens

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Regresso a Dublin, a capital do futebol português

Quando chegamos à beira dele, imediatamente depois de cruzar a linha ferroviária, é o vidro que dá nas vistas - o vidro que trepa o edifício depois do andar térreo. Não há ninguém nas imediações do estádio neste sábado à tarde. Quando ficamos perante as portas de vidro, diríamos que está fechado - mas não, uma delas está aberta, lá dentro dois recepcionistas. As visitas guiadas terminaram (de hora a hora desde as 10h00 - a última começou às 16h00, são quase 17h00), para o dia seguinte já estão esgotadas e, sim, diz sorrindo Callum Spence, notou-se uma afluência algo inusitada de portugueses (e eis um dubliner satisfeito, se não inteiramente pela final lusa, pela ausência de equipas inglesas). A única possibilidade de visita será segunda ou terça-feira, depois fechará para se preparar a final da Liga Europa. Conseguimos, contudo, "espreitá-lo": novo e resplandecente, lugares completamente cobertos, e aí está o desnível visto de dentro - uma das secções tem apenas 15 filas (por causa disso, a lotação passou de 55 mil para 50 mil lugares sentados); as outras, quatro bancadas, incluindo premium seats e cabinas privadas.

Pode haver um acordo de 10 anos durante os quais o estádio se chamará Aviva, o patrocinador, mas qualquer dubliner o trata antes por Lansdowne Road - e para a UEFA será na Dublin Arena a disputa final da Liga Europa de 2011. O Lansdowne Road Stadium era uma instituição na cidade e os seus pergaminhos, que datam de 1872, o que fazia dele o mais antigo estádio desportivo da Europa, perduram nos corações dos irlandeses. Começou por ser um estádio (complexo) multi-desportivo (na sua primeira encarnação tinha três campos de futebol, pista de atletismo, campo de críquete, de croquete, de ténis (relva) e pista para arco e flecha), em 1876 recebeu o primeiro jogo de râguebi e no início do século XX a federação de râguebi tomou conta dele - a primeira bancada foi construída por esta altura, em 1908. A partir de então, o estádio passou a ser sinónimo de râguebi, ainda que, na década de 80, a selecção irlandesa de futebol também tenha assentado ali o seu quartel-general. Numa atmosfera muito especial, como sublinhou Damien Duffy, futebolista internacional irlandês, comparando-o com o novo, conta Emmet Malone: "Ele disse que para uma grande estrela do futebol este seria mais um estádio, moderno e funcional, enquanto antes era distintivo: qualquer um se lembraria de estar nos balneários com os comboios a passarem por cima." Agora, a linha férrea corre rente ao estádio e sob parte dos acessos às bancadas superiores, mas as cancelas da passagem de nível continuam a ficar fechadas em dias de jogo - e a estação do DART (comboio suburbano de Dublin) de Lansdowne Road, às portas do estádio, continua a ser a melhor via de acesso.

Em 2007, o velho estádio foi em parte demolido para dar lugar ao que hoje vemos, inaugurado em Maio de 2010, agora partilhado oficialmente entre as federações de râguebi (a Irish Rugby Football Union) e de futebol (a Football Association of Ireland) - durante 60 anos, depois voltará às mãos da primeira - e o único estádio do país a merecer a distinção "de elite" da UEFA, onde se escreverá um capítulo da história do futebol nacional. Em Dublin, os portugueses sentem-se "orgulhosos" desta final, afirma Roberto Gomes (""It"s priceless", como dizem por aqui") mesmo que nem todos tenham (ainda) bilhete, mesmo que alguns não estejam na cidade nesse dia.

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