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  • Drazen Grubisic, criador do museu. Na parede, uma citação do Livro do Desassossego de Bernardo Soares/Fernando Pessoa
    Drazen Grubisic, criador do museu. Na parede, uma citação do Livro do Desassossego de Bernardo Soares/Fernando Pessoa

O Museu dos Corações Partidos

Por Luís Maio (texto e fotos)

Nasceu, claro, de muito sofrimento amoroso. Agora este museu dedicado a relações amorosas que chegaram ao fim recebe milhares de visitas em Zagreb, na Croácia, e de vez em quando viaja pelo mundo. Luís Maio visitou-o quando começava a reunir amores aos pedacinhos.

O Museu dos Corações Partidos foi criado pelo artista plástico Drazen Grubisic e pela produtora de festivais Olinka Vistica, na ressaca de uma relação amorosa que se finou ao cabo de quatro anos. O projecto começou por ganhar forma num contentor repleto de tralha, colocado à entrada do salão anual do Sindicato Croata de Artistas, edição de 2006. 

Cada um dos despojos reunidos no contentor foi recolhido num lar desfeito. Explica Drazen Grubisic: "Começou como um projecto de arte que tinha em vista criar um espaço para as pessoas em situação de separação se desembaraçarem de objectos marcantes, que se tornam facilmente alvos de emoções negativas. Era para ser uma instalação efémera, mas logo os órgãos de informação pegaram na história e começámos a ter solicitações de vários pontos do mundo".

Promovido a exposição temporária, o Museu dos Corações Partidos passou por 14 cidades, incluindo Belgrado ou Singapura e Istambul e Londres, ao longo dos anos (e continua). Em todas as escalas da tour internacional, o ex-casal croata começa por colocar pequenos anúncios em jornais locais a pedir símbolos de felicidade quebrada. Seguem-se reuniões com os dadores, a recolha de objectos e das respectivas narrativas sem final feliz.

É desta classe de doações que se têm alimentado as exposições itinerantes, mas também a colecção permanente, um fundo que vai actualmente em 800 peças. Cerca de uma centena - uma espécie de best of - está em exposição no piso térreo de um palácio da Cidade Alta de Zagreb, desde Outubro de 2010. A instalação singular converteu-se assim em exposição temporária e agora permanente, ou seja, o Museu dos Corações Partidos tornou-se finalmente um museu propriamente dito.

"Descobrimos este espaço livre no centro histórico da cidade e conseguimos alugá-lo com dinheiro que pedimos emprestado a um amigo." "O edifício", recorda o curador, "estava em condições deploráveis e fui eu mesmo quem se ocupou do design e da maior parte das obras". A exposição segue uma lógica emotiva com núcleos temáticos dedicados ao Desejo e à Luxúria, à Fúria e à Raiva e ao Sofrimento.

Os objectos são expostos sob ténues luzes brancas, num dédalo de salas intimistas sempre acompanhados de legendas incluindo título, identificação da procedência e explicações do doador. Já a identidade destes fica por revelar, acrescenta Drazen: "Nunca quisemos que isto fosse um hall de celebridades. Se me perguntar se nós temos cá coisas de celebridades, respondo que sim, mas não serei eu quem as vai identificar. Isso seria cair numa armadilha comercial." Os mentores do Museu dos Corações Partidos não querem, e provavelmente também não precisam, de fazer compromissos mercantis. A ruptura sentimental do casal croata não lhes terá trazido felicidade, mas o seu fruto artístico ultrapassou em muito as expectativas. Podemos passar horas a inventariar causas para este sucesso instantâneo, mas o factor experiência é incontornável.

Drazen reflecte: "Há pessoas que pensam que é uma exposição para adolescentes, mas está longe de se reduzir a isso. Um adolescente de 15 anos que teve um namoro de uma semana pode achar piada, mas não aprecia realmente o que está em causa. Ao passo que alguém que tem, digamos, 65 anos de idade e teve uma experiência sentimental importante que acabou mal, dificilmente é capaz de ficar indiferente. As pessoas são as únicas criaturas que sentem empatia pelas outras e este é o local para o verificar. Não há mariquices conceptuais, isto não poderia ser mais directo".

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