Fugas - Viagens

Poço de São Patrício

Poço de São Patrício Luís Maio

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Debaixo de Orvieto, a cidade que tem um duplo

Chama-se Pozzo della Cava e foi descoberto há 30 anos em obras efectuadas na cave pela família que, ainda hoje, habita a casa construída por cima. O poço esculpido pelos Etruscos é mais grosseiro e estreito (primeiro tem um diâmetro de 3,40 metros, depois a meio afunila para um rectângulo de 60 por 80 cm) que o seu substituto renascentista encomendado por Clemente VII. Mesmo assim exibe 36 metros de profundidade e contracena com outras atracções subterrâneas, incluindo uma cisterna e um par de túmulos etruscos, alternando com infra-estruturas medievais tais que um forno e mesmo uma lixeira escavada a uns bons 20 metros abaixo do solo.

O Poço da Cave também inclui um anexo usado para fabricar vinho, tema que pode ser mais bem explorado visitando o antigo mosteiro de San Giovanni, hoje também conhecido por Palazzo del Gusto. Além de sede internacional da CittàSlow (www.cittaslow.net, equivalente em termos de turismo urbano ao conceito de slow food), funciona como Enoteca da região uma das mais prestigiadas manchas vitivinícolas de Itália, da qual representa centena e meia de produtores. As caves em vários níveis remontam à época dos Etruscos, provando que no subsolo deste velho mosteiro se fabricam e armazenam vinhos há 3000 anos.

O problema da água, no entanto, só ficou definitivamente resolvido em meados do século XIX com o estabelecimento de um reservatório de água no ponto mais alto de Orvieto, a Torre del Moro, que data de finais do século XIII. Por cima do reservatório instalaram um relógio mecânico e sinos, pelos quais hoje se passa a caminho do torreão, que oferece vistas a 360 graus sobre a cidade e as vizinhanças. Depois do mergulho nas profundidades, esta visão em plano picado tem tanto de esclarecedor como de revigorante.

A catedral do Juízo Final

O Duomo é de tal modo espectacular que acaba por ofuscar as demais atracções de Orvieto. Começa pela majestosa fachada que alterna mármore travertino e basalto esverdeado, na mesma medida em articula todo o reportório formal do Gótico, época da sua primeira edificação. Tem óbvias semelhanças com a Catedral de Siena, de onde veio Lorenzo Maitani, o arquitecto com uma intervenção mais marcante na construção do edifício, desde 1308 até à sua morte, em 1330.

Foi Maitani quem estabilizou a fachada, ao mesmo tempo que a forrou com uma sequência de painéis em calcário uma fantástica banda desenhada, cunhada na pedra, que hoje está protegida por vidro tipo Plexiglas. Começa no Génesis (Eva é representada a sair de uma costela de Adão) até ao Juízo Final (um batalhão de serpentes justifica a expressão de horror estampada nos rostos dos condenados). Embora toda a literatura promocional coloque o acento na chancela medieval da catedral, a verdade é que o deslumbramento que produz é em boa parte função de acrescentos posteriores: os azulejos dourados que brilham feericamente ao sol do fim do dia foram adicionados entre os século XVII e XIX, enquanto os colossais portões em bronze com figuras femininas foram esculpidos pelo napolitano Emílio Greco em 1970.

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